Christine Lagarde, presidente do BCE. Frankfurt, 5 de junho de 2025.
Christine Lagarde, presidente do BCE. Frankfurt, 5 de junho de 2025. FOTO: EPA / Christopher Neundorf

BCE corta taxa de juro para 2%, o nível mais baixo desde 2022

Frankfurt reduziu taxa principal de 2,25% para 2%. Oitavo corte desde o pico de 4%. Incerteza máxima ainda ameaça economia, mas inflação chega ao ponto de equilíbrio, o que pode travar novas descidas.
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As três taxas de juro principais do Banco Central Europeu (BCE) desceram 0,25 pontos percentuais, decidiu o conselho de governadores da instituição, esta quinta-feira, em Frankfurt. É a oitava descida desde que as taxas atingiram um máximo no final de 2023. Nessa altura, a taxa de depósito (a principal referência) chegou a um máximo de 4%. Hoje, caiu para metade: 2%.

Segundo o BCE, a taxa de juro da facilidade permanente de depósito – através da qual se define a orientação da política monetária e, ato contínuo, se reflete no valor do custo do crédito e da remuneração dos depósitos de famílias e empresas – cai assim de 2,25% para 2%, o nível mais baixo desde novembro de 2022, ano em que começou a guerra da Ucrânia e em que o custo da energia e da comida disparou, levando a uma inflação sem precedentes na história da moeda única.

Christine Lagarde, presidente do BCE. Frankfurt, 5 de junho de 2025.
Christine Lagarde promete que fica até ao fim à frente do BCE

Em comunicado, o BCE revela que atualmente, a inflação já se situa "em torno do objetivo de médio prazo de 2%, estabelecido pelo conselho do BCE", sinalizando assim que as descidas futuras de taxas de juro terão de ser muito mais ponderadas daqui em diante.

"No cenário de base das novas projeções dos especialistas do Eurossistema, a inflação total situar-se-á, em média, em 2% em 2025, 1,6% em 2026 e 2% em 2027", diz o BCE. Para Christine Lagarde, a presidente do BCE, é um cenário de estabilidade, já. Está quase na meta sustentável de 2% a médio prazo, deu a entender, em conferência de imprensa.

"As revisões em baixa de 0,3 pontos percentuais em relação a 2025 e 2026, em comparação com as projeções de março, espelham, sobretudo, os pressupostos mais baixos para os preços dos produtos energéticos e um euro mais forte", explica a autoridade monetária.

Por isso, a medida da chamada inflação subjacente, que exclui da conta os mais voláteis ou sazonais, os dos produtos energéticos e alimentares, deve aliviar de 2,8% em 2024 para 2,4% em 2025 e 1,9% em 2026 e 2027, "praticamente sem alterações face a março".

Previsões de crescimento ficam basicamente na mesma

Mas, de forma algo surpreendente, o BCE manteve amplamente inalteradas as previsões de crescimento económico para a Zona Euro face ao quadro de março.

Relativamente a este 2025, o BCE diz que fica tudo igual a março (a previsão mantém-se num crescimento de 0,9%) porque o primeiro trimestre saiu melhor do que o esperado e, assim, acabou por compensar o embate da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, de Donald Trump, no final de março.

Na nota divulgada esta quinta-feira (5 de junho), o BCE refere que "o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) real se situará, em média, em 0,9% em 2025, 1,1% em 2026 e 1,3% em 2027". É, basicamente, o cenário projetado em março.

"A projeção não-revista quanto ao crescimento em 2025 reflete um primeiro trimestre mais forte do que o esperado", embora se aguardem "perspetivas mais fracas para o resto do ano", justifica o BCE.

Investimento em Defesa compensa caos das tarifas

A incerteza em torno das políticas comerciais deve continuar a "pesar sobre o investimento empresarial e as exportações, sobretudo no curto prazo", mas em compensação, "o aumento do investimento público em defesa e infraestruturas apoiará cada vez mais o crescimento no médio prazo".

"Rendimentos reais mais elevados e um mercado de trabalho robusto permitirão às famílias gastar mais. Juntamente com as condições de financiamento mais favoráveis, isso deverá tornar a economia mais resiliente a choques globais", espera a autoridade presidida por Christine Lagarde.

Incerteza máxima leva BCE a fazer várias previsões

No entanto, o contexto económico continua a ser de "incerteza elevada" e máxima, sobretudo por causa da guerra comercial em curso entre os Estados Unidos e dezenas de outros países e regiões, muitos deles os seus maiores parceiros, até em termos históricos, como Europa, China, Canadá, México.

Assim, isso obrigou os especialistas do Eurossistema a avaliarem também "alguns dos mecanismos através dos quais diferentes políticas comerciais podem afetar o crescimento e a inflação com base em cenários alternativos".

"De acordo com esta análise de cenários, uma nova intensificação das tensões comerciais nos próximos meses leva a que o crescimento e a inflação se situem abaixo das projeções de referência", avisa o banco central do euro.

"Em contraste, se as tensões comerciais fossem resolvidas com resultados benignos, o crescimento e, em menor grau, a inflação apresentar-se-iam acima das projeções de referência."

Seja como for, o BCE indica que, se nada se alterar daqui em diante, se a guerra comercial não piorar em grau de hostilidade, "a maioria das medidas da inflação subjacente sugere que a inflação estabilizará, numa base sustentada, em torno do objetivo de médio prazo de 2%".

É uma vez mais o sinal de que as descidas de taxas de juro, daqui para a frente, podem vir a ser muito mais difíceis de justificar.

(atualizado às 14h45)

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