O crescimento do turismo está a dinamizar o comércio de rua.
O crescimento do turismo está a dinamizar o comércio de rua. Leonardo Negrão

Rendas de lojas no centro de Lisboa disparam mais de 60%. No Porto, 183%

Turismo é o principal motor da aposta dos lojistas e restauração é líder de aberturas há oito anos consecutivos, diz estudo da CBRE. Com este aumento da procura, preço das rendas não parou de subir.
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O turismo está a provocar uma explosão no preço das rendas nas principais artérias de comércio de Lisboa e Porto. Nos últimos dez anos, o valor do metro quadrado na Rua Augusta, em Lisboa, subiu 65%, para 140 euros. No mesmo período, aumentou 61% na Rua Garrett, atingindo os 145 euros no final do primeiro trimestre deste ano. Na Avenida da Liberdade, local prime de lojas de maior dimensão, o crescimento foi de 25%, para 125 euros. Estes dados constam do estudo “Realizing potencial in retail”, da consultora imobiliária CBRE, que diz que, na última década, Lisboa passou de uma dinâmica de um turista por cada residente para três.

No Porto, o quadro - ajustado ao facto de ser a segunda cidade do país -, é semelhante. Na Rua de Santa Catarina (a principal artéria portuense de comércio de rua), o preço do metro quadrado explodiu 183%, atingindo os 85 euros. Na Avenida dos Aliados, aumentou mais de 82%, para 73 euros, e nos Clérigos subiu 80%, para 63 euros. Na Invicta, contam-se atualmente 2,6 turistas por cada residente, quase mais dois do que há uma década. E é este interesse externo pelo país que está a dinamizar o comércio de rua.

Para Carlos Récio, responsável pelo departamento de retalho na CBRE Portugal, “é inequívoco que o aumento exponencial do turismo impactou de uma forma muito positiva” as baixas de Lisboa e do Porto e, em particular, no caso da capital, “as zonas do Chiado, da Rua Augusta, que está cada vez mais mass-market e com preços das rendas a subir, mas também a Rua de Santa Catarina, o Mercado do Bolhão, no Porto e a própria zona ribeirinha do Porto”. Por outro lado, “a alteração da lei das rendas permitiu disponibilizar um conjunto de ativos ao mercado, que possibilitou a aquisição e a reabilitação dos mesmos, e isso introduziu produto novo” no setor do comércio, aponta.

Esta nova realidade “levou a que existisse uma maior procura e, como há ainda alguma escassez de produto, isso conduziu a um aumento das rendas. Como refere, verificou-se “uma maior adesão dos lojistas ao formato de comércio de rua e não tanto só aos centros comerciais”, e todo este quadro “potenciou o negócio na rua e a procura e, por consequência, as rendas das zonas comerciais”. Apesar desta subida, que reconhece “bastante acentuada”, os valores estão aquém daquilo que pode ser uma renda prime em Madrid ou em Barcelona. Na capital espanhola, os preços podem atingir 220/240 euros por metro quadrado, diz. Segundo o responsável, este indicador permite adivinhar uma contínua subida das rendas em Portugal nos próximos anos, mantendo-se a pressão da procura.

A restauração tem sido o setor estrela nas aberturas de rua. Segundo o estudo da CBRE, lidera há oito anos consecutivos. Nos primeiros três meses deste ano, foi responsável por 73% dos espaços que entraram em operação nas principais ruas de Lisboa. No Porto, representou 45%. Segundo Carlos Récio, “são cadeias internacionais, desde fast food a outras mais qualificadas, mas também grupos nacionais, que continuam a apostar na restauração e em particular no comércio de rua, como, por exemplo, o Plateform, com conceitos criados in-house e importados, ou o Food Collection”. Há também a destacar o investimento de grupos tradicionais como a Inditex, e setores que têm estado “bastante ativos, como o das óticas, ou das perfumarias” - neste último, destaca-se a entrada da Primor e mais recentemente da Druni, lembra Carlos Récio.

Novas apostas

Já num piscar de olho ao consumidor nacional, os operadores de retalho têm apostado na abertura de lojas em retails parks, um conceito de comércio que ganhou dinamismo com a pandemia devido a uma oferta de conveniência, em lojas de grande dimensão, com porta para a rua e estacionamento. Com o país coberto no que se refere aos tradicionais centros comerciais - há um total de 2,9 milhões de metros quadrados de área comercial em shoppings, diz o estudo da CBRE -, os promotores têm dirigido os seus investimentos para retail parks, formato que também está a captar as marcas low cost que estão a entrar no mercado, como a Tedi, Kik, Pepco ou Action.

Como realça Carlos Récio, não existe nenhum projeto de centro comercial a ser construído de raiz no país. Este formato vai ganhar mais 24.500 metros quadrados nos próximos anos em resultado da expansão do Colombo (a decorrer) e do Braga Parque (a obra deverá arrancar no último trimestre deste ano). Já no conceito retail park, há 126.400 metros quadrados em pipeline e estão em construção o City Center Covilhã e o Felgueiras Retail Park. No total, existem no país 625 mil metros quadrados de retail parks.

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