Lagarde mantém juros perto de máximos e volta a culpar salários pela inflação alta
As taxas de juro centrais da Zona Euro, definidas pelo Banco Central Europeu (BCE), vão manter-se perto de níveis máximos históricos por mais dois meses, isto se a previsão da maioria dos analistas estiver correta, a que aponta para uma pequena descida de 0,25 pontos percentuais na reunião do próximo mês de setembro, dia 12.
Na reunião desta quinta-feira, a última antes das férias grandes, o BCE decidiu, como já era esperado, manter o custo do crédito perto de máximos históricos.
Christine Lagarde, a presidente do Banco, voltou a dizer que a inflação está para além do admissível e apontou novamente o dedo aos salários e aos aumentos de preços no setor dos serviços, por exemplo. Valeram as empresas da Zona Euro, que no cômputo geral, registaram uma contração nos lucros, uma ajuda decisiva para aplacar a subida da inflação nesta fase do ciclo, elogiou Lagarde.
Mas porque o perigo da inflação não passou, o BCE decidiu “manter as três taxas de juro diretoras inalteradas”.
A taxa de juro aplicada aos depósitos que os bancos comerciais fazem no BCE, o corredor principal para acederem aos fundos da banca central (e que é hoje a principal taxa de referência para efeitos de política monetária) ficou em 3,75%.
O BCE explica que “embora algumas medidas da inflação subjacente tenham subido um pouco em maio, devido a fatores pontuais, a maioria das medidas permaneceu estável ou desceu ligeiramente em junho”.
Lagarde volta a culpar excessos nos salários
Como já fez no passado recente, na altura em 2022 e 2023, na altura em que a inflação estava descontrolada e tornou-se uma grande dor de cabeça, Lagarde torna a fazer alvo sobre os salários que, no seu entender, no atual ponto em que estamos da conjuntura, são uma fonte evidente de inflação indesejada.
“A inflação interna continua a ser alta. Os salários ainda estão a subir a um ritmo elevado para compensar o anterior período de inflação alta. A par de uma produtividade fraca, os salários nominais mais altos contribuíram para o crescimento dos custos unitários do trabalho, apesar de este ter desacelerado um pouco no primeiro trimestre do ano”, disse a líder do BCE.
E continuou o aviso, dizendo que “devido ao caráter faseado dos ajustamentos salariais e ao grande contributo dos pagamentos pontuais, é provável que o crescimento dos custos do trabalho permaneça elevado no curto prazo”.
Mas isto é agora, porque mais adiante, espera a antiga chefe do FMI, o ritmo dos salários da zona euro vai enfraquecer. Segundo a ex-ministra das Finanças de França, “dados recentes relativos à remuneração por trabalhador têm estado em conformidade com as expectativas e os últimos indicadores baseados em inquéritos sinalizam que o crescimento dos salários registará uma moderação no decurso do próximo ano”.
Acresce ainda que “os lucros registaram uma contração no primeiro trimestre, ajudando a neutralizar os efeitos inflacionistas dos custos unitários do trabalho mais elevados, e a evidência proporcionada por inquéritos aponta para uma continuação da diminuição dos lucros no curto prazo”, diz a banqueira central.
Assim, “a inflação deverá oscilar em torno dos níveis atuais durante o resto do ano, em parte devido a efeitos de base relacionados com os produtos energéticos” e depois disso “durante o segundo semestre do próximo ano, deverá baixar no sentido do nosso objetivo, devido ao crescimento mais fraco dos custos do trabalho, aos efeitos da política monetária restritiva”.
Ao não fazer nada na reunião de ontem, o BCE deixa o nível de juros de referência da Zona Euro apenas 0,25 pontos percentuais abaixo do valor mais elevado de que há registo na história da moeda única.
A taxa de depósito atingiu esse máximo (4%) em setembro do ano passado, nível de aperto que foi mantido por nove meses, até ao passado mês de junho, quando a autoridade aliviou um pouco a pressão dos juros para 3,75%.
Segundo o departamento de estudos do grupo BPI, “as expectativas dos mercados apontam para uma ligeira flexibilização da política monetária, com mais dois cortes no que resta de 2024 (setembro e dezembro)”, “levando a taxa de depósito para 3,25% em dezembro de 2024 e 2,75% no final de 2025”.