A CEO do grupo Sonae, Cláudia Azevedo
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Cláudia Azevedo diz que 2025 é "um ano perdido" para Portugal e pede aos políticos que se foquem em governar

Para a CEO da Sonae, os portugueses "estão um bocado fartos" das polémicas que envolvem os políticos, e fala em "casos que não acrescentam valor nenhum à sociedade".
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A presidente executiva do grupo Sonae lamenta que 2025 seja "um ano perdido para Portugal", com as eleições legislativas antecipadas, em maio, e as autárquicas no final do ano. Cláudia Azevedo considera que os desafios com que o país se defronta "são grandes e precisam de um entendimento entre os partidos para serem resolvidos, pelo que, defende, "é muito importante os políticos focarem-se nas pessoas, e nas suas necessidades, e não nos pequenos casos que não acrescentam valor nenhum à sociedade".

Esta responsável respondia às questões dos jornalistas, à margem da sessão de apresentação de contas do grupo, relativas a 2024, um "ano marcante", não só pelos 65 anos que a Sonae celebrou, mas também pelos números dos negócios e do investimento. A Sonae fechou 2024 com um volume de negócios consolidado de quase 10 mil milhões de euros, uma rentabilidade operacional de mil milhões de euros e mais de 57 mil colaboradores em todo o mundo. Quanto ao investimento, atingiu o "valor recorde" de quase 1600 milhões de euros.

Na sessão de perguntas e respostas, Cláudia Azevedo lembrou que, há um ano, quando apresentou as contas de 2023, Portugal tinha um novo Governo, acabado de formar, e que, já então, questionada pelos jornalistas, sublinhara a necessidade dos políticos "se focarem em governar para as pessoas e garantir estabilidade, porque o país tem desafios muito importantes", designadamente as reformas da Justiça, Educação, Saúde ou Habitação.

"E não me parece que este ano tenha contribuído para isso, agravado pelo facto de, a nível mundial, haver muita instabilidade, guerras, crises económicas", defendeu. E acrescentou: "O mais grave é que, este ano, com novas eleições agora, [o tempo para ] formar novo Governo e com as autárquicas no fim do ano, é um ano perdido para Portugal, e é um ano em que havia muito para fazer".

Questionada se o problema é de falta de ética na política, a CEO da Sonae acredita que os portugueses estão "um bocado fartos" das polémicas. "Os casos multiplicam-se, arrastam-se no tempo, há comissões de inquérito a coisas que não são muito relevantes para a vida dos portugueses, para tentar ganhar atenção... ouvir a Assembleia da República na televisão é uma coisa que não recomendamos a ninguém", frisou.

Sobre o futuro do grupo Sonae, designadamente ao nível do investimento, Cláudia Azevedo promete manter um "forte investimento" nos negócios existentes, e que incluem já as novas aquisições realizadas em 2024 - a Musti, na área do retalho para animais de estimação, e a Druni, na área da cosmética e do bem-estar - e em 2025, com a compra da Claranet, no segmento das telecomunicações, e "acelerar o investimento" da MC, a holding do retalho, com novas lojas. "Não estou a prever uma aquisição completamente diferente, numa geografia ou num setor diferente. Agora temos de fazer a gestão destes investimentos, mas, claramente, para mantermos a nossa proposta de valor e a nossa liderança, implica um forte investimento anual", sublinhou Cláudia Azevedo.

Sobre a inflação e o que pode o consumidor esperar em termos preços no retalho alimentar, a CEO do grupo admitiu que a situação geral "é muito difícil", atendendo à conjuntura internacional e às novidades que surgem todos os dias. No entanto, lembra que a inflação alimentar está "controlada", tendo sido de 1% em 2024. Com as taxas de juro também a baixar, esta responsável admite que se prevê "alguma estabilidade", sendo certo que "há sempre matérias-primas que variam, umas para cima, outras para baixo".

E se Cláudia deixou a promessa de que "tudo faremos para ter os melhores preços do mercado", lembrando que, em 2024, os supermercados Continente ganharam quota de mercado, João Dolores, responsável financeiro do grupo admitiu que "está difícil" manter os preços baixos, designadamente porque "temos muitas pressões inflacionistas na nossa base de custo que fazem com que tenhamos de ser cada vez mais eficientes para conseguirmos sustentar os preços que continuamos a oferecer ao mercado".

Sobre as possíveis tarifas alfandegárias de Trump e de modo pode isso afetar um grupo como a Sonae, João Dolores aponta que "ninguém sabe muito bem o que vai acontecer", mas assume que, se avançarem, terão obviamente impacto à escala global. "Neste momento não estamos ainda a sentir nenhum impacto na nossa atividade, a única coisa que podemos dizer é que sentimos hoje que somos uma organização muito mais capaz de enfrentar choques dessa natureza e temos hoje muito mais agilidade na resposta a essas situações", afirmou, deixando a promessa de "tentar mitigar ao máximo o impacto de qualquer efeito adverso naquilo que é a proposta de valor que temos para os nossos clientes".

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