Voos no Montijo prometem 5600 empregos indiretos já em 2022
A abertura do Montijo aos voos civis permitirá criar 800 empregos indiretos por cada milhão de passageiros. Isto significa que no primeiro ano de operação desta infraestrutura, que nasce para aliviar a esgotada Portela, o tecido empresarial da Margem Sul do Tejo fará um reforço de 5600 postos de trabalhos. Os números juntam-se aos cinco mil empregos prometidos pela ANA para o novo aeroporto e que duplicarão quando o aeroporto complementar ao Humberto Delgado estiver em velocidade de cruzeiro.
"Estima-se a criação de milhares de postos de trabalho nas várias fases de vida do projeto", disse ontem no Parlamento Thierry Ligonnière, CEO da gestora aeroportuária ANA, que foi ouvido pelos deputados da Comissão de Economia e Obras Públicas. As "estimativas apontam para cinco mil novos empregos diretos no momento da abertura e mais dez mil quando estiver em pleno funcionamento", destacou.
O impacto económico do projeto ainda não é conhecido. Mas o gestor francês admite que "está em curso a realização de um estudo pormenorizado que permitirá compreender o desenvolvimento desejado para a região". Por conhecer ficam as datas para a sua divulgação e se vai ser a ANA a liderar o levantamento ou os municípios envolventes.
O projeto Portela+Montijo pressupõe um investimento de 1,15 milhões de euros realizado pela ANA - Aeroportos, em que 650 milhões de euros serão destinados a Lisboa e 500 milhões de euros servirão para converter a base militar do Montijo. Mas Thierry lembrou que "o desenvolvimento de uma estrutura aeroportuária envolve muitas entidades", adiantando que a empresa "tem uma grande parte de entidades do seu lado mas precisa também que sejam reunidas algumas condições" com outros interlocutores. "A ANA tem capacidade para intervir dentro do perímetro concessionado, mas cabe a outras entidades e ao Estado o desenvolvimento de outras iniciativas, para que estejam disponíveis todas as infraestruturas de acesso".
Para já, ANA e o governo terão de aguardar pelo parecer da Agência Portuguesa do Ambiente sobre o estudo de impacte ambiental (EIA), que ainda está em consulta pública, e que o presidente desta entidade, Nuno Lacasta, deu ontem conta de que não será conhecido antes do final de outubro.
Com o documento a receber propostas até 19 de setembro, Nuno Lacasta reconheceu que a APA tem "toda a informação necessária" para poder tomar uma decisão técnica em relação a este projeto. O responsável adiantou que já recebeu 600 contributos, num processo que está a ser dos mais participados de sempre em Portugal.
Este documento apontou várias ameaças à avifauna e efeitos negativos sobre a saúde da população por causa do ruído, sobretudo no concelho da Moita e do Barreiro. Ouvidos ontem de manhã no Parlamento, Quercus e Associação Ambientalista Zero admitiram que os efeitos nos pássaros são importantes, mas destacaram as questões relativas ao ruído como mais nocivas. "Penso que os efeitos não serão tão negativos e as aves acabarão por se habituar. Como aconteceu com o impacto da Ponte Vasco da Gama, as aves acabarão por se habituar", destacou Paulo do Carmo, presidente da Quercus, aos deputados, destacando que "se forem salvaguardadas todas a questões, e se a decisão [Montijo] for favorável ou favorável com medidas, será a solução menos má". Este responsável sublinhou diversas vezes a necessidade de se avançar com um aeroporto perante o esgotamento da Portela e lembrou que para a Quercus a solução Alcochete sempre recebeu parecer negativo.
Menos favorável a este prolongamento de Lisboa é a Associação Zero. A entidade liderada por Francisco Ferreira continua a entender que é preciso fazer-se uma avaliação ambiental estratégica que pense o universo aeroportuário como um todo. "Como sabem, certamente, nós defendemos uma avaliação das infraestruturas aeroportuárias de Lisboa como um todo. É crucial porque a própria adenda formalizada em janeiro deste ano pelo primeiro-ministro liga as duas infraestruturas, e para nós não tem sentido estar a tomar uma decisão em relação ao Montijo e outra para Lisboa". A Zero destaca que "há um conjunto de questões dramáticas" que ainda não estão resolvidas.