Riscos das moratórias "mais controlados" mas há sinais de deterioração
O Banco de Portugal (BdP) afirma que os riscos de incumprimento relativamente às moratórias estão "mais controlados" que o esperado, observando-se contudo "sinais de deterioração" na qualidade desse crédito, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira divulgado esta segunda-feira.
"A informação recolhida junto das principais instituições bancárias sugere que os riscos de incumprimento se encontram mais controlados do que o inicialmente esperado, apesar da incerteza que ainda existe", pode ler-se no documento que foi esta segunda-feira divulgado.
Segundo o BdP, "no geral, o setor dos particulares demonstrou maior resiliência, enquanto no caso das empresas, em especial nos setores mais vulneráveis, poderão existir mais dificuldades com o retomar do serviço da dívida".
Porém, o banco central esclarece que "os dados disponíveis não permitem ainda determinar o impacto do final da moratória na qualidade dos ativos do sistema bancário".
"No final do primeiro semestre de 2021, observaram-se, contudo, alguns sinais de deterioração na qualidade do crédito para alguns dos mutuários que beneficiaram da moratória e para as empresas de setores mais afetados", adianta ainda o supervisor.
Ainda assim, com base em informação preliminar relativa a outubro de 2021, o supervisor bancário indica que esta "não sugere uma deterioração significativa da qualidade dos empréstimos que beneficiaram de moratória".
"A monitorização do risco de crédito requer uma abordagem proativa por parte dos bancos na definição de soluções de recuperação dos mutuários viáveis e, nas situações de não viabilidade, o reconhecimento atempado das perdas", adverte a instituição liderada por Mário Centeno.
O BdP considera que estas abordagens "são fundamentais para a gestão eficiente do risco de crédito".
"No caso de mutuários viáveis, mas em dificuldade, os bancos poderão ter um papel essencial na sua recuperação através da renegociação e reestruturação atempada das operações de crédito", indica o BdP.
O supervisor relembra que "os bancos têm ao dispor instrumentos, com condições favoráveis, que permitem o apoio à recuperação dos mutuários, como a linha Retomar e as linhas de crédito com garantia do EGF (fundo de garantia pan-europeu)".
"No entanto, a melhoria da situação financeira das empresas deve também ser alcançada através do reforço dos seus capitais", sugere o BdP.
O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, considerou ainda que a evolução da inflação está "muito dependente da redução do impacto de fatores que permanecem temporários", como a energia.
"A evolução da inflação, em geral, está muito dependente da redução do impacto de fatores que permanecem temporários", disse hoje Mário Centeno aos jornalistas na conferência de imprensa de apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira, que decorreu hoje no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
Mário Centeno elencou "desde logo a energia, cuja flutuação de preço nas últimas semanas, nalguns casos até nos últimos meses, tem sido de redução".
O governador do Banco de Portugal recordou as previsões do Eurosistema para a inflação na zona euro, que "mostram como no médio prazo, no final do horizonte de previsão", estarão "finalmente próximas" do objetivo fixado pelo Banco Central Europeu (BCE) para a inflação (2%).
"As previsões, desse ponto de vista, são positivas para aquilo que é a condução da política monetária", afirmou o governador.
Por outro lado, Mário Centeno advertiu que "o efeito da pandemia" ainda está presente, pelo que "as consequências económicas e financeiras da pandemia só se revelarão ao longo do tempo".
"Temos que nos manter a pilotar estas previsões com esta cautela adicional, e ela tem consequências não apenas na inflação, mas para a estabilidade financeira", disse Mário Centeno.