Luís Costa Ferreira assume no dia 15 a pasta da Supervisão Prudencial do Banco de Portugal. Um regresso à casa-mãe, de onde saiu em outubro de 2014 para uma breve passagem pela consultora PwC..Nos dois anos em que ocupou a liderança da área de Serviços Financeiros, Risco e Regulação da auditora, foi o responsável máximo pela relação com os clientes do setor financeiro. Uma carteira composta pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Montepio, o BPI e o Haitong Bank, apurou o DN/Dinheiro Vivo. Precisamente alguns dos bancos que terá de supervisionar a partir da segunda semana de fevereiro, na sequência da demissão de Carlos Albuquerque, comunicada ontem pelo Banco de Portugal. Contactada, a PwC sublinhou que não comenta questões relacionadas com clientes. Já os especialistas legais confrontados pelo DN/Dinheiro Vivo identificam um "impedimento ético-moral" na transição de cargos, mas admitem não existir qualquer conflito jurídico..A saída de Luís Costa Ferreira do Banco de Portugal, em finais de 2014, já tinha gerado polémica. Fonte próxima do processo revelou ao DN que o então diretor de Supervisão Prudencial aceitou trocar a instituição que representava há 20 anos por um cargo bem remunerado no setor privado, com o qual o Banco de Portugal não conseguia competir. Tudo aconteceu após o verão quente que culminou com o fim do BES..Costa Ferreira fez-se acompanhar pelo subdiretor do mesmo departamento, Pedro Machado, que permanece na PwC. Na altura, estava ainda em curso a auditoria ao Novo Banco, da qual resultou o balanço inicial do "banco bom" que nasceu após a intervenção do supervisor. Uma solução que teve em Costa Ferreira um dos principais obreiros..A auditoria ao Novo Banco foi conduzida pela própria PwC, que tinha sido contratada pelo Banco de Portugal sem concurso público. E que depois foi a consultora escolhida pelo Novo Banco para fazer a auditoria à anterior gestão do banco. Um dos objetivos da contratação sonante dos dois responsáveis, segundo a mesma fonte, seria garantir as auditorias à Caixa Geral de Depósitos e ao BCP. Objetivos que acabaram por não ser alcançados..A saída dos dois responsáveis do regulador não foi pacífica e levantou dúvidas sobre um eventual conflito de interesses e falta de transparência. O PS chegou a pedir uma audição aos dois responsáveis na comissão de inquérito à gestão do BES, mas o requerimento não chegou a ir para a frente..A transição dos dois quadros do banco público para o setor privado aconteceu numa altura em que o departamento de supervisão do Banco de Portugal estava debaixo de fogo, depois de conhecida uma troca de correspondência com a Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia dias antes de ter sido apresentada publicamente a solução para o BES..Dois anos depois, Costa Ferreira volta à casa onde começou a carreira em 1994, depois da demissão de Carlos Albuquerque, que chegou ao Banco de Portugal em 2014 vindo do BCP e que agora deverá assumir funções como administrador executivo da CGD, na nova equipa liderada por Paulo Macedo. O pedido para cessar funções teve efeito a 31 de janeiro, mas a entrada do ex-responsável no banco do Estado não será imediata..A instituição liderada por Carlos Costa, ao abrigo das normas europeias, impôs a Albuquerque um período de transição "durante o qual não poderá assumir funções em instituições financeiras sob a supervisão do Banco de Portugal e do Mecanismo Único de Supervisão". Durante este período de nojo, que não é quantificado, Albuquerque "desempenhará funções, em regime de destacamento, num projeto externo de solidariedade social, ligado ao tema do sobre-endividamento"..A SIC avançou ontem que Carlos Albuquerque terá recebido um convite para integrar a administração do BCP, mas terá optado pelo banco público.