A taxa de juro principal da Zona Euro, que é definida pelo Banco Central Europeu (BCE), deverá ficar na mesma esta quinta-feira, em 2%, o nível mais baixo desde finais de 2022, mas se as negociações entre a Comissão Europeia (CE) e o governo norte-americano do Presidente Donald Trump correrem mal no tema do comércio e das tarifas, o ponto de chegada dos juros europeus até ao final deste ano pode ter de ser mais baixo do que se pensa, afirmam vários analistas do mercado monetário.A ideia é que barreiras ao comércio internacional (e no caso dos EUA e da União Europeia estamos a falar da maior relação bilateral do globo) prejudicam o crescimento. Mesmo que num primeiro momento produzam inflação, o efeito mais permanente é negativo e a procura tende a receder. Por isso, os economistas referem que o ambiente económico piorou desde que Trump começou a ameaçar com as tarifas. Gera caos, alta incerteza, muitos investidores na Europa estão a retrair-se, a atividade está a aterrar devagarinho, a economia, que está quase estagnada este ano (0,9%), assim deve continuar no próximo (1,1%).A inflação, a variável que orienta a acção do BCE, foi revista fortemente em baixa neste ano (2%) e no próximo (1,6%), o que dá a Frankfurt argumentos para reduzir mais os juros.Portanto, uma ação mais musculada no sentido do alívio do custo do dinheiro por parte da autoridade presidida por Christine Lagarde continua em cima da mesa.Esta semana houve notícias para todos os gostos: de que a UE se estava a preparar para um cenário de não acordo e de retaliação total e que afinal haveria um acordo na forja por estes dias.Mas como o mal está feito (a guerra comercial existe e está em curso), vários economistas admitem que em vez de só mais um corte das taxas de juro, dos atuais 2% para 1,75% (a acontecer algures entre setembro e dezembro), há que descontar a possibilidade de uma redução maior (o dobro). Eventualmente, mais dois cortes de 0,25 pontos percentuais até ao final deste ano."O mercado está fortemente ancorado em torno de uma zona de aterragem [da taxa de juro de depósito] do BCE de 1,75%, mas o momento do próximo corte ainda está em discussão", defende a equipa de economistas do grupo ING que segue a política monetária europeia. Há "50% de probabilidade" de o corte de 0,25 pontos para 1,75% acontecer em setembro, diz.No entanto, continua tudo em aberto. "Temos muitas incertezas e duvidamos que os mercados obtenham mais clareza sobre o momento durante esta reunião". "Uma dessas incertezas são as tensões comerciais, às quais os mercados parecem ter-se tornado novamente mais sensíveis".Segundo a equipa liderada pelo macroeconomista Carsten Brzeski, "a posição do BCE sobre os potenciais riscos tarifários pode ser um gatilho para movimentos mais significativos nas taxas de juro"."Se o tom for mais preocupante poderá levar os mercados a reconsiderar uma zona de aterragem das taxas de juro de 1,5%, como aconteceu logo após o "dia da libertação".A 2 de abril, Trump anunciou as tarifas recíprocas sobre 90 territórios do globo; no caso da UE, a ameaça foi elevar o imposto até 20%, valor que entretanto foi agravado para 30% este mês.Os analistas do ING acrescentam ainda que "com os riscos descendentes sobre a inflação", "dificilmente o BCE elevará muito as taxas", pelo contrário.A agência de rating Morningstar DBRS espera que o BCE "deixe as taxas de juro inalteradas na reunião de 24 de julho, marcando uma pausa no ciclo de cortes de juros iniciado em junho de 2024"."Com a inflação a oscilar em torno da meta de 2% e novas projeções do BCE previstas para apenas setembro, os decisores políticos parecem estar em modo de esperar para ver, uma vez que novos riscos — incluindo tensões comerciais com os Estados Unidos — obscurecem as perspetivas", recorda a agência.A DBRS acrescenta que Marc Schattenberg e Robin Winkler, economistas do Deutsche Bank Research, "preveem mais dois cortes de 0,25 pontos percentuais até dezembro, reduzindo a taxa de juro diretora para 1,5%" na Zona Euro."No curto prazo, o conflito comercial com os Estados Unidos representa o maior risco de queda para a economia da zona euro", argumentam os economistas alemães.Esta semana, alguns meios de comunicação social avançaram com resultados muito diferenciados. Uns divulgaram que a União Europeia (UE) já estaria a preparar um mega pacote de retaliação total (em que não há acordo com os EUA) com uma taxa de 30% sobre importações made in USA no valor de 100 mil milhões de euros. Este valor é igual à tarifa recíproca que Trump brandiu há poucas semanas e que ameaçou acionar a partir de 1 de agosto.Mas, esta quarta, o Financial Times avançou que os Estados Unidos e a UE estariam prestes a fechar um acordo, bastante inspirado no acordo com o Japão, em que a tarifa geral seria de 15%..Grandes farmacêuticas correm para os EUA para evitarem tarifas.BCE deve manter juros esta semana e mais cortes só depois do verão, preveem analistas