Gonçalo Regalado, CEO do Banco Português de Fomento.
Gonçalo Regalado, CEO do Banco Português de Fomento.Gerardo Santos

Banco de Fomento diz que "velocidade" de aprovação de candidaturas já está próxima da banca comercial

Gonçalo Regalado fez balanço de 100 dias como CEO do Banco Português de Fomento. Garante que o banco soberano está mais ágil e em duas semanas aprovou 3072 pedidos de financiamento com garantia.
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Gonçalo Regalado prometeu e cumpriu. Na apresentação do plano de ação do seu mandato como CEO do Banco Português de Fomento (BFP), no passado dia 17 de fevereiro, disse que ia apresentar contas trimestralmente, e assim fez. Esta manhã fez um balanço dos primeiros 100 dias da sua administração, desta vez sem o ministro da Economia ao lado, mas o gestor garante que a queda do Governo em nada belisca a atividade e o cumprimento dos objetivos que tem traçados para o banco soberano.

Uma das metas anunciadas em fevereiro foi acelerar a aprovação de candidaturas às linhas que o banco oferece, o que seria facilitado pela criação de garantias pré-aprovadas para abranger 150 mil empresas até maio. Gonçalo Regalado garante que já simplificaram a vida aos empresários e aos bancos comerciais e considera mesmo que "este foi, talvez, o principal achievement que tivemos nos primeiros 100 dias".

O CEO do BPF avançou com números: "Simplificámos os processos com uma redução de 14 documentos obrigatórios para cinco, e 27 documentos, entre obrigatórios e opcionais, para cinco, acelerando muito os prazos de aprovação e contratação, que começavam em 49 dias úteis. Agora estamos a fazer numa semana as aprovações e a contratação - e as aprovações são em 48 horas -, portanto, ganhámos uma velocidade muito grande, muito próxima daquilo que existe hoje na banca comercial", sublinhou o CEO do BPF.

Desde 31 de março, quando entraram em vigor as garantias pré-aprovadas no âmbito do BPF Investe EU, foram recebidas 6165 candidaturas a financiamento com garantia, no valor de 1886 milhões de euros (valor médio de 306 mil euros). Destas, 63% são de novas empresas (3900 empresas, no valor de 1118 milhões de euros).

Em duas semanas, avança o BPF, foram aprovadas 3072 pedidos, no montante de 884 milhões de euros. Gonçalo Regalado diz que estes números refletem, em termos de valor, mais do que o financiamento com garantia aprovado no conjunto dos anos 2023 e 2024, de 759 milhões de euros.

Os empresários apresentam as candidaturas através dos bancos comerciais. E de acordo com os dados revelados, nas primeiras duas semanas das garantias pré-aprovadas, o Millennium BCP liderou de forma destacada os pedidos processados, com 1206 (518 aprovados e 688 em avaliação), seguido da Caixa Geral de Depósitos, com 211 (110 pedidos aprovados e 100 em avaliação), do Santander, com 140 (69 candidaturas com luz verde e 71 em avaliação), do Crédito Agrícola, com 121 (78 aprovações e 43 em análise), e do Novo Banco, com 112 (63 pedidos aprovados e 49 em avaliação).

Gonçalo Regalado acredita que estes números vão crescer ainda mais nos próximos meses. "A banca comercial, com uma enormíssima competitividade - que nós muito agradecemos -, está hoje a preparar, a desenhar e a construir mais candidaturas. Acreditamos que será possível, durante este segundo trimestre, termos 3000 milhões de euros de candidaturas aprovadas e mais de 10 000 empresas servidas. É essa a nossa ambição do trimestre".

Outra vertente da atividade do banco soberano onde houve "aceleração", assegura o BPF, é no pagamento das subvenções no âmbito da Linha Covid-19. Esta linha permitia conversões em fundo perdido de até 20% dos montantes recebidos. Segundo os dados do BPF, candidataram-se 5513 empresas à Linha Covid-19 com um montante de financiamento de 235 milhões de euros. Até 16 de abril deste ano, havia 273 empresas com conversões não recebidas (oito milhões de euros), 131 em avaliação (cinco milhões de euros) e 5109 conversões em fundo perdido já pagas (222 milhões de euros).

Segundo o BFP, as conversões pagas aumentaram em 21% em número (mais 909) e em 17% em valor (mais 33 milhões de euros).

"Acreditamos que mais de 1000 empresas vão receber mais de 37 milhões de euros - pode ir até aos 40 milhões de euros - e, portanto, vamos acertar as contas que estavam alongadas há mais de três anos, num processo que já dura há cinco anos. Esse processo fica fechado este mês", garante Gonçalo Regalado.

Linhas para a Autoeuropa

O CEO diz que o objetivo último do BPF - que no ano passado registou um resultado líquido de 18,3 milhões de euros, em termos individuais, e de 20 milhões a nível de grupo - não é ser "um banco multimilionário nos resultados, é ser um banco de impacto na economia". "Nós não nos medimos por milhões, medimo-nos por valor no PIB", sublinhou Gonçalo Regalado, que sublinha também que o BPF "é cada vez mais um banco de investimento internacional em Portugal".

E nesse contexto avançou que o banco está a trabalhar em dois instrumentos financeiros com a Autoeuropa no âmbito do investimento da construtora automóvel alemã para fabricar um modelo de carro elétrico em Portugal.

Um dos instrumentos, adiantou, serão garantias de mil milhões de euros para os fornecedores da Autoeuropa em toda a cadeira de valor, e outro será uma linha mista para o financiamento direto à expansão da fábrica a garantir por um sindicato bancário.

"Ainda ontem estivemos com uma equipa executiva da Volkswagen e Autoeuropa a desenhar todos os detalhes para a linha de garantias para a reindustrialização de todo este setor do veículo automóvel, e depois uma linha direta com um modelo de sindicato bancário, de cerca de 400 milhões de euros. Esperamos nós que com bancos situados em Portugal, porque na verdade é para nós um orgulho não só ter a Autoeuropa e a Volkswagen em Portugal a fazer o primeiro carro elétrico, mas sobretudo ter bancos portugueses a financiar um projeto que faz mexer desta forma o nosso país", disse.

Reação às tarifas de Trump

Quanto aos planos para os próximos 100 dias, Gonçalo Regalado admite que não estava "à espera que houvesse uma guerra comercial".

O ministro da Economia anunciou no dia 10 de abril um pacote de apoio de dez mil milhões de euros para a economia na sequência das tarifas anunciadas aos produtos europeus pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o BPF é uma peça essencial nesse apoio.

Os Estados Unidos são o quarto maior parceiro comercial de Portugal, representam 6,7% das exportações de bens, e estavam a crescer. As vendas para aquele mercado pesam 2% no PIB (5,24 mil milhões de euros), segundo os números apresentados pelo BPF. Das 71 mil empresas portuguesas que exportam, 3401 vendem para os Estados Unidos.

Embora representem apenas 1% das empresas nacionais, são responsáveis por 9% do emprego (316 mil postos de trabalho), 14% do volume de negócios (74 mil milhões de euros) e 39% das exportações (43 mil milhões de euros).

"E foi este efeito borboleta, de 1% das empresas, 9% do emprego, 14% do volume de negócios e 40% das exportações, que nos deixou claro que era preciso uma intervenção imediata", sublinhou o gestor.

"O que fizemos foi reprogramar e reforçar as linhas. Colocámos a linha de fundo de maneio a ir até 6200 milhões de euros e colocámos a linha de investimento a ir até 1730 milhões de euros. Ou seja, nas duas linhas centrais do BPF InvestEU estamos a dedicar hoje, tecnicamente, oito mil milhões de euros".

Em cima disso, sublinhou, foram criadas duas linhas de investimento e de fundo de maneio só para empresas exportadoras.

"Enquanto a linha BPF InvestEU é uma linha para todos os empresários, a linha BPF PT Export é uma linha para todos os exportadores. E aí temos uma linha de fundo de maneiro com 1000 milhões de euros, e uma linha com investimento com 2500 milhões de euros, e com a possibilidade de termos subvenção, ou seja, de termos fundo perdido nesta mesma linha".

O objetivo é que os empresários continuem a investir e a procurar novos mercados internacionais. Para beneficiar das subvenções, será necessário cumprir um conjunto de critérios, um modelo que "está agora a ser calibrado e ultimado", diz o gestor.

"O primeiro indicador é a manutenção dos ativos, o segundo é a manutenção do emprego, o terceiro é a manutenção das exportações em valor, e o quarto indicador é a percentagem de exportações sobre o volume de negócios", indicou.

Digitalização do banco

Outro dos grandes objetivos da liderança de Gonçalo Regalado é criar um banco digital que permita às empresas terem a mesma experiência com o Banco Português de Fomento que têm com os bancos comerciais. E, nesta matéria, o CEO revelou que o banco já começou a ser ligado às entidades públicas relevantes. "Ligámos o Banco à AMA [Agência para a Modernização Administrativa], à Autoridade Tributária, ao Instituto da Segurança Social, a todas as dimensões do IRN [Instituto dos Registos e do Notariado] e ligámos o banco a todas as plataformas do Estado. E dessa forma temos hoje toda a informação digital para tomar decisões de uma forma mais ágil e mais rápida", disse.

O BPF tem até 2,5 milhões de euros para a transformação digital do banco. Gonçalo Regalado diz que a instituição financeira não está excluída das regras da contratação pública e será realizado um concurso simplificado para a escolha da melhor proposta. O objetivo é chegar a 2027 com um Banco de Fomento Digital plenamente operacional.

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