Portugal deverá realizar das maiores consolidações orçamentais (em percentagem do PIB - Produto Interno Bruto) nos próximos cinco a seis anos no grupo dos denominados países avançados ou ricos, indicam cálculos do DN a partir das bases de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas esta terça-feira no âmbito do estudo sobre as Perspetivas Económicas Mundiais (World Economic Outlook)..Hoje, Vítor Gaspar, o diretor do departamento de Assuntos Orçamentais, irá dissecar com mais detalhe as tendências da política pública na Europa e nas restantes regiões do globo e deixar as habituais recomendações, usando como base as novas previsões inscritas no Outlook..No caso de Portugal, o quadro repete quase na íntegra as conclusões da missão que veio ao País (no âmbito do Artigo IV), reveladas há cerca de três semanas..Segundo o FMI, num cenário de políticas invariantes, isto é, em que o País não aprova novas medidas daqui em diante, mantendo-se assim num género de velocidade de cruzeiro guiado pelas políticas atualmente em vigor, Portugal vai, ainda assim, obter dos maiores apertos no saldo público (entrega de excedentes sucessivos) no grupo dos 41 países mais avançados do mundo considerados pelo FMI..Os cálculos mostram que terá a terceira maior consolidação entre 2024 e 2029 no grupo da Zona Euro (apenas superado por Chipre e Irlanda)..No grupo dos 41, a consolidação orçamental portuguesa é a nona maior. O pódio dos maiores esforços excedentários cabem a Macau (região administrativa da China), Noruega e Singapura..O FMI está a contar que, entre 2024 e 2029, Portugal entregue saldos positivos nas contas públicas equivalentes a 0,2% do PIB por ano, o que, em termos acumulados, permitirá gerar qualquer coisa como 4,2 mil milhões de euros em excedentes nos próximos cinco a seis anos..Esta verba servirá essencialmente usada abater à dívida pública, isto é, para pagar mais depressa aos credores..Assim, as bases de dados do FMI também revelam que a descida do rácio da dívida portuguesa é a terceira mais veloz do mundo rico. Até 2029, Portugal pode conseguir diminuir o peso da dívida para perto de 76% do PIB no fim do referido horizonte de projeção..Mesmo assim, ainda falta um bocado para chegar aos 60% exigidos pelo Pacto de Estabilidade..As maiores reduções previstas pela instituição dirigida pela economista búlgara, Kristalina Georgieva, serão as da Grécia (menos 29,5% do PIB) e Chipre (menos 28,2% do PIB)..Convergência no meio de grandes problemas.A economia portuguesa parece estar a aguentar o embate da crise e estagnação europeia e internacional neste ano e no próximo, de acordo com as novas previsões do Fundo..Embora o ambiente geral aponte para um abrandamento quase generalizado, dentro e fora de portas na Europa, mas onde, sublinha o FMI, a inflação parece ter sido domada, Portugal continua a convergir em termos reais com a média da Zona Euro, crescendo 1,9% este ano e 2,3% no próximo. Compara com um avanço previsto de apenas 0,8% e 1,2% na Zona Euro, respetivamente..Ou seja, Portugal consegue crescer ao dobro do ritmo da região monetária à qual pertence. Mais até do que espera o governo na proposta de Orçamento do Estado para 2025 (1,8% este ano, 2,1% no próximo)..Razia na Zona Euro.Como referido, a Zona Euro não está fora de perigo. Pelo contrário. A maior economia e força motriz da Europa, a Alemanha, perdeu 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) real em 2023; em 2024, estagna (0%), podendo recuperar 0,8% em 2025, projeta o FMI..Aliás, o crescimento alemão foi revisto fortemente em baixa, levando um corte de 0,2 pontos percentuais (p.p.) em 2024 e de 0,5 pontos em 2025 face ao outlook intercalar de julho..França, que atualmente está em vias de aprovar um Orçamento do Estado que marcará o regresso a uma austeridade sem paralelo desde a crise do euro, deve manter-se num planalto de crescimento de 1,1% entre 2023 e 2025..Espanha, o maior parceiro económico de Portugal, aguenta-se, mas abranda de 2,7% este ano até 2,1% no próximo..De acordo com um levantamento do DN, num grupo diverso de quase 40 economias selecionadas pelo FMI (Zona Euro, Turquia, Islândia, Rússia, Ucrânia), em 2024, Portugal surge em 13º lugar, portanto, claramente na primeira metade do ranking..Back to 2008?.O ambiente global marcado por fatores geopolíticos graves e em crescendo - como as várias guerras atualmente em curso (a guerra entre Israel e vários vizinhos do Médio Oriente, a guerra da Rússia/Ucrânia) ou "disputas comerciais" sérias - é algo que, por enquanto, não se está a refletir em mais e muita "volatilidade" nos mercados financeiros, o que, no entender do FMI, é mau sinal, "preocupa bastante"..A instituição de Washington teme que algo se esteja a acumular e a ganhar força. Segundo outro estudo sobre o sistema financeiro, também divulgado com o outlook, o FMI sinaliza que se estão a acumular pressões cada vez maiores que, não sendo abordadas e travadas pelos responsáveis financeiros e políticos, podem acabar em novas explosões financeiras, em choques até devastadores como no passado recente..O Fundo recordou inclusive 2008, ano de má memória e de início da grande crise financeira global, a partir da falência estrondosa do Lehman Brothers), acenando que tais pressões e vulnerabilidades podem alimentar, a prazo, movimentos de grande desvalorização de ativos financeiros ("sell-offs").."A nossa preocupação é que existe uma desconexão entre o aumento da incerteza – especialmente relacionada com o aumento dos riscos geopolíticos – e a volatilidade dos mercados financeiros", observa o FMI..Por exemplo, "uma medida padronizada de volatilidade anda muito abaixo das medidas do risco geopolítico". No entender do FMI, "isto indica que os preços dos ativos podem não estar a refletir totalmente o impacto potencial das guerras e das disputas comerciais".."Nós já vimos antes um aumento de vulnerabilidades, sobretudo antes da crise financeira mundial de 2008. A acumulação geralmente é gradual, o que deverá dar tempo aos decisores políticos para se ajustarem", espera o FMI.