Mercado das bebidas espirituosas vale 700 milhões mas está a cair

Portugueses estão a beber mais e o turismo ajuda ao consumo, mas as empresas do setor queixam-se da excessiva carga fiscal
Publicado a
Atualizado a

Todos os anos, a produção de bebidas espirituosas em Portugal gera um volume de vendas entre os 60 e os 70 milhões de euros. Mas os valores da indústria como um todo ascendem a quase 700 milhões no território nacional. Os dados foram fornecidos pela Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas (ANEBE) ao DN/Dinheiro Vivo e dizem respeito a um estudo encomendado à EY Portugal, neste ano. O mesmo estudo, no entanto, revela que o valor global deste mercado já foi maior e vai continuar a cair até 2018. Desde 2013 que as vendas estão em queda, ano em que valiam quase 800 milhões de euros (ver gráfico).

O presidente da ANEBE, Daniel Redondo, da empresa Licor Beirão, aponta o dedo ao aumento da carga fiscal, que diz representar atualmente mais de metade (53%) do custo de uma garrafa de bebida alcoólica, considerando o IVA e o IABA (imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas). Este, avança a associação, aumentou cerca de 26% desde 2011.

Estima-se que a indústria das bebidas espirituosas entregue anualmente perto de 50 milhões de euros aos cofres do Estado em IVA, "apenas nas aquisições de bens e serviços ao longo da cadeia de produção e distribuição", contribuindo para a geração de 40 milhões de euros em receitas de IRC, conclui a análise da EY.

Apesar da contração do setor nos últimos anos, a indústria das bebidas espirituosas - que emprega direta e indiretamente quase seis mil pessoas -, também tem contribuído para o aumento das exportações portuguesas. O estudo considera que a indústria tem "um forte músculo exportador". No conjunto, vende para o exterior perto de 50 milhões de euros anuais. Desde 2010, com exceção do ano 2013, em que se registou uma pequena quebra, que o valor exportado está a subir. Em 2016, no entanto, verificou-se uma desaceleração do crescimento em relação aos dois anos anteriores.

Portugal produz licores, brandy, bagaceira, rum, ginja e gin. Mas também há empresas que importam outro tipo de bebidas espirituosas e que depois exportam para mercados como o angolano e o espanhol. A produção nacional tem uma fatia de 35% do mercado interno, e 80% das empresas com atividade no setor são pequenas e médias empresas.

O estudo destaca também o papel desta indústria no turismo e na restauração. "Desde logo pelo relevante valor da margem que as bebidas destiladas oferecem aos operadores económicos, nomeadamente restaurantes, bares e discotecas". O setor das bebidas espirituosas contribuiu, segundo a consultora, para a criação ou a manutenção de um total de 21 275 empregos em restaurantes, bares e discotecas, através dos quais são realizadas mais de metade das vendas (58%). A comercialização nos super e hipermercados não passa de 17,5%.

Em contraste com Portugal, as vendas em Espanha cresceram 4% em 2016 para 214 milhões de litros. O setor contribuiu com 0,12% para o PIB espanhol. Só as exportações cresceram 6% para 589 milhões de euros no ano passado. O setor emprega direta e indiretamente 330 mil pessoas.

Consumo de álcool a aumentar

As bebidas espirituosas têm um peso de 11% no total de bebidas alcoólicas consumidas em Portugal, avança a ANEBE. Primeiro vem o vinho (55%) e a seguir a cerveja (31%). Em 2016, os portugueses consumiram 24,1 milhões de litros de bebidas espirituosas, mais 3,71% do que em 2015, de acordo com os dados da consultora britânica IWSR, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso.

No ano passado, o whisky foi o produto preferido do setor, seguido dos licores e do brandy. Vodka e gin compõem o resto do top 5, em quarto e quinto lugares, respetivamente. Por outro lado, o rum foi a bebida espirituosa que mais cresceu, tendo registado uma subida de 33% em 2016, em relação ao ano anterior.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, Portugal está entre os dez maiores consumidores de álcool do mundo, com um consumo de 12,5 litros per capita.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt