Uma queda histórica no PIB, mas com efeitos mitigados
A 25 de abril de 2020, há um ano, uma chamada de primeira página deste jornal alertava para "o risco de o desemprego ultrapassar os 25%", efeito da pandemia. Pouco mais de um mês antes, a covid-19, que atingia duramente o Sul da Europa - Itália, sobretudo -, atirara Portugal para um confinamento severo e fizera soar todas as campainhas da economia, então sem grandes instrumentos de previsão para antecipar o que aí vinha.
A taxa de desemprego foi, afinal, o indicador com a evolução mais surpreendente face aos pressupostos da altura. A taxa de 2020 foi de 6,8%, só três décimas pior que a de 2019. Em parte devido às medidas de apoio que vieram suportar o pagamento de salários pelas empresas - lay-off simplificado e apoio extraordinário à retoma progressiva -, mas também por efeito das classificações estatísticas. Perderam-se num ano 99 mil empregos, mas só houve mais 11,3 mil desempregados oficiais, concluiu o INE.
Bem pior, a contração da economia fez história, sendo a maior em 25 anos. O que o país produz recuou 7,6%, com quatro trimestres consecutivos de quebras (mais agudas de abril a junho). Os números ficaram longe das previsões mais pessimistas que era possível fazer neste dia, há um ano - de contração até aos 14% -, mas também acima do cenário mais benigno, uma quebra de 4,3%, como antecipava o economista Nuno Fernandes no Dinheiro Vivo. Tudo dependia da duração da pandemia, que persiste, e dos apoios que fossem mobilizados. A nível europeu, a 25 de abril do ano passado os países da UE iniciavam a discussão de um plano de recuperação com base em endividamento comum, ao mesmo tempo que eram reciclados os fundos para a reação de emergência. O Banco Central Europeu tinha 750 mil milhões para compra de dívida, num momento em que se receavam reações de agências de rating e de investidores.
Não houve uma temida nova crise das dívidas soberanas. A totalidade dos títulos do Tesouro português custou no ano passado um mínimo desde 2010, uma média de 2,2%, com os custos das novas emissões em 0,5%, também um mínimo das séries da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP).
A dívida avolumou-se. Não só a pública, mas também de empresas e famílias. Juntando o efeito da quebra do PIB, preponderante na subida dos rácios de endividamento, a dívida total da economia chegava em dezembro aos 367,9% do PIB (335,8% do PIB um ano antes). Apenas as grandes empresas foram capazes de reduzir endividamento: em perto de 8 mil milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal.
O fim das moratórias de crédito, no horizonte, e a recuperação incerta são, no atual momento, preocupações após um segundo confinamento severo desde meados de janeiro. Os principais indicadores do primeiro trimestre - a estimativa rápida do PIB pelo INE - serão entretanto conhecidos no final desta semana, ao mesmo tempo que são divulgados dados do desemprego e da atividade turística em março.
Para já, os dados de alta frequência do Banco de Portugal - que tiram pulso à atividade com base em consumos energéticos, circulação ou compras na rede multibanco - apontam a um início de recuperação no final de março, com a reabertura gradual de atividades, sem que as quebras do primeiro trimestre pareçam tão pronunciadas como aquelas que se verificaram nos meses de abril a junho do ano passado, no primeiro estado de emergência.
maria.s.caetano@dinheirovivo.pt