Preço do calçado pode subir até 20% ou mais em 2025
O preço do calçado pode aumentar até 20% ou mais, em 2025. A taxa média de crescimento do consumo é de 7,6%, ligeiramente abaixo da projeção de 8,4% feita no último trimestre de 2024.
Estes são dados de mais um inquérito trimestral sobre as condições do negócio no setor do calçado, do World Foortwear, documento da responsabilidade da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), que vai já na sua 12ª edição.
O inquérito, que analisas coisas tão distintas como o contexto económico, a saúde dos negócios, o nível de emprego ou as principais dificuldades sentidas pelas empresas, recebeu mais de uma centena de respostas válidas, mais de metade das quais de industriais ou distribuidores de calçado de todo o mundo. Aliás, as respostas vindas da Ásia pesam 36%, de África 29% e da Europa 21%. Os norte e os sul-americanos pesam, respetivamente, 8% e 6% das respostas válidas e a Oceânia 1%.
Diz o relatório que, apesar do crescimento global previsto pelo Fundo Monetário Internacional ser de 2,8% para 2025, são esperadas "variações regionais notáveis" e que vão dos 6,2% de crescimento da economia indiana aos 0,8% da zona euro, passando pelo 4% da China e os 1,8% da economia americana, devido à incerteza gerada pelas tensões comerciais, as tarifas elevadas e a incerteza política.
Para o negócio do calçado, "estas diferenças significam que as oportunidades e os riscos de mercado variarão acentuadamente consoante a geografia. Apesar destas circunstâncias variadas, o sentimento geral é otimista", com a maioria dos inquiridos prever aumentos tanto nos volumes de venda como nos preços. A saúde geral dos negócios "deverá permanecer forte" e os níveis de emprego deverão evoluir "de forma positiva", indicando uma "confiança contínua na robustez" da indústria.
Assim, e de acordo com o inquérito, 58% dos empresários esperam um crescimento de vendas "forte" ou "muito forte" nos próximos seis meses, contra os 12% que antecipam dificuldades. No que ao emprego diz respeito, 46% das resposta apontam para uma estabilização, mas há 42% que acreditam que irão aumentar o seu quadro de pessoal.
Quanto aos preços, e apesar da inflação continuar a descer, destaca o relatório, 37% dos inquiridos apontam para um aumento moderado (1,5% a 5%), 21% esperam um aumento forte (5% a 20%) e 17% acreditam mesmo que o preços cresçam acima dos 20%. Dos restantes, 19% estimam uma estabilização de preços, enquanto 6% antecipam uma descida. Destes, só 2% apontam para uma descida acima dos 5%.
Em termos de volume, 63% dos empresários esperam que as vendas no seu país cresçam, sendo que 30% apostam num crescimento moderado, até 5%, e 21% antecipam que possa chegar aos 20%.
Globalmente, os especialistas antecipam então um aumento de 7,6% no consumo de calçado este ano, com África a crescer 14,9% e a Ásia 7,5%. Mais modestos são os aumentos projetados para a América do Norte (+3,9%) e Europa (+2,0%), e esperam-se quedas na América do Sul (-0,5%) e na Oceânia (-3,3%).
Quanto às principais dificuldades sentidas, volta a ser o custo das matérias-primas que mais preocupa, seguido da procura insuficiente e da competição no mercado interno. O tema das taxas e tarifas surge apenas no quarto lugar, numa tabela na qual constam questões como a falta de recursos humanos, as dificuldades financeiras, os obstáculos ao comércio internacional ou a falta de equipamentos adequados.
Questionados sobre a política tarifária de Donald Trump, uma novidade do inquérito, a maioria dos especialistas da indústria espera que tenham um impacto "predominantemente negativo", globalmente, no setor, nos próximos dois anos. Os entrevistados da América do Norte "são menos pessimistas do que os seus homólogos em outras partes do mundo".
Para a APICCAPS, os dados deste mais recente inquérito do World Footwear trazem alguma preocupação, em especial pelo facto de os mercados estratégicos do setor, os EUA e a Europa, serem precisamente aqueles que se prevê que tenham crescimentos "relativamente reduzidos". Por outro lado, o crescimento de 7,5% previsto na Ásia serve de alento. A associação tem vindo a apostar em novos mercados, como a Coreia do Sul e o Japão e acredita que esses esforço tem que ser aprofundado", diz o porta-voz Paulo Gonçalves.
Questionado sobre os mais recentes despedimentos do setor, com a Gabor, a maior empresa de calçado do país, a anunciar um despedimentos coletivo de 222 trabalhadores da sua fábrica em Barcelos, que se junta aos mais de 180 que a Ara Shoes despediu em Seia, há um ano, Paulo Gonçalves é perentório: "O setor criou cerca de 600 postos de trabalho no último ano. Claro que não deixa de ser preocupante que a maior empresa de calçado em Portugal esteja a despedir, mas tem, seguramente, a ver com a conjuntura na Alemanha, o nosso principal mercado externo, para o qual exportamos mais de 400 milhões de euros, e que tem tido um comportamento bastante modesto nos últimos três anos, com uma situação económica mais frágil do que aquilo a que estávamos habituados".
Por outro lado, recorda que, "de acordo com a Mckinsey, na área da moda, mais de 50% dos executivos estimam que vão dar prioridade ao nearshoring, ou seja, vão passar a produzir mais próximo dos centros de decisão". E Portugal pode aproveitar esse ímpeto, acredita, através dos dois investimentos que está a fazer ao abrigo do PRR, o Bioshoes4All, no âmbito da sustentabilidade, e o FAIST - Fábrica Ágil, Inteligente, Sustentável e Tecnológica, a nível da automação e da robótica.
"No âmbito do FAIST, estamos a ter novas soluções tecnológicas que estão a permitir que marcas internacionais nos considerem nos seus negócios e, de facto, estejam aqui a produzir", sublinha Paulo Gonçalves, em referência ao investimento de 15,3 milhões de euros da Sports Gear em Estarreja, grupo asiático que produz para marcas como a Nike e a Adidas.
O investimento do FAIST, da ordem dos 50 milhões de euros, permite, assim, ao setor chegar a novos mercados e novos públicos, designadamente às grandes marcas.
"Nós sempre sentimos um problema de dimensão nos Estados Unidos, porque tudo aqui é enorme. Mas com as linhas robotizadas e com a automação que acrescentamos às nossas empresas, conseguimos aumentar a nossa oferta e vamos, naturalmente, abrir oportunidades noutros segmentos de negócio", sustenta.
Paulo Gonçalves falou ao DN à margem da conferência 'Navigating global production upheaval' - em português, navegando na turbulência da produção global - que a APICCAPS realizou em Nova Iorque, em parceria com a Vogue Business, dando "a conhecer os investimentos que o setor está a fazer a nível tecnológico, bem como é que a indústria se está a adaptar para satisfazer as necessidades das marcas globais e dos mercados internacionais", pode ler-se no site da Vogue Business.