Alexa mostra as garras para fazer frente à Google
Dez anos é muito tempo, até na vida de uma pessoa. Para um assistente digital, é uma eternidade... Por isso, uma profunda atualização na Alexa já era mais do que devida.
Claro que desde que foi lançada ao público, a voz virtual da Amazon recebeu várias novidades e novas ‘habilidades’, mas a base manteve-se inalterada - damos-lhe ordens e, em 90 e tal por cento das vezes, ela cumpre. Hoje, tal como em novembro de 2014, não é possível ter uma conversa minimamente satisfatória com a Alexa. Mas isso promete mudar a partir do fim do próximo mês, quando os serviços Alexa+, baseados em Inteligência Artificial generativa chegarem a casa dos assinantes ou subscritores Prime (nos EUA) - a mensalidade é de 20 dólares.
Tal como foi demonstrado aos jornalistas, esta quinta-feira, em Nova Iorque, a nova Alexa+ será capaz de responder a questões colocadas em linguagem corrente - em inglês, naturalmente -, tal como hoje faz, por exemplo, o Gemini, da Google, ou o Copilot, da Microsoft (que é baseado no ChatGPT).
Só que, ao contrário destes dois últimos, a Alexa integra - em pleno, promete a Amazon - todos os serviços já existentes de “assistente doméstica” para a casa inteligente, acrescentando ainda mais alguns associados ao próprio ‘ecossistema’ de entretenimento da gigante do retalho.
Assim, através da IA e em conversação com a assistente, torna-se mais fácil encontrar uma canção ou criar playlists na Amazon Music, prometem-nos. E também encontrar em que trecho de que filme do Prime Video aparece essa mesma canção.
Isso mesmo foi demonstrado (à segunda tentativa...) por Panos Panay, o atual vice-presidente da Amazon para a eletrónica de consumo - o homem que fora, até outubro de 2023, o responsável da Microsoft pela inovação dos computadores Surface e que se mudou de Redmond para Seattle, em parte, para ir ‘repensar’ os e-books Kindle e a Alexa.
Noutra vertente, enquanto hoje já é possível dizer à assistente virtual da Amazon para selecionar em que zonas da casa deve pôr música a tocar, tal implica pré-programação - dividir o domicílio por zonas e, ao dar a ordem, lembrarmo-nos de que zonas queremos “ativar”. Segundo Panay demonstrou, com a “nova” Alexa, ela compreenderá uma ordem do tipo: “Toca música em toda a casa, mas não acordes o bebé.” A IA simplesmente não ativa o som no quarto da criança.
Um tiro no porta-aviões Google?
A integração de vários serviços, sejam da Amazon ou de “dezenas de milhares” de parceiros disponíveis, nas palavras de Daniel Rausch, vice-presidente da empresa para a divisão Echo e Alexa, é outro dos atrativos da proposta da Amazon. Segundo promete o responsável, as outras capacidades da Alexa+ vão desde marcar um jantar automaticamente a comprar bilhetes para um espetáculo, passando mesmo por chamar um Uber para o utilizador ou para outra pessoa.
Com esta atualização, a decana Alexa prepara-se para ultrapassar em funcionalidades a concorrência. A Google tarda em colocar a sua IA Gemini no Home Assistant, o seu sistema de automação da casa, estando essencialmente focada nos telemóveis - um mercado em que a Amazon ainda chegou a testar as águas, em 2014 (com o Fire Phone), mas desistiu um ano depois.
E o tiro de aviso não se fica por aqui: é que, além de tudo o mais, a Alexa+ passa a incluir também a possibilidade de interpretar e resumir texto, bem como de gerir a agenda diária do utilizador. Ou seja, as vantagens hoje já comuns das IA generativas que conhecemos do Gemini e do Copilot, que a Amazon espera aliciar os seus clientes a delas usufruírem utilizando os seus serviços.
Para isso, contam com os Large Language Models da Amazon Nova e da empresa Antrop\c, numa parceria descrita como “chave” por Daniel Rausch.
Funcionará bem? Melhor que a Google ou a Microsoft? Só o tempo o dirá. Mas uma coisa é certa. Há outro importante player no mercado da IA a oferecer mais opções aos consumidores. Que bom que era que nós, europeus, pudéssemos dizer o mesmo.