CE tinha quase tudo pronto para Trump, mas assim aproveita até 1 de agosto para afinar proposta das tarifas
A Comissão Europeia (CE) diz que tinha uma proposta de acordo para entregar aos Estados Unidos nesta quarta-feira 9, dia em que expirava o prazo dado pelo Presidente norte-americano para a Europa e todas as outras economias do globo responderem ao anúncio das tarifas recíprocas feito em abril por Donald Trump. Mas entretanto, eis que na reta da meta, Trump resolveu dar mais três semanas. As tarifas não começam a ser cobradas no dia 9 de julho, mas sim a 1 de agosto.
Na segunda-feira, o Chefe de Estado dos EUA resolveu, ao mesmo tempo que ameaçou 14 países com tarifas de 25% a 40%, dar mais três semanas, até 1 de agosto, para os países negociarem e chegarem a uma soluções de acordos comerciais que agradem aos EUA e, no limite, que podem implicar tarifas muito mais reduzidas, em alguns casos, acordos "sem tarifas", escreveu Trump nas cartas que enviou a 14 chefes de estado, incluíndo Japão e Coreia do Sul. A União Europeia (UE) não foi ainda notificada por missiva, até ao momento Trump não publicou mais imagens de cartas desse teor na sua rede social Truth.
Certo é que agora o prazo foi adiado cerca de três semanas e Bruxelas afirma que vai aproveitar este tempo extra para melhorar questões técnicas na proposta que irá fazer à Casa Branca.
Na conferência de imprensa que se seguiu ao conselho europeu de ministros das Finanças e da Economia da UE, o comissário europeu da Economia, Valdis Dombrovskis, referiu que "temos estado a trabalhar tendo em mente o prazo de 9 de julho, mas ao que parece os Estados Unidos adiaram agora o prazo para 1 de agosto o que nos dá pouco mais de tempo".
Seja como for, o comissário deu a entender que o grosso do trabalho – o acordo de princípio – está feito e que a partir de agora será para melhorar questões de minúcia, mais técnicas, e que Bruxelas pretende encerrar este assunto "antes de 1 de agosto"
"Na semana passada, tivemos duas negociações para o acordo de princípio e foram feitos progressos nesse sentido", revelou Dombrovskis.
Mas assim, "vamos prosseguir as negociações políticas e técnicas sobre a matéria de fundo".
"A economia europeia tem mostrado resiliência, mas as perspetivas estão a ser ensombradas pela incerteza política, incluindo a questão das tarifas americanas".
Seja como for, o comissário europeu diz que, apesar de o prazo para a imposição de tarifas ter sido estendido até 1 de agosto, "as negociações entre a UE e os EUA continuam a nível político e técnico para chegarmos a um acordo antes disso".
Para Bruxelas, "quanto mais depressa chegarmos a um acordo, melhor, porque elimina-se a incerteza em torno destas questões aduaneiras”, acrescentou o ex-primeiro-ministro da Letónia.
A ideia é evitar uma nova escalada da tensão comercial, como aconteceu no final de março e sobretudo depois dos anúncios de Trump de dia 2 de abril, o "da libertação", nome de batismo dado pelo empresário e líder republicano.
Esse clima de hostilidade comercial entre EUA e grandes parceiros comerciais, como a UE (o maior), Japão e China, "está a afetar a economia e também as decisões de investimento das empresas", avisou o alto responsável do executivo de Bruxelas.
Trump começou o ataque na primavera
No início da primavera de 2025, Trump abriu fogo sobre a maioria dos países do mundo, ameaçando-os com tarifas brutais sobre as suas exportações para os EUA.
No caso da Europa, o primeiro golpe foi a imposição de taxas de 25% sobre aço, alumínio e automóveis europeus, que estão em vigor.
Depois, Trump ameaçou com tarifas de 20% a 50% (as "recíprocas") sobre todos os restantes produtos procedentes da Europa, mas esta medida ficou em pausa até 9 de julho, tendo o prazo sido estendido agora até 1 de agosto, como referido.
A maior relação bilateral do mundo
Segundo dados oficiais da UE e da CE (Eurostat), "a União Europeia e os Estados Unidos têm a maior relação bilateral de comércio e investimento e a relação económica mais integrada do mundo".
"Juntos, representam quase 30% do comércio de mercadorias e serviços a nível mundial e 43 % do Produto Interno Bruto (PIB) mundial", sendo que "em 2024, o comércio transatlântico de mercadorias e serviços ultrapassou 1,68 biliões [milhões de milhões] de euros".
Em 2024, o comércio combinado de mercadorias entre UE e EUA "ascendeu a 867 mil milhões de euros", valor que "quase duplicou nos últimos 10 anos", refere a CE num estudo sobre a relação bilateral.
A Europa exportou, só em 2024, mais de 532 mil milhões de euros em mercadorias, mas só importou 335 mil milhões de euros, o que configura uma posição deficitária para os EUA, que é justamente uma das irritações e queixas de Trump em relação à UE.
Nas exportações da UE, os EUA são o principal mercado de destino, comprando quase 21% do total de mercadorias europeias expedidas para o exterior.
Nas importações para a UE, os EUA são o segundo maior fornecedor, com 14% da quota do mercado europeu, ultrapassados apenas pela China, país de onde procedem 21% das importações totais europeias, diz o mesmo estudo publicado há menos de um mês.
As principais mercadorias exportadas da UE para os EUA, que representam cerca de metade do total anual expedido, foram "produtos médicos e farmacêuticos", "veículos rodoviários" e "máquinas e equipamentos industriais", indica o Eurostat.
No ano passado, os principais produtos importados dos EUA para a UE foram "produtos petrolíferos e materiais conexos [como plásticos e polímeros]", "produtos médicos e farmacêuticos" e "geradores, motores e equipamento relacionado".