A taxa de juro principal da Zona Euro, a taxa de depósito, mantém-se em 2%, anunciou o Banco Central Europeu (BCE), esta quinta-feira. Uma das principais razões: "as pressões internas sobre os preços continuaram a abrandar, com o crescimento mais lento dos salários", diz a autoridade presidida por Christine Lagarde.Depois do máximo de 4% decretados em setembro de 2023 para combater a inflação muito alta e descontrolada herdada da guerra da Rússia contra a Ucrânia, o BCE conseguiu arrefecer os preços (e a atividade económica e de crédito nos anos seguintes. Para não exagerar na dose e reanimar preços e economias, começou novamente a descer taxas a meio do ano passado. Já o fez oito vezes até agora.Mas, como já era amplamente esperado, o BCE deixou os juros na mesma – está atualmente em modo de "esperar para ver" por causa da alta incerteza que reina nas economias e nos mercados, designadamente a que decorre das tarifas e das negociações comerciais entre os Estados Unidos e muitas outras economias do globo.Frankfurt considera que o aumento de tarifas prejudica o crescimento a prazo e tende a baixar preços porque deprime a procura por determinados bens (que podem ficar muito mais caros).Assim, o conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter as três taxas de juro diretoras inalteradas."As taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de depósito, às operações principais de refinanciamento e à facilidade permanente de cedência de liquidez permanecerão inalteradas em, respetivamente, 2%, 2,15% e 2,4%", indicou a autoridade monetária.O BCE explica que esta decisão de manter juros acontece porque "a inflação situa‑se atualmente no objetivo de médio prazo de 2%"."As pressões internas sobre os preços continuaram a abrandar, com o crescimento mais lento dos salários", refere o Banco.Além disso, "a economia provou ser, até à data, globalmente resiliente num enquadramento mundial difícil", "refletindo" por exemplo as subidas de juros pronunciadas do passado recente (até ao referido máximo histórico de 4% na taxa de depósito), observa o BCE."Ao mesmo tempo, a conjuntura mantém‑se excecionalmente incerta, sobretudo devido aos litígios comerciais."Assim, perante toda esta incerteza e volatilidade e para assegurar que a inflação da Zona Euro se mantém estável nos 2%, o BCE diz que vai seguir sempre uma abordagem "dependente dos dados e reunião a reunião" para decidir a orientação da política monetária.As decisões sobre as taxas de juro "basear‑se‑ão na avaliação das perspetivas de inflação e dos riscos em torno das mesmas – à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados", refere a instituição sediada em Frankfurt, na Alemanha.Empresas estão "hesitantes"Apesar de a economia europeia ter tido um arranque de ano "mais forte que o esperado" e de as descidas de juro desde setembro de 2024 contribuirem para animar a atividade, Lagarde reparou na conferência de imprensa que essa maior dinâmica do início do ano "ocorreu, em parte, porque as empresas anteciparam as exportações" para evitar os aumentos de tarifas comerciais previstos."O crescimento foi também impulsionado pelo reforço do consumo privado e do investimento", embora inquéritos recentes "apontem para uma expansão modesta na indústria transformadora e dos serviços."Ao mesmo tempo, as tarifas atuais efetivamente mais elevadas e as tarifas esperadas também mais altas, o euro mais forte e a persistente incerteza geopolítica "estão a tornar as empresas mais hesitantes em investir".Na opinião de Lagarde, "os riscos para o crescimento económico continuam negativos".Entre os principais perigos "está uma nova escalada das tensões comerciais globais" que pode "prejudicar as exportações e reduzir o investimento e o consumo".Adicionalmente, "uma deterioração do sentimento do mercado financeiro poderá levar a condições de financiamento mais restritivas e a uma maior aversão ao risco, além de tornar as empresas e as famílias menos dispostas a investir e a consumir".A presidente do BCE considera que "a guerra da Rússia contra a Ucrânia e o trágico conflito no Médio Oriente continuam a ser uma grande fonte de incerteza".Euro forte e menos procura podem fazer baixar a inflaçãoSobre o futuro próximo, Lagarde diz que "a perspetiva para a inflação é mais incerta do que o habitual, como resultado do ambiente volátil da política comercial global".Além disso, "um euro mais forte poderá reduzir a inflação ainda mais do que o esperado" e a inflação "pode acabar por ser mais baixa se tarifas mais elevadas conduzirem a uma menor procura de exportações da área do euro e induzirem os países com excesso de capacidade a redireccionar as suas exportações para a área do euro".Outro efeito possível é as tensões comerciais poderem "levar a uma maior volatilidade e aversão ao risco nos mercados financeiros, o que pesaria sobre a procura interna e, por conseguinte, também reduziria a inflação".Mas a inflação pode ser maior com "o aumento das despesas com defesa e infraestruturas" e "os eventos climáticos extremos e a crise climática em desenvolvimento de forma mais ampla" também "podem elevar os preços dos alimentos mais do que o esperado", explicou Lagarde.Incertezas e fraquezasApesar do início de ano mais forte na atividade, o panorama além de incerto é, como diz Lagarde, "negativo" para o crescimento, o comércio e até para os preços. Isto deve conduzir a uma nova descida de juros depois das férias de agosto, prevêem vários economistas.Como noticiou o DN esta quinta-feira, se as negociações entre a Comissão Europeia (CE) e o governo norte-americano do Presidente Donald Trump correrem mal no tema do comércio e das tarifas, o ponto de chegada dos juros europeus até ao final deste ano pode até ter de ser mais baixo do que se pensa, afirmam analistas do mercado monetário.Uma descida de 0,25 pontos percentuais em setembro (para uma taxa de juro de 1,75%) é altamente provável, mas se a guerra comercial se intensificar ou os acordos alcançados forem maus, vários analistas dizem que o BCE terá de reduzir juros mais uma vez, até 1,5%, ainda este ano."O mercado está fortemente ancorado em torno de uma zona de aterragem [da taxa de juro de depósito] do BCE de 1,75%, mas o momento do próximo corte ainda está em discussão", defende a equipa de economistas do grupo ING que segue a política monetária europeia. Há "50% de probabilidade" de o corte de 0,25 pontos para 1,75% acontecer em setembro, diz.No entanto, continua tudo em aberto. "Temos muitas incertezas e duvidamos que os mercados obtenham mais clareza sobre o momento durante esta reunião". "Uma dessas incertezas são as tensões comerciais, às quais os mercados parecem ter-se tornado novamente mais sensíveis".Segundo a equipa liderada pelo macroeconomista Carsten Brzeski, "potenciais riscos tarifários podem ser um gatilho para movimentos mais significativos nas taxas de juro" do BCE."Se o tom for mais preocupante poderá levar os mercados a reconsiderar uma zona de aterragem das taxas de juro de 1,5%, como aconteceu logo após o dia da libertação", dizem os mesmos analistas..BCE pressionado a baixar taxas de juro até 1,5% este ano se relação com Trump se complicar