FMI. Portugal consegue convergir com a Zona Euro e descer no ranking do desemprego

FMI. Portugal consegue convergir com a Zona Euro e descer no ranking do desemprego

Já a força motriz da Europa, a Alemanha, sofre das maiores revisões em baixa no crescimento face ao outlook de julho. Depois de quebrar 0,3% no ano passado, em 2024, estagna (0%), recuperando apenas 0,8% em 2025. Crescimento de Espanha abranda, mas aguenta-se acima de 2%.
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A economia portuguesa parece estar a aguentar o embate da crise e estagnação europeia e internacional neste ano e no próximo, de acordo com as novas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas esta terça-feira, no Panorama Económico Mundial (World Economic Outlook).

Embora o ambiente geral aponte para um abrandamento quase generalizado, dentro e fora de portas na Europa, mas onde, sublinha o FMI, a inflação parece ter sido domada, Portugal continua a convergir em termos reais com a média da Zona Euro, crescendo 1,9% este ano e 2,3% no próximo. Compara com um avanço previsto de apenas 0,8% e 1,2% na Zona Euro, respetivamente.

Ou seja, Portugal consegue deve conseguir crescer ao dobro do ritmo da região monetária à qual pertence. E até mais do que prevê o governo e o Ministério das Finanças, que no Orçamento do Estado aponta para uma expansão de 1,8% este ano e 2,1% no próximo.

Razia na Zona Euro

Como referido, a Zona Euro não aparenta estar fora de perigo. Pelo contrário. A maior economia e força motriz da Europa, a Alemanha, perdeu 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) real em 2023; em 2024, estagna (0%), podendo recuperar 0,8% em 2025, projeta o Fundo dirigido por Kristalina Georgieva no novo estudo (outlook), que cobre as mais de 190 economias e territórios do mundo.

Aliás, o crescimento alemão foi revisto fortemente em baixa, levando um corte de 0,2 pontos percentuais (p.p.) em 2024 e de 0,5 pontos em 2025 face ao outlook intercalar de julho.

No ano que vem, trata-se mesmo da maior despromoção entre o grupo das principais economias ditas avançadas face há três meses, mostra o FMI.

França, que atualmente está em vias de aprovar um Orçamento do Estado que marcará o regresso a uma austeridade sem paralelo desde a crise do euro, deve manter-se num planalto de crescimento de 1,1% entre 2023 e 2025.

O planalto de Itália, a terceira maior economia (depois de França), é ainda mais baixo, com um ritmo de crescimento económico real que não irá além de 0,7% ou 0,8% no ano que vem, diz a instituição de Washington.

Espanha, o maior parceiro económico de Portugal, aguenta-se, mas abranda um pouco, de 2,7% de crescimento do PIB no ano passado, até 2,1% no próximo.

De acordo com um levantamento feito pelo DN, num grupo muito diverso de quase 40 economias selecionadas pelo FMI (da Zona Euro, passando pela Turquia Islândia, Rússia ou mesmo Ucrânia), em 2024, Portugal surge em 13º lugar, portanto, claramente na primeira metade do ranking do crescimento do PIB estimado. Em 2025, desce uma posição, apenas.

Este grupo de quatro dezenas de países é liderado por Malta e Sérvia, com crescimentos na ordem dos 4% a 5%, em termos reais.

Áustria e Estónia têm os piores registos este ano (quebras de 0,6% e 0,9%, respetivamente).

No próximo ano, no grupo dos 40, as lanternas vermelhas serão Alemanha e Itália, ambos com uma expansão que não irá além de 0,8%.

Desemprego ainda pode aliviar

Em Portugal, um país bastante dependente da procura externa, do turismo e do investimento estrangeiro, o peso do desemprego, ainda assim, deve responder positivamente, segundo o novo estudo do antigo credor do país.

Não sendo o nível de desemprego mais baixo do grupo muito diverso de países escolhidos pelo FMI na apresentação do outlook, a economia portuguesa pode registar uma taxa de desemprego média anual equivalente a 6,5% da população ativa este ano, menos um décima do que em 2023.

E em políticas invariantes (se nada mais fosse feito daqui em diante), a tendência seria até para um novo e ligeiro alívio, para 6,4% em 2025, com o país a descer no ranking do desemprego.

Em 2024, casos mais elevados de desemprego acontecem em Espanha (11,6%), Grécia (10,5%), Finlândia (8,3%), França (7,4%) ou Itália (7%), só para citar exemplos de referência na área da moeda única, assumindo como boas as novas estimativas do FMI.

Pierre-Olivier Gourinchas, o economista-chefe do FMI, explica que "o regresso da inflação a um nível próximo das metas dos bancos centrais [2%] abre caminho a um triplo pivô de políticas".

"Isto proporciona a necessária margem de manobra macroeconómica, numa altura em que os riscos e os desafios se mantêm elevados. O primeiro pivô – a política monetária – já está em curso. Desde junho, os principais bancos centrais das economias avançadas começaram a reduzir as taxas directoras, avançando para uma posição neutra".

Segundo Gourinchas, o corte nos juros "apoiará a atividade económica numa altura em que os mercados de trabalho de muitas economias avançadas mostram sinais de arrefecimento, com taxas de desemprego crescentes". Para o economista do Fundo, "o aumento do desemprego tem sido gradual", embora "não aponte para um abrandamento iminente".

Depois há mais dois vetores de prioridades, segundo o alto responsável da instituição sediada em Washington.

"O segundo pivô é a política orçamental". Depois de anos de política orçamental expansionista (por causa da pandemia e da inflação, por exemplo), "em muitos países, é agora altura de estabilizar a dinâmica da dívida e reconstruir as tão necessárias reservas orçamentais", pede o FMI.

"O terceiro pivô – o mais difícil – vai no sentido das reformas". "É preciso fazer muito mais para melhorar as perspetivas de crescimento e aumentar a produtividade; só assim podemos enfrentar os muitos desafios que enfrentamos: reconstruir as reservas orçamentais; lidar com o envelhecimento e a diminuição da população", "enfrentar a transição climática", "melhorar a vida dos mais vulneráveis", afirma o economista-chefe na apresentação do novo outlook económico.

"Infelizmente", remata Pierre-Olivier Gourinchas, "as perspetivas de crescimento [mundiais] para os próximos cinco anos continuam fracas, nos 3,1%, o nível mais baixo em décadas".

"Grande parte desta situação reflete as perspetivas mais fracas da China e, a médio prazo, de outras regiões, como América Latina e União Europeia, onde o outlook também piorou", lamenta o alto responsável do FMI.

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