Antigo ministro das Finanças Vítor Gaspar abandona cargo de diretor do FMI
Vítor Gaspar, antigo ministro das Finanças do PSD que, desde 2014, é diretor do departamento de assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI) informou a sua diretora-geral, Kristalina Georgieva, que "tenciona abandonar" o cargo de chefia "em novembro de 2025", anunciou o FMI, numa nota publicada, esta segunda-feira.
“O Vítor trabalhou para desenvolver os conhecimentos especializados da nossa instituição em todos os domínios das finanças públicas, incluindo política fiscal, administração das receitas, política de despesa pública e gestão das finanças públicas”, afirmou Georgieva.
“Deixará para trás um legado de luta pela implementação de políticas sólidas, de defesa das populações mais frágeis e de procura de formas de combater as desigualdades”, acrescentou a chefe máxima do antigo credor de Portugal.
Não fica claro se o economista português abandona o cargo de direção, mas continua na instituição, com outras responsabilidades, ou se sai definitivamente do FMI.
Recorde-se que Gaspar, nascido em Manteigas, Guarda, a 9 de novembro de 1960 (fará este ano, 65 anos), foi o ministro das Finanças responsável pela aplicação da parte mais dura e violenta do programa de ajustamento da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI), desde que tomou posse a 21 de Junho de 2011 a 2 de Julho de 2013, quando saiu em colisão com Paulo Portas, então vice-primeiro-ministro do mesmo governo.
O FMI foi um dos maiores credores de Portugal na sequência do dinheiro que emprestou depois de o país entrar em bancarrota no final de 2010/início de 2011. Emprestou mais de 26 mil milhões de euros ao país, um apoio que foi sempre considerado muito caro pois o FMI praticava taxas de juro muito acima das dos outros credores oficiais.
Georgieva recorda que, depois de sair do governo de coligação liderado por Pedro Passos Coelho, Gaspar "entrou para o Fundo em 2014 para dirigir o Departamento de Assuntos Orçamentais" e que "nos últimos 11 anos, o departamento reforçou significativamente a sua posição global entre especialistas em política orçamental e decisores políticos como um centro de excelência na investigação aplicada à política orçamental".
"Sob a liderança do Sr. Gaspar, o Departamento de Assuntos Orçamentais desempenhou um papel importante na resposta do Fundo à covid-19 e no aconselhamento aos membros" da instituição, mais de 190 países de todo o mundo, quase todos, na verdade.
A chefe máxima do FMI recorda que "além disso, Gaspar supervisionou a criação de grupos dedicados dentro do departamento para apoiar os países membros na gestão dos desafios orçamentais associados às transições estruturais".
"O Vítor tem sido um mentor para muitos colegas em todo o Fundo" e "o conselho diretivo e eu estamos especialmente gratos pela sua partilha sincera das análises e conhecimentos e das suas abordagens inovadoras para dar apoio de alta qualidade aos nossos membros”.
Economista das Finanças, consultor do Banco de Portugal e da Comissão Europeia
De acordo com o site do governo, "Vítor Gaspar licenciou-se na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, em 1982, e obteve o grau de mestre pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, em 1985". "É doutor em Economia por esta mesma escola (1988)".
"Entre outros, desempenhou os seguintes cargos: diretor do Departamento de Estudos Económicos no Ministério das Finanças, no período de 1989 a 1992; consultor da administração no Banco de Portugal, de janeiro de 1993 a outubro de 1994; diretor do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, de outubro de 1994 a setembro de 1998", segundo o site oficial do executivo português.
Depois disto, teve início a sua carreira internacional. Foi "diretor-geral de Estudos Económicos no Banco Central Europeu, de setembro de 1998 a dezembro de 2004; diretor do Gabinete de Conselheiros de Política Económica da Comissão Europeia [liderada então por José Durão Barroso, também do PSD], de janeiro 2007 a fevereiro de 2010".
Finda a experiência em Bruxelas, Gaspar regressa a Portugal e é novamente contratado como "consultor no Banco de Portugal, de março de 2010 a junho de 2011", refere a mesma fonte oficial.
Depois, como referido, foi para o governo que aplicou o programa de ajustamento e austeridade da troika.
É sua a célebre expressão "enorme aumento de impostos", o agravamento brutal por si idealizado e implementado, em 2012/2013, para fazer baixar o défice orçamental e tentar travar a escalada da dívida pública.
(atualizado às 15h45)