Primeiro astronauta europeu a voar na SpaceX dirigido por um português

Primeira missão da ESA (agência europeia) à Estação Espacial Internacional com boleia da SpaceX, empresa privada que pertence a Elon Musk, é já no final de abril. O diretor de voo é o português João Lousada, que terá a seu cargo o astronauta Thomas Pesquet, o primeiro europeu a viajar com a SpaceX.

Podia ser apenas mais uma viagem à Estação Espacial Internacional (ISS) - na subórbita terrestre desde 1998 e com sete astronautas das cinco agências participantes, NASA, Roscosmos (Rússia), JAXA (Japão), ESA (Europa) e CSA (Canadá). Mas a missão Alpha - nome escolhido por ser uma letra do alfabeto grego ligado à excelência e também o nome sistema estelar mais próximo do Sistema Solar (Alpha Centauri) - tem algumas características diferentes do habitual.

Desde logo será a primeira missão da ESA (agência europeia) que irá ter boleia da SpaceX, de Elon Musk, mas será também uma missão coordenada na ISS pelo português João Lousada, que é o diretor de voo do módulo Columbus (lançado em 2008 e que custou 1,4 mil milhões de euros), que é o laboratório científico da ISS cujo controlo é feito a partir do Columbus Control Center, em Munique, na Alemanha, sob a direção do português.

O astronauta francês de 43 anos Thomas Pasquet será assim o primeiro europeu a voar pela nave Crew Dragon, naquele que é o segundo voo operacional da empresa privada SpaceX. Será a segunda missão para Pasquet à ISS e o lançamento está previsto para final de abril, no Cabo Canaveral, nos EUA. O destino? Cerca de 400 km (depende dos dias) da superfície terrestre, onde está a ISS.

Ao DN/Dinheiro Vivo, João Lousada, que se vai candidatar no final deste mês a astronauta da ESA - um sonho antigo e para o qual tem cada vez mais hipóteses de concretizar - admite que o surgimento da SpaceX "é muito importante". Trata-se da primeira empresa privada a colocar astronautas na ISS, mas também "permite deixar de ficar a depender só de um veículo para colocar astronautas no espaço - temos contado sempre com a Soyuz da Rússia - e também torna possível testar novas tecnologias de voo espacial, onde a SpaceX se tem distinguido".

Se existir algum um problema com um veículo espacial, "como aconteceu com o Space Shuttle [que voou de 1981 a 2011], toda a estratégia do espaço pode cair por terra e é fundamental haver alternativas". A verdade é que a cápsula Crew Dragon é considerada o veículo espacial mais avançado de sempre, bem como o foguetão Falcon 9, o primeiro que é reutilizável e que em janeiro bateu o recorde de maior lançamento de satélites para a órbita - 143 num só lançamento.

O português confessa "entusiasmo" com a próxima missão, que o coloca no leme - "o Pasquet vai ser as mãos no espaço da minha equipa na Alemanha". A preparação está a ser minuciosa e a ser feita há algum tempo e João Lousada terá a responsabilidade "por todas as decisões" da missão de seis meses: "espero que consigamos cumprir todos os objetivos, já que temos dezenas de experiências científicas e temos de manter o equipamento bem conservado para o bem de todos".

Que experiências são? "Vão desde a forma como o corpo humano lida com o espaço até aos melhores equipamentos a usar em diferentes áreas, com muitas experiências a ter aplicações nas áreas médicas na Terra".

Os passeios espaciais são os momentos de maior stress e pressão, "porque há muita coisa que pode correr mal", admite, "mas são muito motivadores porque conseguimos tirar mais dados para a missão e é um bom sentimento quando um passeio termina com todos os objetivos cumpridos".

O lisboeta de 32 anos que vive na Alemanha desde 2016 ao serviço do grupo GMV que coordena o centro Columbus, desde pequeno, nas visitas à aldeia dos avós, em Bouçã (junto ao rio Zêzere) sonha com a exploração espacial e admite que está "preparado para ser astronauta" da ESA.

Embora tenha um dia a dia ocupado repleto de problemas e desafios para resolver, quando trabalha à noite no centro tem oportunidade de ver a Terra em todo o seu esplendor. "Dali não há fronteiras e guerras e conflitos perdem o sentido, o planeta é só um e a atmosfera é fina e frágil e algo que nos permite viver e, por isso, fundamental de preservar", admite.

Nova missão europeia em 2022 já marcada

Entretanto, a ESA anunciou ontem que a astronauta italiana Samantha Cristoforetti foi designada para uma segunda missão espacial e irá voar para a Estação Espacial Internacional na primavera de 2022, seguindo para missão já depois do astronauta da ESA Matthias Maurer ir no final de 2021 para a ISS.

O treino para a segunda missão de Samantha já está em andamento e incluiu sessões de atualização da Estação Espacial Internacional no Centro Europeu de Astronautas da ESA em Colónia, Alemanha, e o Centro Espacial Johnson da NASA em Houston, Texas.

João Tomé é jornalista do Dinheiro Vivo

Pode ouvir a entrevista completa a João Lousada no podcast Made in Tech:

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