Retalho terá de ficar mais caro pós-covid
Digitalização e sustentabilidade. São duas áreas cuja implementação nas empresas foi acelerada pela pandemia. A par da necessidade de as organizações terem capacidade de se adaptar e de apresentar processos e soluções simplificadas. Foi a ideia transmitida por Pedro Salter Cid, CEO da Auchan Retail, durante o debate realizado no 6.º congresso da GS1 Portugal, subordinado ao tema "Identificar os desafios e preparar o futuro: adaptação ao mercado pós-covid". Ao que Paolo Fagnoni, CEO da Nestlé Portugal junta que a empresa, apesar de já estar há algum tempo a trabalhar a temática da sustentabilidade, foi obrigada a revalidar, por completo, toda a cadeia de valor.
"A pandemia modificou a perceção do consumidor em relação à sustentabilidade", sendo que, hoje, esse é um fator determinante aquando do momento da escolha. Ao que Luís Moutinho acrescenta que "hoje a sustentabilidade é um imperativo ético". E é um tema que "não tem necessariamente de trazer mais custos para o cliente". Cabe às empresas conseguirem otimizar os seus processos por forma que não haja um extra (ou pelo menos não um custo acrescido muito elevado).
No caso do retalho, o "novo" consumidor é cada vez mais omnicanal, o que obriga a que as empresas tenham uma "abordagem holística", refere o CEO da Sonae. Porque embora o comércio eletrónico tenha registado um aumento isso não ocorre em todos os setores. O alimentar, por exemplo, explica, tradicionalmente tem menor penetração do e-commerce. "Os bons clientes são os que compram nos dois canais", diz.
Quando se fala em sustentabilidade é inevitável abordar o tema da reciclagem. E das taxas inerentes. Que, segundo os vários oradores, não contribuem em nada para uma mudança no comportamento de consumo do consumidor. As únicas vezes em que isso realmente aconteceu, refere António Casanova, CEO da Unilever, foi quando a indústria e os retalhistas se juntaram e tomaram a iniciativa. Sem intervenção estatal. O que significa que as ações do Estado são ações de um Estado "oportunista" - veja-se o exemplo do plástico.
Ainda sobre este tema, Rui Miguel Nabeiro, CEO da Delta Café lembra a necessidade de avançar com cautela e decisões ponderadas. Para este Executivo, na pressa de se avançar para meios alternativos, corre-se o risco de ir para algo que é uma má solução do ponto de vista sustentável. E exemplifica com a passagem dos copos de plástico para os de papel (com plástico no interior). Se os primeiros eram recicláveis, os segundos não o são. Qualquer que seja a solução tem de ser sustentável do ponto de vista ambiental e económico, acrescenta.
A par da pandemia, que levou a um constrangimento no acesso a matérias-primas e respetivo transporte/logística para os mercados destino, hoje vive-se uma crise do preço da energia. Tudo isto fez disparar os preços das matérias-primas. E não se vislumbra tão cedo uma mudança neste cenário. Antes pelo contrário.
As previsões são, segundo António Casanova de um agravamento da situação, com um aumento dos preços na ordem dos dois dígitos. E parte desse valor terá, necessariamente, de passar para o consumidor. "Em 2022 os aumentos andarão na ordem dos 5% a 10%", antecipa o CEO da Unilever.
Sobre este tema, Pedro Salter Cid é perentório: "Temos de encontrar processos mais simples para não passar tudo para o consumidor".
Mas, de nada serve, avançar-se com mil e uma soluções se não houver o cuidado de educar o consumidor. O alerta é dado por Paolo Fagnoni que acredita que só explicando o porquê das coisas é que o consumidor muda verdadeiramente os seus comportamentos.
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A pandemia modificou mesmo a perceção do consumidor em relação à sustentabilidade. Hoje esse é um fator determinante aquando para a escolha.