Christine Lagarde, presidente do BCE. 6 de março de 2025, Frankfurt.
Christine Lagarde, presidente do BCE. 6 de março de 2025, Frankfurt.RONALD WITTEK

BCE. Hostilidade de Trump nas tarifas assusta investidores e já deprime economia da Zona Euro

Incerteza comercial e guerras são destrutivas e reduzem previsão de crescimento para apenas 0,9% este ano, ao mesmo tempo que dão gás à inflação. Lagarde fala pela primeira vez em pausar juros.
Publicado a
Atualizado a

A Zona Euro iria crescer a um ritmo de 1,1% este ano, julgava o Banco Central Europeu (BCE) em dezembro, mas com a escalada de hostilidade dos Estados Unidos da América nas tarifas alfandegárias contra várias economias (México, Canadá, China, União Europeia), a previsão de crescimento da área da moeda única cai de forma notória, para cerca de 0,9% este ano, prevê agora o BCE, no exercício trimestral de projeções de março.

Já a inflação prevista para este ano foi revista em alta, de 2,1% em dezembro, para 2,3%.

Christine Lagarde, presidente do BCE. 6 de março de 2025, Frankfurt.
BCE corta mais 0,25% na taxa de juro da Zona Euro, que assim cai para 2,5%, sexta redução em menos de um ano

Segundo explicou Christine Lagarde, a presidente do BCE, "a incerteza elevada" nas políticas comerciais/tarifárias prejudica as exportações e o investimento deste ano e do próximo, garantidamente, pois é o que explica bem a revisão em baixa do crescimento.

Em cima disto, a presidente da autoridade monetária europeia aludiu a outros fatores que prejudicam. Continuamos a ter a guerra na Ucrânia (que já dura há três anos) e os conflitos no Médio Oriente, designadamente a destruição em curso de Gaza por parte de Israel.

Inflação de 2025 revista em alta

No caso da inflação, Lagarde disse que esta pode acelerar sobretudo por causa dos planos enormes em cima da mesa para gastar e investir na área militar e na defesa e também nos "planos massivos de investimento" em infraestruturas na Europa.

Segundo o BCE, "a inflação continuou a evoluir globalmente em consonância com as expectativas dos nossos especialistas e as projeções mais recentes estão em estreito alinhamento com as anteriores perspetivas de inflação".

No entanto, o custo da energia continua a ser uma ameaça muito próxima e grave, pelo que a previsão da inflação foi revista em alta.

"Os nossos especialistas projetam agora que a inflação se situe, em média, em 2,3% em 2025, 1,9% em 2026 e 2% em 2027". "A revisão em alta da inflação global para 2025 reflete uma dinâmica mais forte dos preços dos produtos energéticos", mas, excluindo do indicador global os preços dos produtos energéticos e alimentares (inflação subjacente), a projeção média aponta para um alívio para 2,2% em 2025, 2,0% em 2026 e 1,9% em 2027, refere o BCE.

O plano alemão para gastar mais

Na conferência de imprensa, falou-se ainda do plano alemão para relançar o setor da Defesa nacional e grandes projetos de infraestruturas.

Esta semana, os partidos que devem formar o novo governo alemão (conservadores da coligação CDU/CSU e SPD, os socialistas/sociais-democratas) concordaram em flexibilizar as regras orçamentais para acomodar despesas avultadas e novas para a defesa e para as despesas dos Estados federais, criando "um fundo especial de 500 mil milhões de euros para reforçar as infra-estruturas do país".

Para Lagarde, este tipo de planos (não só o da Alemanha, mas também os de muitos outros países da UE, que já estão a fazer o mesmo) pode ter um impacto positivo na procura, logo no crescimento deste e dos próximos anos, mas também acelera os preços, faz subir a inflação.

A presidente do BCE revelou, como referido, que "a economia enfrenta desafios contínuos e os nossos especialistas efetuaram novamente uma revisão em baixa das projeções de crescimento – para 0,9% em 2025, 1,2% em 2026 e 1,3% em 2027".

Os cortes nas previsões para 2025 e 2026 (esta previsão deste ano 2026 caiu de 1,4% em dezembro para 1,2% agora) "refletem exportações mais baixas e a continuação da fraqueza do investimento, decorrente, em parte, da elevada incerteza em termos de políticas comerciais e da incerteza mais geral a nível de políticas".

"Incerteza enorme ou fenomenal?", questiona Lagarde

Lagarde revelou ainda que, na reunião de política monetária desta quinta, houve mais um debate sobre a alta incerteza que paira na Europa e no mundo e chegou a refletir-se se a nova vaga de incerteza (alimentada essencialmente pela retórica e pelas decisões do Presidente Donald Trump, dos EUA) "é enorme ou fenomenal?", atirou a presidente do BCE na conferência de imprensa.

A resposta dela foi: "estamos totalmente rodeados de riscos e incerteza", "a situação que temos hoje é uma nuvem de incerteza" que paira sobre nós.

Por isso, relativamente ao rumo futuro das taxas de juro para responder a tanta incerteza, Lagarde disse que "temos de ser extremamente vigilantes e ágeis a agir". "Se os dados disserem que é para cortar [taxas de juro], cortamos. Se disserem que não é para cortar, então podemos fazer uma pausa", rematou a banqueira central.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt