Turquia, Grécia e Croácia são o novo Algarve para os turistas ingleses

Associação dos Operadores Turísticos Independentes do Reino Unido dizem não compreender a exclusão de Portugal do corredor turístico.

Desde que o governo britânico manteve pela segunda vez a necessidade de quarentena a quem regresse de Portugal e a impôs, de um dia para o outro, literalmente, a quem venha de Espanha, aumentou a procura dos britânicos por férias na Turquia e na Grécia.

O último estudo da plataforma de comparação de pacotes de viagens Icelolly.com mostra que os territórios espanhóis de Tenerife, Maiorca e Costa Branca continuavam no top 3 dos destinos mais pesquisados na semana que começou a 19 de julho, mas caíram após o volte-face do executivo de Boris Johnson em relação a Espanha, no dia 24 de julho.

Aos dois novos destinos mais procurados, Turquia e Grécia, Noel Josephides, presidente do operador turístico Sunvil Holidays e diretor da Associação de Operadores Turísticos Independentes (AITO), acrescenta a Croácia. Mas, apesar destas serem as tendências, o medo está a mudar comportamentos. Em entrevista ao Dinheiro Vivo esta semana, Josephides explica: "as pessoas têm medo de marcar férias com receio de uma alteração inesperada dos políticos e deixaram de reservar viagens para a Grécia", um dos destinos na lista dos países com corredor turístico para o Reino Unido. "As pessoas estão com muito medo de viajar. A questão não é que destino escolher, quando se põe de lado a opção pelo Algarve, mas simplesmente desistir sair do país neste verão", explica o líder associativo, que também já foi presidente da ABTA, a associação de operadores turísticos e agentes de viagens do Reino Unido.

"As pessoas mais velhas, o mercado com mais dinheiro, não estão a viajar, estão nervosas e acabam por cancelar", explica, acrescentando que "neste momento tenta-se evitar que cancelem as reservas para Portugal até setembro; esperamos que até lá o senso comum prevaleça e que o governo pare de tomar decisões de um dia para outro" - algo que no turismo é muito difícil de gerir. A empresa que dirige perdeu, pelo menos, 1,1 milhões de euros em vendas, face ao verão de 2019. "Agora é uma questão de gerir o cash flow", uma vez que a cadeia de valor da operação turística está toda a dever dinheiro entre si, desabafou.

Enquanto líder da AITO, Noel Josephides enviou, no dia 6 de julho, uma carta a Jennifer Anderson, diretora dos Serviços Consulares do Foreign and Commonwealth Office, o equivalente ao nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros, reclamando da decisão de não inclusão de Portugal na lista de países com o chamado corredor turístico com o Reino Unido.

"Não podemos compreender a decisão. Portugal já testou 10% da sua população; apenas 3,67% deram positivo, o que classifica o país como o sexto melhor na Europa, com apenas seis mortes por dia. Regiões portuguesas como Madeira, Açores, Alentejo e Algarve estão entre as áreas mais seguras do mundo - certamente muito mais seguras do que o Reino Unido atualmente", lê-se na carta a que o Dinheiro Vivo teve acesso. "Gostaríamos de ver um relatório detalhado explicando porque essa decisão foi tomada.

A resposta chegou oito dias depois, a 14 de julho, mas sem nada que o grupo de empresas turísticas não soubesse: Jennifer Anderson limitou-se a enumerar os vários critérios usados, como "o risco de exposição ao vírus no país"; uma "combinação dos principais indicadores epidemiológicos"; a "assistência médica local; a capacidade de fazer cumprir a lei e a resiliência do transporte." "Posso garantir que cada decisão foi baseada numa análise cuidadosa de todas as informações e dados contextuais relevantes, em particular as taxas atuais de infeção no país", refere a resposta, que sublinha ainda que a Áustria mantém medidas semelhantes em relação a Portugal.

À data de saída desta publicação, e segundo o portal Re-open Europe, a Áustria impõe restrições a quem viaje de Portugal, Suécia, Bulgária, Roménia e Espanha.

Marcar férias no futuro

Enquanto isso, o operador dos pacotes "tudo incluído", o Club Med, revelou à revista Travel Weekly que os clientes estão a optar por reservar férias no futuro. As reservas feitas na última semana de agosto para serem gozadas em outubro aumentaram 42% em relação ao ano anterior; e as reservas para a semana de véspera de Ano Novo subiram 7%. França, Grécia e Turquia foram os principais destinos pesquisados no site do Club Med na mesma data.

Os dados da Icelolly.com mostram ainda o aumento do interesse em reservar férias já para 2021, com os meses de abril, maio e julho a serem os mais procurados. Para Noel Josephides, o facto de Portugal ter sido pela segunda vez excluído da lista de países livres de quarentena no regresso ao Reino Unido é tão incompreensível que chega a colocar a hipótese de o nosso país estar a ser alvo de uma decisão política. "Sentimos que possa ser um problema político", afirma, sem se alongar.

Manuel Lobo Antunes, embaixador de Portugal em Londres, disse esta semana ao Dinheiro Vivo que não entende a decisão de Portugal não ter sido incluído na lista de países cujos viajantes estão isentos de quarentena. "Os argumentos científicos que apoiam a decisão do governo do Reino Unido devem ser vistos num contexto, incluindo outros indicadores que não foram considerados", como a competência do SNS e a capacidade que Portugal tem de testar a covid-19.

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