Vende-se hotel. Sinais dos tempos na Madeira, Centro, Norte e Algarve
Com a covid a obrigar ao confinamento e as restrições de circulação a deixarem os turistas em terra nos seus países, todo o setor turístico e os que mais dele tiram partido - como o comércio, a restauração e os serviços - está a sofrer como nunca. E a crise já se revela na tentativa de alienar património que ainda no início deste ano prometia ser bem rentável.
Uma vez que os recordes sucessivamente quebrados ficaram para trás, e numa altura em que metade dos hotéis do país estão fechados por falta de clientes, há cada vez mais quem opte por vender, conforme revela o Idealista. Só na região Centro, havia em outubro 53 hotéis à venda (em São Martinho do Porto, por exemplo, um hotel de charme está anunciado por menos de 3 milhões; um projeto de moradias turísticas em Fátima fica pelos 1,2 milhões). São mais 15% do que os anunciados em março.
E se a região Norte (37) e o Algarve (29) completam o top de locais com mais hotéis à venda, foi na Madeira que se registou o maior salto nesses seis meses: o número duplicou e é agora uma dezena. Em Lisboa há 17 unidades anunciadas (eram 21 em março) e nos Açores o número subiu de três para quatro, sendo Castelo Branco o único distrito sem alienações programadas no continente.
No total, são mais de 160 hotéis que estão para venda, sendo no Algarve e em Lisboa que se encontram os valores mais caros: lidera a lista um quatro estrelas na Praia da Oura, Albufeira, por 36 milhões; a unidade mais cara em Lisboa fica na Praça de Espanha e está avaliada em 12,5 milhões e um quatro estrelas em Gaia está em negociação por 14 milhões.
Com a crise provocada pela pandemia a ameaçar fazer as maiores vítimas no turismo, já em junho foi lançado um instrumento específico para os hotéis que se encontrassem com grandes dificuldades de tesouraria. Gerido pela sociedade que toma conta dos fundos de investimento imobiliário do Turismo de Portugal (TP), este apoio previa a possibilidade de vender os hotéis mas manter a gestão (sale and leaseback).
Com um orçamento limitado a 60 milhões, este fundo que prevê a compra de unidades mantendo os ex-donos como inquilinos fica porém limitado a imóveis avaliados por peritos certificados pela CMVM, até ao valor de 5 milhões de euros - incluindo hotéis, quintas, casas rurais ou armazéns. No final do prazo (três a 15 anos), a empresa de turismo tem opção de recompra (lease buyback).
Joana Petiz é jornalista do Dinheiro Vivo