O número de queixas apresentadas à Polícia de Segurança Pública (PSP) e à Guarda Nacional Republicana (GNR) por burlas através da aplicação MB Way aumentou 6% no ano passado para um total conjunto de 4467, de acordo com os dados cedidos pelas duas autoridades ao DN. A GNR recebeu a maior fatia destas denúncias, cerca de 74%, totalizando 3303 queixas, o que representa uma subida de 25% face a 2023. Os número provisórios avançados pela GNR englobam não só as burlas diretas, mas visam também burlas realizadas através de sites ou aplicações informáticas, cuja transação pecuniária tenha sido feita através do MB Way. Numa leitura mais fina à informação estatística avançada pela GNR, conclui-se que em 2024 foi registado um recorde de denúncias, numa subida de 409% em comparação com 2019. O número de queixas continua a crescer exponencialmente a cada ano, mas, em sentido inverso, as detenções têm diminuído. Em 2024 a GNR fez apenas uma detenção no seguimento desta prática criminosa. Olhando para a linha temporal dos últimos seis anos, 2020 foi o ano que registou o maior pico de detenções (12), seguindo-se 2021 (9), 2019 (5) e 2022 e 2023 (ambos com 3 detenções).Numa análise ao mapa nacional, é nos distritos de Porto, Lisboa, Aveiro e Setúbal que este fenómeno criminal mais tem crescido.Já a PSP, que acompanha este tipo de crime desde 2019 através do Departamento de Investigação Criminal (DIC) no Núcleo de Análise Criminal, viu as queixas caírem 26% no ano passado. Entre janeiro e dezembro de 2024 foram formalizadas 1164 denúncias junto desta força de segurança. Os meses de maio, julho e setembro foram os que registaram o maior número de ocorrências. O DN questionou também a Polícia Judiciária, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição. .Sites de venda online são as vias mais comuns para a burla.A aplicação móvel MB Way, um serviço da SIBS, empresa responsável pela gestão das redes Multibanco, foi lançada em 2015 e conta, atualmente, com seis milhões de utilizadores e 10 milhões de cartões adicionados. Todos os meses são realizadas, em média, de acordo com a sociedade gestora, mais de 70 milhões de operações, incluindo compras físicas e online. O número de fraudes através da aplicação tem vindo a disparar sobretudo nas plataformas de compras pela Internet. A GNR detalha que a Marketplace, o OLX, a Wallapop e o CustoJusto são os sites mais utilizados pelos burlões. “A atuação dos suspeitos passa por aproveitar o desconhecimento das novas tecnologias de pagamentos e serviços e, de forma ardilosa, conseguir associar as contas bancárias das vítimas ao número de telemóvel utilizado pelo autor, ficando assim com o seu controlo através da aplicação”, refere a PSP. E não é preciso ser utilizador do MB Way para se cair nas malhas dos esquemas fraudulentos. A PSP esclarece que há dois modus operandi. No primeiro, os burlões contactam os vendedores que tenham colocado anúncios nas referidas plataformas, e, mostrando-se interessados na compra dos artigos, questionam a possibilidade de pagar através de MB Way. Caso o respetivo vendedor não esteja familiarizado com a aplicação, os burlões prontificam-se a explicar o procedimento a adotar. “Solicitam aos lesados que se desloquem a uma ATM e introduzam o seu cartão bancário, que selecionem a opção “MB Way” e insiram o número de telemóvel e um código indicado pelo suspeito, convencendo assim os lesados de que desta forma irão receber o dinheiro da transação na sua conta bancária. Sem se aperceberem, estão desta forma a associar o número de telemóvel do suspeito à sua conta bancária, permitindo o controlo da mesma através da aplicação. A partir deste momento, são efetuadas transferências bancárias, pagamentos de serviços e levantamentos em numerário nas ATM até que o saldo o permita”, explica a PSP.No segundo cenário mais comum, considerando as vítimas que já utilizam a aplicação, o burlão tenta que sejam gerados códigos de levantamentos de numerário em ATM, levando os lesados a acreditar que estão a dar uma referência de pagamento. Os criminosos podem insistir, também, para que lhes seja facultado o número de cartão multibanco bem como os respetivos códigos, o que leva a vítima a desassociar a sua conta bancária da sua aplicação MB Way e associá-la à do suspeito. Nestes casos, as vítimas apenas se apercebem de que foram burladas ao consultar o saldo bancário ou ao serem contactadas pela sua entidade bancária.A SIBS implementou já algumas alterações de forma a mitigar os casos de burla como a criação de avisos nos terminais Multibanco que alertam os utilizadores para não associarem números desconhecidos à conta MB Way ou a divulgação do nome associado à conta do destinatário no caso das transferências realizadas através desta aplicação. .Conselhos de Segurança da PSP e GNR na utilização do MB Way.•Tente sempre fazer os negócios de forma presencial se estiver na mesma área geográfica do vendedor/comprador;•Tente receber os pagamentos presencialmente ou através de transferência bancária;•Se não compreende o funcionamento da aplicação MB WAY, informe-se antes de a utilizar - para receber um pagamento por MBWay, apenas precisa de ter conhecimento do contacto telefónico do vendedor logo, se lhe forem solicitados outros dados ou códigos, suspenda imediatamente a transação que se encontre a efetuar;•Nunca siga instruções de desconhecidos;•Não utilize o contacto telefónico de terceiros para aderir à aplicação MBWay;•Nunca forneça dados confidenciais ou pessoais como resposta a mensagens de correio eletrónico, via SMS ou telefonicamente, mesmo que a origem da solicitação aparente ser legítima;•Os bancos não solicitam, telefonicamente ou por e-mail, que adicione à sua conta bancária um número de telemóvel que não é seu ou não conhece;•Caso seja contactado neste sentido e desconfie da legitimidade do contacto, deverá, de imediato, entrar em contacto com o seu banco;•Da mesma forma, nenhuma entidade legítima, como operadoras de comunicação ou de outros serviços, lhe poderá solicitar telefonicamente ou por e-mail, que adicione à sua conta bancária um número de telemóvel que não é seu ou não conhece. Em casos deste género, deverá de entrar em contacto com o seu banco;•Não siga ligações que recebeu em mensagens de correio electrónico ou via SMS.