Setúbal passará a ser o destino da maioria dos comboios que atravessam a Ponte 25 de Abril. A partir de 15 de dezembro, a Fertagus vai fazer a maior transformação dos horários nas últimas duas décadas, com a cidade sadina a receber comboios a cada 20 minutos de segunda a domingo. A empresa do grupo Barraqueiro vai apostar em maior frequência em detrimento do número de lugares por comboio. Foi a solução encontrada tendo em conta que não é possível reforçar o material circulante debaixo da atual parceria público-privada (PPP)..“O reforço da oferta para Setúbal resulta do crescimento significativo da procura a sul de Coina, cujas estações têm menor oferta desde o início da operação”, refere ao DN fonte oficial da Fertagus. A situação “foi potenciada” pela introdução dos passes municipais a 30 euros e do título metropolitano, a 40 euros, desde abril de 2019. Desde essa altura que a empresa ferroviária passou a aceitar passes intermodais, recebendo a devida compensação..Não podendo reforçar o parque de 18 automotoras com quatro carruagens cada – tal implica, à cabeça, uma notificação com pelo menos dois anos de antecedência –, a concessionária tem tentado ajustar a oferta ao forte aumento da procura. Logo após a introdução dos passes, retirou lugares sentados dos comboios para aumentar a lotação. Atualmente, cada comboio comporta um total de 1210 lugares (822 em pé e 388 sentados), o que equivale a 15 autocarros padrão de 80 lugares..Nas horas de ponta, a empresa também apostou em comboios duplos (duas automotoras acopladas), oferecendo um total de 2420 lugares por viagem. Por agora, dos 73 comboios por sentido nos dias úteis, há 32 serviços duplos entre Roma-Areeiro, Coina, Fogueteiro e Setúbal e há 27 no sentido contrário, segundo os horários da empresa. A partir de 15 de dezembro, haverá 79 comboios de Roma-Areeiro para Coina e Setúbal e 77 na direção oposta. As viagens com duas unidades vão baixar para 30 e 29, respetivamente. A mudança dos horários também implica o fim das duas partidas diárias do Fogueteiro..A Fertagus vai pôr à prova a sua frota com os novos horários, porque nas horas de ponta vai usar ainda mais 17 das 18 automotoras ao serviço. Haverá um aumento de 28% no número de quilómetros percorridos, que serão mais exigentes. Também foi preciso contratar maquinistas para assegurar a maior frequência de comboios. A empresa também terá de pagar mais taxa de uso da linha ferroviária, que é cobrada por cada viagem pela Infraestruturas de Portugal, independentemente do comprimento dos comboios..Exigente também é o tempo de inversão do sentido dos comboios, que irá manter-se nos 7 minutos na linha 3 da estação de Roma-Areeiro, em Coina e Setúbal. Aliada à impossibilidade de reforçar o material circulante, a situação inviabiliza, para já, o prolongamento do serviço da Fertagus ao apeadeiro de Praias do Sado, junto ao Instituto Politécnico de Setúbal, polo gerador de procura, defendido pelo presidente da câmara de Setúbal. .Ao fim de semana e fora das horas de ponta, a Fertagus terá oito comboios em operação. Aos sábados, domingos e feriados, o número de comboios por sentido aumentará de 37 para 52, com Setúbal como destino de praticamente todas as ligações..A mudança nos horários da Fertagus vai ocorrer três meses depois de a empresa ter conseguido a terceira prorrogação da PPP junto do Estado. Em setembro, o Conselho de Ministros aprovou o prolongamento do contrato de concessão até 31 de março de 2031, ao abrigo de um acordo de reposição do equilíbrio financeiro que tinha sido pedido em janeiro de 2023 pela empresa do grupo Barraqueiro. A transportadora queria uma prorrogação do contrato por 11 anos..Em causa, estavam os efeitos do confinamento da Covid-19 em março e abril de 2020. Apesar de o decreto presidencial do estado de emergência prever a suspensão da reposição do equilíbrio financeiro, mesmo em PPP, o diploma abria uma exceção, com a reposição através da prorrogação dos contratos..Esta foi a terceira renegociação do contrato da Fertagus, que começou a operar o comboio da Ponte 25 de Abril em julho de 1999, com um contrato de 30 anos. No entanto, a primeira alteração surgiu em 2005, por conta da utilização abaixo do previsto: após dois anos de conversações, o contrato foi encurtado para durar até 2010, mantendo a empresa o direito a receber compensação do Estado..A partir de 2005, o Estado, através da empresa Sagesecur, passou a ser o proprietário dos 18 comboios da Fertagus (iguais aos comboios de dois pisos dos suburbanos da CP nas linhas de Sintra e Azambuja), que tem de pagar uma renda anual para utilizar o material circulante. Também nesse ano ficou estabelecido que a Fertagus poderia comandar a operação até ao final de 2019 mas sem receber pagamento público..A opção de prolongamento foi acionada mas não muito tempo depois Fertagus e o Estado voltaram a negociar, a partir de 2012: a concessionária sentiu-se penalizada pelo aumento do valor da tarifa de utilização das linhas de comboio, que foi determinado pela então Refer (e atual IP) em dezembro de 2011 e que não estava previsto no contrato. Os anos passaram e o valor em dívida da taxa de utilização atingiu os 7,6 milhões de euros..Depois de sete anos de conversações, em vez de o Estado pagar à empresa que gere as linhas de comboio, chegou-se a acordo, em dezembro de 2019, para prolongar a concessão por mais quatro anos e nove meses, até 30 de setembro de 2024. Em setembro deste ano, o contrato foi novamente prorrogado. Com esta decisão, a Fertagus vai operar o comboio da Ponte 25 de Abril até 2031, mais dois anos do que previa o contrato de concessão inicial, de 1999.