"Acesso aos fundos comunitários tem de deixar de ser um labirinto burocrático"
Como é que funciona este simulador?
Nós fizemos milhares de testes ao simulador, de acordo com a informação que existe nos concursos. Introduzimos os dados, as regras, as definições que vêm no regulamento de cada um dos principais concursos, os sistemas de incentivos mais estáveis ao longo dos fundos comunitários: inovações produtivas, I&D, internacionalizações, qualificações [SICE Inovação Produtiva, (Projetos da Indústria e Turismo), SIID Investigação e Desenvolvimento Empresarial, SICE Qualificação das PME e SICE Internacionalização das PME]. Como as regras são bem conhecidas, conseguimos criar forma de poder triar, conforme a atividade económica, pela dimensão, pelo tipo de investimento, pela localização. Portanto, é programação simples, de acordo com aquilo que o concurso prevê. Podia dizer que recorremos à Inteligência Artificial, que está na moda, mas não é. É programação simples, tornando o processo o mais friendly possível.
Ou seja, uma empresa consegue ver se pode aceder ou não a determinados concursos comunitários?
Sim, resolve o tema do enquadramento. Qualquer empresário consegue chegar lá, mete o seu NIF e testa se pode ou não aceder a algum programa de apoio comunitário.
Como disse há pouco, permite desde logo fazer uma triagem.
Exatamente. Permite fazer uma primeira triagem. E depois, à medida que se vai caminhando na informação do projecto, poder dar mais informação. Mas primeiro tiramos da frente aquilo que é a primeira barreira: alguma linguagem que às vezes pode ser complexa e que é preciso desmistificar.
A partir de quando o simulador vai estar disponível?
Já está e é de acesso livre. Para nós é mesmo uma questão de posicionamento, com o parceiro, neste caso com o banco Santander. Os bancos gostam deste tipo de oferta por uma questão de posicionamento e nós pela relação com eles. Neste caso, o Santander viu isto como um instrumento interessante para se diferenciar dos seus concorrentes.
É um trabalho final ou pensam introduzir melhorias no simulador?
O que nós gostaríamos de ter era isto integrado depois com a própria execução da candidatura. Mas isso é uma ferramenta nossa, interna. Assumindo que o empresário vai lá e introduz a informação completa, para nós é uma oportunidade de negócio. Portanto, contactamos a empresa e dizemos 'Viu que fez um simulador. Quando é que está a pensar um investimento para podermos começar a planear atempadamente e submeter?'. Mas do ponto de vista de informação, eu diria que este simulador cobre as principais necessidades daquilo que são os concursos mais relevantes para a economia portuguesa: o I&D (inovação e desenvolvimento), as inovações produtivas, internacionalizações, qualificações, etc.
Portanto, aquilo que ganham com este simulador é poderem abordar as empresas e propor-lhes gerir um projeto de acesso a fundos?
Exacto. O que nós achámos que de facto uma entidade consultora como nós pode acrescentar é pegar num projecto de uma empresa, que por exemplo precisa de mudar uma máquina e vai ver se os fundos comunitários pagam. Nós conseguimos chegar lá e ver. O que eu acho que nós podemos acrescentar é: a substituição do equipamento por si só, não é tema. Mas tem que haver um projecto à volta que traga inovação, que traga diferenciação, que traga novidade ao nível do produto, do processo, que traga novidade ao mercado nacional ou internacional. É aí que nós podemos ajudar a empresa a tornar um projecto que, aparentemente, era apenas a substituição de um equipamento, em algo que seja diferenciador e aí sim, que mereça o dinheiro da União Europeia para trazer para Portugal uma alavanca diferente.
Como é que funciona se a empresa precisar de financiamento para essa reestruturação?
Isso foi desde o início a nossa preocupação. Por acaso da história, a Yunit foi fundada, na altura, pela Caixa, pelo então BES e pela PT. Entretanto, fiz um MBO (management buy out) em 2016, mas na verdade mantivemos sempre a relação com a banca, com o Santander, com o Millennium, que são parceiros. Porquê? Para nós é importante porque são parceiros que nos prescrevem clientes importantes, mas para as próprias empresas também é importante, porque quando se tem estas reuniões iniciais, a parte do financiamento bancário complementa os fundos comunitários ou vice versa. Isso torna os projetos muito mais robustos.
Porquê?
Porque muitas vezes as empresas têm aprovação para um projeto e depois é que vão à procura de financiamento bancário para a parte complementar. E muitas vezes isso leva tempo, ou a empresa não tem capitais para isso, não tem estrutura para isso ou demora tempo a decisão. Depois ficam com dinheiro aprovado, mas não vão poder usar porque lhe faltam 20% ou 30% de financiamento bancário. Com isto, conseguimos antecipar. Na prática, nós conseguimos dar uma ideia, uma previsão ao empresário e ao banco de quanto é que será a percentagem que se consegue no Portugal 2030; a banca consegue avaliar esse projeto e, de acordo com as contas da empresa, perceber qual é o financiamento que consegue aportar, complementar ou intercalar, porque às vezes. só com linhas de tesouraria, ajuda a que o projeto tenha tenha continuidade. E o alinhamento entre estas três entidades até à aprovação torna mais eficaz o planeamento, a candidatura e, sobretudo, à execução dos projetos que são apresentados.