Turismo nacional. Vacinas ajudam pouco ou nada à retoma

Comissão Europeia corta previsão de crescimento da economia deste ano, sobe a de 2022, mas mantém prognósticos para o turismo na mesma, como no inverno. Este só recupera totalmente da crise em 2023, mais de meio ano após a economia em geral.
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O avanço nos planos de vacinação ao longo dos últimos três meses pouco ou nada vão ajudar a acelerar a recuperação do setor turístico nacional para níveis pré-pandemia, mostra um novo estudo da Comissão Europeia (CE).

Este atraso reflete a extrema dependência ou exposição da economia ao turismo estrangeiro. As previsões apontam para uma retoma, sim, mas muito vagarosa. Mesmo com vacinas.

No início deste ano, quando começaram a ser administradas em larga escala as vacinas (no caso concreto nacional, foi no final de 2020, a 27 de dezembro), Bruxelas ainda estava indecisa sobre se isso se podia reverter num risco claramente positivo para as previsões ou negativo, pois teriam de ser incorporados os efeitos na atividade de eventuais atrasos na produção e entrega de vacinas (como veio a acontecer no caso da Astra Zeneca, aliás).

No início de janeiro, a vacinação em Portugal e no mundo tinha acabado de arrancar. Mas a Comissão assumiu na altura, para Portugal, que o turismo poderia experimentar uma "recuperação notável no verão, particularmente nas viagens entre países da União Europeia, seguida de um ritmo mais gradual daí em diante".

Assim, dizia Bruxelas, "o setor do turismo deverá ficar abaixo do seu nível pré-crise até ao final do período de projeção (2022)".

Mais de três meses volvidos, o cenário da vacinação na maior parte dos países é totalmente diferente (pelo menos no grupo dos mais ricos, pois nos mais pobres e em desenvolvimento há problemas graves de carência de vacinas).

Mas a carência de vacinas em alguns países também poderá travar ou abrandar a retoma do turismo em Portugal. É o caso do Brasil, por exemplo, um mercado emissor muito importante.

Portugal tem mais de 4,4 milhões de doses administradas, o que significa que cerca de 40% da população já levou pelo menos uma injeção e mais de 11% já está totalmente imunizada.

A maioria dos parceiros económicos de Portugal e de muitos mercados importantes em termos de emissões de turismo, sobretudo europeus e Estados Unidos, estão mais ou menos neste ponto, também.

A CE deixou claro que "os desenvolvimentos económicos em 2021 e 2022 serão amplamente determinados pelo sucesso dos programas de vacinação para controlar a pandemia e pela rapidez com que os governos irão suspender as restrições" às atividades e à circulação de pessoas.

"Para a UE, a previsão parte do pressuposto de que, após uma flexibilização marginal das restrições ao longo do segundo trimestre, o avanço na vacinação permitirá uma flexibilização mais acentuada das restrições no segundo semestre."

No entanto, "em 2022, a covid-19 continuará a ser um problema de saúde pública, apesar da alta proporção da população vacinada (incluindo proteção renovada quando necessária, por exemplo, devido a novas variantes". "Portanto, presume-se que algumas medidas de contenção limitadas serão implementadas se necessário", alerta Bruxelas.

Ontem, a Comissão Europeia manteve os prognósticos para o turismo, embora tenha subido um pouco a fasquia para a economia em geral, o que significa que outros setores (os que mais podem beneficiar do Plano de Recuperação e Resiliência) vão crescer melhor do que o esperado.

No entendimento da Comissão, Portugal até vai crescer mais e desta feita é à boleia dos fundos do plano de recuperação e de novo investimento subsidiado a fundo perdido, espera-se.

Ontem, a CE disse que as condições da economia portuguesa pioraram ligeiramente desde fevereiro por causa da covid-19 e dos confinamentos do governo, o que levou ao corte da previsão de crescimento da economia para este ano de 4,1% para 3,9%.

No entanto, a CE reviu em alta a previsão do próximo ano de 4,3% (em fevereiro) para 5,1% agora. Melhor até do que espera o governo (4,9%) no Programa de Estabilidade feito há um mês, colocando assim o país a convergir com a média da zona euro, novamente.

Como referido, o cenário para o turismo, após três meses de avanços importantes no processo de vacinação, está igual.

A CE observa que "o enorme setor da hospitalidade de Portugal, em particular turismo estrangeiro, foi novamente o mais afetado [durante o novo confinamento, que terminou em meados de abril], mas o impacto negativo no crescimento foi limitado devido à base reduzida registada no ano anterior".

Daqui em diante, a CE repete o que disse nas tais previsões de inverno. "A retoma do turismo deverá ganhar velocidade no terceiro trimestre deste ano, mas não esperamos que o setor atinja o nível de atividade pré-pandemia até ao final de 2022".

Razão? "Os riscos tendem para o lado negativo porque o País é altamente dependente do turismo estrangeiro e aqui o curso da retoma é altamente incerto", diz Bruxelas.

Por exemplo, a balança corrente do País deverá continuar ligeiramente negativa pois "a receita líquida do setor das viagens que entra na economia deverá continuar abaixo do nível pré-pandemia" até 2023, alerta a CE.

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