Quase 300 milhões em setembro. Recurso ao crédito pessoal e aos cartões de crédito dispara

Defesa do consumidor alerta que o pior ainda pode estar para vir, já que as atuais medidas do governo deverão afetar ainda mais as famílias.

As famílias recorreram mais ao crédito pessoal, linhas a descoberto e aos cartões de crédito no mês de setembro. Os montantes de novos créditos nestes segmentos dispararam mais de 16% face ao mês de agosto. Os dados foram divulgados esta segunda-feira pelo Banco de Portugal e mostram que no mês de setembro os portugueses contrataram 209 milhões de euros em crédito pessoal, uma subida de 16,9% face a agosto.

Quanto ao novo crédito relacionado com linhas a descoberto e cartões de crédito, subiu 16,1%, fixando-se em 89 milhões de euros. "Este é um indicador de que mais famílias estão em dificuldades em fazer face às suas despesas", diz Natália Nunes, diretora do Gabinete de Apoio Financeiro (GAF) da Deco. "Estes são meios muito utilizados pelas famílias para fazer face às despesas do dia-a-dia. Em setembro, terminaram algumas moratórias e houve ainda o regresso às aulas, o que traz sempre mais despesas", salienta.

A responsável da defesa dop consumidor explica que ao GAF têm chegado mais pedidos de ajuda de famílias em dificuldades financeiras, nomeadamente com créditos nas empresas que recusaram continuar com moratórias - Cetelem, Cofidis e Oney (Auchan).

"Tivemos o mesmo a acontecer na crise de 2012, quando mais famílias acabaram por recorrer aos cartões de crédito e crédito pessoal para pagar as despesas diárias", disse Natália Nunes. "Continuam a aumentar os pedidos de ajuda e já temos pedidos de pessoas com créditos que já não têm moratória", frisou. Lembrou que a crise tem levado a um aumento do desemprego e muitas famílias perderam parte ou a totalidade dos seus rendimentos. Com as medidas atuais em vigor, após a declaração do estado de emergência, e o eventual confinamento total que poderá chegar em dezembro, Natália Nunes teme pelas famílias. "A situação é muito complicada. Só não é mais complicada porque ainda estão em vigor as moratórias no crédito à habitação", disse. Estas moratórias viram o seu prazo limite ser alargado para o final de setembro de 2021.

O confinamento forçado da população a partir de meados de março, que durou até ao início de maio, gerou uma das maiores crises económicas de sempre. O desemprego disparou, empresas fecharam e outras colocaram os trabalhadores em regime de lay-off. O governo voltou a adotar a mesma linha estratégica este mês de novembro, seguindo as táticas adotadas por outros países europeus, que analistas antecipam irão gerar mais desemprego e insolvências de empresas. "Estas medidas vão afetar o tecido empresarial e a economia e vão acabar por atingir ainda mais as famílias e deixá-las numa situação difícil", alerta Natália Nunes. "Era bom que empresas de crédito ao consumo ajudassem as famílias em dificuldades a renegociar os seus créditos ou vai ser muito complicado", avisa.

No global, segundo os dados do supervisor bancário, os portugueses endividaram-se em mais 538 milhões de euros em crédito ao consumo. Trata-se de uma subida de 6,4% face a agosto, enquanto em termos homólogos houve uma quebra de 15,3%. Só o crédito automóvel registou uma quebra mensal, de 4,1%, em setembro, atingindo o montante de 240 milhões de euros. O número de novos contratos de crédito ao consumo atingiu os 110,1 mil, um aumento de 9,3% em termos mensais e uma quebra de 19,3% face a setembro de 2019.

No geral, os portugueses endividaram-se em mais 4364 milhões de euros em créditos ao consumo, desde o início de 2020, uma quebra de 21% face a igual período do ano passado. Mas os valores estão a regressar aos níveis pré-pandemia.

Elisabete Tavares é jornalista do Dinheiro Vivo

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