Portugal regista o maior aumento de imigrantes vindos da União Europeia

Cidadãos com origem noutros países do bloco dos 27 cresceram 13%, para 111 mil. Mas o peso dos pensionistas será elevado: mais de um décimo tem 65 ou mais anos.

O ano de 2020 terá favorecido largamente as intenções de mudança para Portugal entre residentes de outras paragens do bloco europeu, com o país a registar o maior crescimento de imigração intraeuropeia, segundo um novo relatório publicado pela Direção-Geral de Emprego da União Europeia.

O documento, que analisa as últimas tendências de livre circulação no bloco, recolhe dados até janeiro, pelo que não entram nas contas ainda os efeitos do embate da pandemia, que deverá ter feito regredir os números globais daqueles que mudam de país dentro da UE. Também poderá, no entanto, ter determinado mais intenções de imigração para alguns países, nomeadamente, entre teletrabalhadores.

Até ao arranque de 2020, regista-se uma subida de 13% no número total daqueles que, vindos dos restantes 26 países da União, escolheram passar a morar em Portugal. Passaram a 111 mil, mais 13 mil do que no ano anterior. Logo atrás, Países Baixos e Hungria foram os países que mais viram aumentar a imigração com origem na UE, com subidas de 10% e de 9%, respetivamente, para 449 mil e 61 mil.

No conjunto dos 27, contavam-se mais de 9,9 milhões de cidadãos europeus a viver fora, num crescimento de 1,6% face a 2019. A subida conjunta foi de 156 mil, número no qual os 13 mil novos imigrantes europeus em Portugal representam uma fatia de 8%.

Assim, Portugal acolhe praticamente um décimo da nova imigração europeia líquida. Mas, ao mesmo tempo, mantém-se também entre os países com mais cidadãos noutras partes do bloco. São 7% do total da imigração intraeuropeia, cerca de 696 mil pessoas, sendo Portugal o quarto maior país de origem dos fluxos, atrás de Roménia (25%), Itália (11%) e Polónia (11%).

Já a Alemanha é ainda o principal país de destino, com perto de 3,3 milhões de imigrantes vindos de outros países europeus. Seguem-se-lhe Espanha (cerca de 1,3 milhões), Itália (1,1 milhões) e França (911 mil).

Os dados mais detalhados do relatório quanto à participação dos imigrantes nos mercados de trabalho locais já levam em conta os efeitos da pandemia, mas com informação inexistente para Portugal na maior parte dos casos.

Os imigrantes intra-UE tiveram maiores perdas de emprego no turismo, mas beneficiaram mais de subidas em atividades com teletrabalho.

Globalmente, a Direção-Geral de Emprego anota os setores em que os imigrantes intraeuropeus mais perderam emprego em 2020, tendo sido nestes casos mais penalizados de uma forma geral do que os nacionais do país para onde se mudaram. A maior queda ocorreu nas atividades ligadas ao turismo, o alojamento e a restauração, sendo de 13%. No setor de transportes foi também elevada, de 9%.

Por outro lado, aumentou o emprego para quem mudou de país dentro da UE "nos setores menos fortemente atingidos pela pandemia, com adaptabilidade ao teletrabalho como principal critério (informação e comunicações, e serviços profissionais), e no setor da saúde", onde as necessidades de pessoal aumentaram. Nestes setores, os não nacionais foram os maiores beneficiários do aumento de emprego, com subidas de 20% nas atividades de informação e comunicações (apenas 4% entre nacionais) e 9% na saúde (sem alterações entre nacionais).

Mas, nem todos aqueles que mudam de país no bloco saem para trabalhar. E, aqui, Portugal está entre os países com maior proporção de imigrantes intraeuropeus com 65 ou mais anos, acima de 10%, nota o documento. É assim também na Suécia e nalguns países do leste da Europa. Na Alemanha e em Espanha, o peso destas faixas etárias está em 9%, com percentagens abaixo de 5% nos Países Baixos, na Itália e na Irlanda.

Além da imigração intraeuropeia, os fluxos para Portugal parecem também favorecidos pelo brexit, com o número estimado de residentes britânicos no país a subir de 15 mil para 20 mil. Apenas Espanha regista um maior aumento, em termos absolutos, com os imigrantes do Reino Unido a subirem de 149 mil para 157 mil.

Portugal é ainda dos países com maior crescimento de nacionais regressados, aqui em dados de 2019. Terão nesse ano aumentado de 16 mil para 20 mil, incluindo não apenas quem vivia na UE mas também quem estava emigrado em países terceiros. No conjunto dos 27, o número de nacionais regressados subiu em 43 mil, passando a 721 mil.

Nestes grupos, o relatório da Direção-Geral do Emprego da UE destaca que quem chega tem predominantemente idades jovens (entre os 20 e os 34 anos), é solteiro e sem filhos, tendo qualificações de nível superior. Apesar do conhecimento da língua do país natal e da familiaridade cultural, os regressados enfrentam o desafio das fracas ligações ao mundo do trabalho e interpessoais após os anos de afastamento, com o relatório a destacar a importância de programas de apoio que têm sido mobilizados em vários países europeus. Em Portugal, existe o programa Regressar, que será prolongado até 2023.

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