Redução do IVA nos alimentos virá tarde, defende dona do Pingo Doce
Jerónimo Martins diz que vai "repercutir integralmente" eventual redução fiscal nos seus produtos. Inflação impulsionou vendas consolidadas do grupo para 25,4 mil milhões.
Resultados Jerónimo Martins diz que vai "repercutir integralmente" eventual redução fiscal nos seus produtos. Inflação impulsionou vendas consolidadas do grupo para 25,4 mil milhões.
Relacionados
Se a medida anunciada pelo primeiro-ministro de baixar o IVA dos alimentos avançar, o presidente executivo da Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos, garante que a redução vai ser refletida nas lojas portuguesas do grupo. O responsável falava ontem numa conferência de imprensa, após a apresentação dos resultados anuais da empresa.
Recorde-se que na quarta-feira António Costa disse, na Assembleia da República, e em resposta ao PCP, que o governo vai trabalhar com com a cadeia alimentar para agir sobre os preços em diversas dimensões: garantir ajudas do Estado à produção para que consiga diminuir custos e encontrar "o equilíbrio entre redução da fiscalidade - ou seja, do IVA - e a garantia de que essa redução da fiscalidade se traduz numa redução efetiva e estabilização dos preços".
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Em consonância com as declarações de Pedro Soares dos Santos, a CEO do Pingo Doce, Isabel Ferreira Pinto, garantiu igualmente: "Vamos repercutir integralmente a diminuição do IVA nos nossos produtos", declarando de seguida que, apesar das informações que têm sido veiculadas, "não é verdade que a medida não tenha tido efeito em Espanha".
E apontou o dedo ao governo, sublinhando que se a baixa do IVA realmente avançar, a medida peca por tardia, e que já o devia "ter feito há mais de um ano". E que em toda esta situação de crise alimentar "o governo foi o interveniente na cadeia de valor que não fez qualquer tipo de diminuição na sua receita no ano passado".
Também Pedro Soares dos Santos aproveitou para tecer duras críticas à atuação do Executivo liderado por António Costa. O CEO do grupo dono do Pingo Doce considera igualmente que as medidas vêm tarde e "chegam numa altura em que vai haver um certo alívio da inflação. Por isso, se calhar elas já vêm nessa altura para custar menos", afirmou o gestor. O alívio da inflação deverá chegar no segundo trimestre deste ano, embora o gestor alerte que os preços já não voltarão ao que eram. E como a "União Europeia voltou a anunciar que a dívida pública tem de ser controlada, o défice tem de voltar aos números anteriores", declarou.
Já no que se refere às ajudas às empresas, Pedro Soares dos Santos apela a que estas sejam encaminhadas na totalidade para a produção, desde que se garanta que os produtos ficam em Portugal. E relembrou a escassez que se viveu no ano passado.
Questionado sobre a possível redução do investimento em Portugal devido ao clima de suspeição lançado sobre as empresas de distribuição, o responsável declarou lamentar "profundamente as afirmações que o senhor ministro da Economia fez, foram afirmações muito infelizes". "Muito de quem realmente anda fora do que é o mundo real, onde nós estamos. Claro que acredito que o governo, pressionado por esta contestação social que está a acontecer, procure desviar as atenções e foi o que fez", declarou, remetendo para as ações que a ASAE levou a cabo nas últimas semanas em vários supermercados. No início do mês, António Costa Silva anunciou o reforço das ações de fiscalização de preços na distribuição e prometeu "ser inflexível" com todas as "situações anómalas". "Acho que o discurso começou a mudar porque as pessoas começaram a perceber que por trás disto tudo havia uma grande mentira liderada pelo senhor ministro da Economia", acusou.
Soares dos Santos garantiu que a sede da JM vai continuar a ser em Lisboa e que acredita que o grupo que lidera tem "propostas de valor para apresentar aqui". Neste sentido, o gestor revelou que nos próximos três anos a JM vai investir mil milhões de euros no Pingo Doce. Na Polónia o investimento será de 2,5 mil milhões a cinco anos e na Colômbia de mil milhões, também a cinco anos. A empresa pretende, ainda, investir 150 milhões, anualmente, na agroindústria.
No decorrer da conferência de imprensa, Pedro Soares dos Santos afirmou que grupo está há três anos a ser fortemente impactado, quer pela pandemia, quer pela guerra na Ucrânia e a inflação. E admitiu que os 25,4 mil milhões de euros de vendas consolidadas (mais 21,5% do que em 2021) aconteceram com a ajuda da inflação, mas garantiu que não é destas vendas que a JM "gosta". "A inflação é o maior imposto que afeta as pessoas pobres e retira competitividade", afirmou, declarando que o que "mantém o mercado saudável é a competitividade".
De referir que a dona do Pingo Doce viu o seu lucro crescer 27,5%, para 590 milhões de euros no ano passado.
Mónica Costa é jornalista do Dinheiro Vivo