OCDE. Força das exportações portuguesas colapsa arrastada pelas tarifas de Trump
A economia portuguesa deve crescer 1,9% este ano, bem menos do que prevê o governo (2,4%), mas, ainda assim, a nova previsão que consta do outlook da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) fica em linha com o projetado há seis meses.
Mas com uma mudança de fundo importante: o suposto motor e a força "sustentável" da economia, as exportações, iam crescer 3,3%, em termos reais (projeção de dezembro); agora, a previsão da OCDE aponta para uma expansão das vendas do país ao exterior (turismo incluído) de apenas 1,3%, menos de metade. O principal fator depressor é o agravamento das tarifas comerciais impostas pelo governo dos EUA, de Donald Trump.
A edição de junho das perspetivas económicas da OCDE que abrange as 30 economias mais ricas ou desenvolvidas do mundo, divulgada esta terça-feira, começa por dizer que, em Portugal, "o crédito às empresas e às famílias recuperou ao longo de 2024 e continuou a expandir-se no início de 2025, graças à flexibilização das condições financeiras [do BCE]".
"Em 2024, a balança corrente registou uma nova melhoria, com ganhos significativos nos termos de troca e um excedente comercial historicamente elevado."
Impacto indireto via parceiros europeus é relevante
No entanto, desde o início deste ano, a administração Trump encetou um ataque ao quadro de tarifas sobre os maiores parceiros comerciais, como os vizinhos Canadá e México, mas indo mais longe, até aos países da União Europeia e, em particular, à China.
Diz a OCDE que "os exportadores portugueses estão a enfrentar agora uma tarifa normal de 10% sobre bens por parte dos Estados Unidos, bem como tarifas específicas sobre o aço, o alumínio e a indústria automóvel".
"Embora as exportações diretas de bens e serviços para os Estados Unidos representem apenas 2,8% do PIB, Portugal enfrenta um enfraquecimento da procura externa dos seus principais parceiros comerciais europeus", alerta o novo estudo.
A Organização sediada em Paris prevê que "o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) português se mantenha em 1,9% em 2025 e 2026".
Espera ainda que "mercado de trabalho restritivo, aumentos do salário mínimo e o declínio de poupanças historicamente elevadas aumentem o consumo privado" e que "a implementação mais rápida do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) impulsione o investimento público e o consumo", equilibrando assim o previsível desaire no ritmo das exportações de Portugal, uma pequena economia aberta e altamente dependente do exterior, seja nas vendas, seja no investimento estrangeiro.
Excedente este ano, défice no próximo
A OCDE acrescenta que a política orçamental "deverá manter-se expansionista, prevendo-se uma flexibilização orçamental de cerca de 1,5% do PIB entre 2024 e 2026".
"As despesas provenientes das subvenções do PRR deverão aumentar de 0,7% do PIB em 2024 para 2,3% em 2025 e 1,7% em 2026, impulsionando o investimento e o consumo público sem afetar o saldo orçamental".
A entrega de excedentes orçamentais (a OCDE ainda acredita em 0,2% este ano, em linha com os 0,3% do governo) "reduzirá a dívida pública para 89,8% do PIB em 2026".
No próximo ano, sem novas políticas (isto é, projetando em 2026 as medidas atuais do Orçameno do Estado em vigor), o governo regressa ao défice público, na ordem de 0,3% do PIB.
Portugal "necessita de um crescimento sustentado da produtividade, um aumento do emprego e uma maior eficiência das despesas públicas para fazer face ao rápido envelhecimento da população e às necessidades significativas de investimento, nomeadamente em capital humano, mantendo simultaneamente a dívida pública numa trajetória de declínio acentuado", defende o clube dos países mais ricos do mundo.
O outlook elenca ainda um rol de impulsos decorrentes de haver mais despesa pública e menos receita fiscal. Diz que "a atividade económica será igualmente apoiada pelo aumento dos desembolsos dos empréstimos do PRR, pela subida dos salários públicos, pela indexação das prestações de reforma, por uma nova redução do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares e por reduções dos impostos sobre as empresas".
Em contrapartida, "o aumento dos impostos ambientais e os esforços para travar a evasão fiscal incrementarão as receitas públicas".
"Ao mesmo tempo, o salário mínimo subiu 6,1% em 2025 e um novo aumento previsto para 2026 aumentará os rendimentos das famílias".
A OCDE deixa, no entanto, este aviso: a previsão de "despesas públicas superiores às previstas, nomeadamente no domínio da defesa, podem aumentar a procura interna", mas "o aperto financeiro global e a elevada incerteza tendem a pesar mais sobre o investimento privado e a confiança, levando a menos crescimento e inflação".