Nos últimos cinco anos, houve uma média de uma colhida por semana nas linhas de comboio em Portugal. Quando tal acontece, são os maquinistas que têm de pedir à empresa para serem retirados temporariamente da condução, no espaço de uma semana. O Sindicato dos Maquinistas vem agora exigir que a suspensão de funções passe a ser automática e que haja um acompanhamento independente a estes trabalhadores.."Após uma colhida ou acidente, todos os operadores ferroviários preveem que o maquinista possa solicitar um apoio psicológico. Só que esse acompanhamento não é independente da vontade do trabalhador. Por causa disso, deve ser retirado automaticamente da condução logo no dia seguinte", defende ao DN/Dinheiro Vivo o presidente do SMAQ, António Domingues..Essa medida, reconhece o dirigente, tem custos económicos para as empresas - têm de colocar um maquinista em trabalho extraordinário - mas "proporciona uma maior sensação de segurança para os passageiros"..Na CP - Comboios de Portugal, desde 2014 que este tipo de ocorrências é considerado um "acidente de trabalho". Só que não abrange todos os trabalhadores envolvidos, reconhece fonte oficial. A transportadora pública lembra que existem "consultas adequadas de psicologia e/ou psiquiatria, submetendo-se os trabalhadores a observação e apreciação" a nível clínico..Na Fertagus, existe um "um procedimento interno que determina que os maquinistas envolvidos nestes episódios sejam de imediato retirados da condução e avaliados pela respetiva chefia". Nas mercadorias, a Medway encaminha as tripulações para uma "consulta de avaliação médica", por um especialista, e os trabalhadores "cumprem prescrição/tratamento adequado ao seu quadro clínico, incluindo apoio psicológico"..António Domingues reconhece que o apoio psicológico aos maquinistas melhorou nos últimos anos. Antes, segundo o dirigente, "as colhidas aconteciam e os trabalhadores continuavam a trabalhar como se fossem super-homens". Nos casos mais graves, um acidente "pode transformar-se numa doença mental", o que implica desviar estes profissionais da cabina de condução e colocá-los noutras funções..Evitar essa situação também depende da criação de um gabinete de avaliação contínua para avaliação externa destes condutores. "Este gabinete deve estar sempre disponível porque o stress resultante destas situações pode não vir no dia a seguir mas só semanas ou meses depois da ocorrência.".A lei portuguesa prevê avaliações frequentes aos trabalhadores para manterem a carta de maquinista só que "há várias situações em que não se assume um eventual problema mental" para não perder esta avaliação..Diogo Ferreira Nunes é jornalista do Dinheiro Vivo