Maria Luís Albuquerque, em Bruxelas.
Maria Luís Albuquerque, em Bruxelas.Foto: Parlamento Europeu

Maioria esmagadora de direita e PS aprovam Maria Luís como sexta comissária de Portugal

Parlamento Europeu. Albuquerque foi confirmada como nova comissária, com a tutela da valiosa área dos Assuntos Financeiros da Europa. Ganhou com uma maioria muito expressiva, mas esquerda foi muito dura na avaliação da ex-ministra e votou contra.
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Portugal teve, até hoje, cinco comissários europeus (seis se contarmos com o cargo de presidente da Comissão). Depois de vários meses de provas e debates, Maria Luís Albuquerque, a ex-ministra das Finanças do PSD, obteve a desejada confirmação por parte dos eurodeputados da Comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu (PE), ontem (quarta-feira) reunidos em Bruxelas.

De acordo com fontes da instituição, Albuquerque foi aprovada para o cargo de comissária para a poderosa e valiosa área dos Serviços Financeiros e da União de Poupança e Investimentos por uma clara e esmagadora maioria de direita, com a ajuda dos socialistas europeus, dos liberais e até da extrema-direita, como o Chega.

Terá reunido cerca de 90% dos votos em sede de comissão (51 dos 57 votos), mas não sem ser ferozmente criticada pela esquerda, designadamente PCP e BE, que votaram contra a nomeação da portuguesa.

Albuquerque é mais um nome nacional (e como os precedentes, ex-governante) a ocupar cargos máximos no Executivo europeu. Desta feita, integrará a equipa da presidente Ursula von der Leyen, que entra no seu segundo mandato à frente da CE.

Portugal na Comissão

António Cardoso e Cunha (PSD) foi o primeiro comissário português, nomeado em 1986 para a tutelar a área de Assuntos Marítimos e Pescas.

Seguiu-se João de Deus Pinheiro (PSD), que em 1993 assumiu a pasta da Cultura e Comunicação e depois as relações com África, Caraíbas e Pacífico.

Em 1999, ascenderia António Vitorino (PS), que tutelou os assuntos de Justiça e Internos até 2004.

Carlos Moedas (PSD) tornou-se comissário da Investigação, Ciência e Inovação, exercendo funções entre final de 2014 e 2019.

Finalmente, Elisa Ferreira (PS), foi comissária com a pasta da Coesão e Reformas (2019 a 2024).

Portugal teve ainda um presidente da CE: foi José Manuel Durão Barroso (PSD), que ocupou o cargo entre 2004 e 2014.

Eurodeputados explicam

Em declarações aos jornalistas portugueses em Bruxelas, Lídia Pereira (PSD) sublinhou a “competência e preparação” e a “experiência” de Maria Luís.

O PS, que meses antes esteve na dúvida sobre se apoiava ou não Albuquerque, lá votou a favor, como explicou o eurodeputado Francisco Assis, que elogiou a social-democrata pelo seu “compromisso com o reforço da supervisão e da regulação”.

Nos últimos meses, “houve uma alteração profunda em matéria de supervisão bancária, de supervisão dos sistemas financeiros, da regulação”, que explicam a mudança de opinião dos socialistas, segundo Assis.

Mas a vasta maioria de apoio a Albuquerque foi mais abrangente, tendo cativado a direita liberal e até a mais radical.

João Cotrim Figueiredo separou a contenda “política e ideológica” em torno do nome da ex-ministra das Finanças do seu “bom currículo” e “preparação”. “A audição de Albuquerque” ficou acima da média da dos restantes comissários”, atirou o deputado da Iniciativa Liberal.

António Tânger Corrêa, do Chega, também disse que votou a favor da comissária, relevando a sua “capacidade técnica”, apesar de a criticar também em muitos outros aspetos, que não têm propriamente a ver com a pasta dos Assuntos Financeiros.

Já a esquerda, atirou forte e feio. Na audição, Catarina Martins, do BE, foi muito dura com Maria Luís: “Estava a trabalhar para a Morgan Stanley e quer vir para a Comissão trabalhar em dossiês em que a Morgan Stanley é interessada, pelo que pergunto se há limite para o conflito de interesses e sejá sabe para que banco vai trabalhar a seguir.”

“Por exemplo, vai desenhar regras novas para os fundos de pensões privados”, vindo a própria da área financeira. A bloquista chamou-lhe “raposa no galinheiro”. Votou contra, claro.

João Oliveira, do PCP, foi muito crítico também, chumbou o nome de Albuquerque, dizendo que comissária “dará mais poder aos banqueiros”, “não serve os interesses dos povos europeus.

No seu caderno de encargos, Albuquerque vai ter a construção de uma união de poupança entre os 27 países e harmonizar regras nos fundos de pensões privados, tentar avançar mais ou mesmo concluir a união bancária, lutar contra o branqueamento de capitais (e o financiamento de terrorismo através do narcotráfico e tráfico humano) e alargar a literacia financeira dos europeus.

*Em Bruxelas. O jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu.

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