Primeiro-ministro, Luís Montenegro, reúne-se hoje com centrais sindicais e confederações patronais.
Primeiro-ministro, Luís Montenegro, reúne-se hoje com centrais sindicais e confederações patronais.Paulo Alexandrino/Global Imagens

Patrões defendem revisão da lei laboral, mas UGT traça linha vermelha

Parceiros sociais antecipam definição das linhas mestras do diálogo tripartido na reunião da Concertação Social de hoje. Espírito é de abertura, mas caderno de encargos está bem vincado na retoma das negociações.
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Após meses de interregno, o diálogo tripartido que molda as políticas laborais e económicas do país regressa hoje, com as confederações patronais e as centrais sindicais a reunirem-se pela primeira vez com o Executivo liderado por Luís Montenegro, na sede do Conselho Económico e Social, em Lisboa. Além das formalidades institucionais, os parceiros ouvidos pelo DN/Dinheiro Vivo esperam tomar conhecimento das prioridades do novo Governo, assegurando ir com um “espírito negocial aberto” para o encontro. Contudo, há quem já tenha traçado “linhas vermelhas”.

Em representação dos sindicatos, Mário Mourão, secretário-geral da União Geral de Trabalhadores (UGT), garante que a central sindical terá uma “postura de concertação” na reunião de hoje, embora não acredite que dela resultem propostas concretas. Não obstante, o responsável considera que o Acordo de Médio Prazo de Melhoria dos Rendimentos dos Salários e da Competitividade - vulgo Acordo de Rendimentos - deve servir de arranque para qualquer discussão, recordando a importância dos compromissos assumidos, “mesmo tendo sido estabelecidos com o anterior Executivo”.

“Se for para melhorar, cá estaremos para contribuir, tal como fizemos com o reforço no final do ano passado. Temos total disponibilidade”, salienta Mário Mourão, referindo-se ao documento assinado pelos parceiros com assento na Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS) a 7 de outubro - Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e CGTP ficaram de fora -, que estabeleceu o aumento do salário mínimo nacional para os 820 euros em 2024 e a subida do referencial para o crescimento dos restantes salários dos 4,8% anteriormente previstos para os 5%. “Uma das prioridades que o Governo deve ter é o referencial para a negociação coletiva”, tendo em vista o aumento dos ordenados médios em Portugal, aponta.

Mas é sobretudo na Agenda do Trabalho Digno, que introduziu um conjunto de 70 medidas ao Código do Trabalho (CT), que se encontram os limites. Perante a intenção anunciada pelo primeiro-ministro de “revisitar” esta agenda, o secretário-geral da UGT defende que “um ano é insuficiente para avaliar o seu impacto no mercado de trabalho”, especialmente considerando que “há matérias que ainda não foram regulamentadas”.

Apesar de compreender a necessidade de adequar a legislação de acordo com o programa governamental, Mário Mourão considera que iniciativas como a flexibilização dos despedimentos não configuram “soluções para combater a precariedade laboral”. 
“A UGT está disponível para debater alterações, desde que sejam para melhorar a estabilidade do mercado de trabalho”, sublinha o responsável. Quanto ao ponto anterior, é ressaltado que “qualquer acordo deve ser feito no âmbito da Concertação Social” e que a UGT não está disponível para integrar acordos feitos exclusivamente com os patrões:  “Um acordo deve equilibrar as necessidades de patrões e trabalhadores.”

Do lado dos patrões, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, prevê um momento-chave para definir as linhas mestras do diálogo social nos próximos tempos: “A expectativa que temos [para a reunião] é de que o Governo clarifique a sua visão, bem como o papel da Concertação Social e os temas que considera prioritários.”
Contrariamente à central sindical, o líder dos patrões do comércio concorda com a revisão da Agenda do Trabalho Digno, alegando a inconstitucionalidade de algumas alterações, como a limitação do recurso ao outsourcing  - esta preocupação, aliás, já tinha sido expres- sa pelas cinco entidades que integram o Conselho Nacional das Confederações Patronais (CNCP), num parecer enviado ao Presidente da República. 

Outro aspeto mencionado por Vieira Lopes é a busca por áreas onde o Executivo possa ponderar um eventual acordo, visando o aumento da competitividade das empresas e o crescimento económico do país. No âmbito do Acordo de Rendimentos, o presidente revela a abertura da confederação para contribuir para um possível alargamento: “É essencial incluir medidas orientadas para o crescimento económico e para a fiscalidade das empresas.”

Já Rafael Alves Rocha, diretor-geral da CIP, diz que é premente “avançar em conjunto para recuperar o tempo perdido” durante os meses em que este ponto de encontro foi suspenso devido às eleições. “O desenvolvimento do país, o reforço da nossa capacidade para criarmos riqueza e a urgência de sermos mais competitivos neste contexto global exige a todos - Governo, sindicatos e associações patronais - genuína abertura negocial, capacidade de diálogo e total disponibilidade para juntos encontrarmos iniciativas que realmente beneficiem a vida dos portugueses”, refere.

Em vez de se estabelecerem “linhas vermelhas”, nota ainda o dirigente, a abordagem dos parceiros sociais deve ser “construtiva, cooperante e solidária”, com foco na apresentação de soluções concretas para os problemas reais que existem, tanto a nível nacional como internacional.
Alertando, por fim, para a necessidade de se evitarem “contaminações partidárias na Concertação Social”, Alves Rocha considera ser imperativo o objetivo comum de melhorar a vida dos trabalhadores e das empresas que investem em Portugal.


mariana.dias@dinheirovivo.pt

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