Maioria das empresas volta a querer contratar mais até ao verão
Depois de um início de ano muito pessimista devido ao novo confinamento geral, os empresários estão mais confiantes para os próximos meses, no que toca a intenção de contratar mais trabalhadores e à evolução do negócio.
Em janeiro e fevereiro as expectativas dos gestores portugueses afundaram com o segundo fechamento geral do país e de quase todas as atividades, com a terceira vaga da pandemia a chegar em força em meados de janeiro. Os setores da construção e obras públicas e da indústria transformadora apontavam para meses maus, mas tinham uma perspetiva menos negativa do que os restantes.
O inquérito de conjuntura do Instituto Nacional de Estatística (INE) de abril, como em todos os meses, perguntou a perto de quatro mil empresários e gestores as expectativas que tinham para os próximos três meses sobre temas como novas contratações, produção (no caso da indústria), atividade (comércio), construção (vendas) e serviços (procura). O universo consultado representa quase 70% da economia portuguesa medida em termos de valor acrescentado bruto (VAB).
O INE mede o sentimento dos empresários através de um saldo das respostas extremas, que é a diferença entre as respostas dos gestores sobre várias questões onde se inclui, por exemplo, a contratação de mais trabalhadores nos próximos três meses e os que, pelo contrário, antecipam uma diminuição de trabalhadores. A mesma metodologia é usada para as restantes questões, como a evolução do negócio.
O inquérito decorreu entre os dias 1 e 23 de abril através da plataforma digital do INE, ou seja, quando o país já estava na terceira fase do desconfinamento, com a reabertura de todas as lojas, incluindo nos centros comerciais, os cafés, restaurantes e pastelarias, cinemas, teatros e auditórios ou eventos exteriores com diminuição de lotação.
Nesse período, os gestores portugueses já se mostravam bastante mais otimistas do que no mês anterior e não apenas sobre as intenções de novas contratações nos três meses seguintes. À exceção do comércio, os restantes setores previam recrutar mais trabalhadores e o aumento mais expressivo nas respostas dos empresários verificou-se nos serviços, onde se inclui a restauração e o alojamento, grosso modo, o setor do turismo.
Tudo aponta para uma recuperação forte nos meses que antecedem o pico das férias de verão, sobretudo para o setor do turismo. Analisando os dados de abril das respostas dos gestores ligados à restauração, alojamento e similares sobre a procura deste tipo de serviços, os valores dão um salto face aos meses anteriores e regista, pela primeira vez, um valor positivo desde o início da pandemia. Ou seja, há um grande otimismo destes empresários para os próximos três meses.
"O comportamento do indicador [de confiança] resultou do contributo positivo de todas as componentes, perspetivas relativas à evolução da procura, apreciações sobre a evolução da carteira de encomendas e apreciações sobre a atividade da empresa", explica o INE.
O calendário definido pela task force da vacinação aponta para que cerca de 70% da população esteja vacinada no início do verão e a Comissão Europeia deu sinais claros de que quer acelerar a livre circulação de pessoas já imunizadas para "salvar o verão".
Sinal de que o desconfinamento é para continuar, os empresários dos espetáculos e atividades artísticas e desportivas também estão bastante confiantes para os próximos três meses, sobretudo no que diz respeito à procura, atingindo pela primeira vez um valor positivo nas respostas desde o início da pandemia, em março do ano passado. Mas em termos de emprego, as expectativas ainda estão em terreno negativo, podendo mesmo ocorrer uma redução, face ao que esperavam em março. "Em abril, os indicadores de confiança aumentaram em sete das oito secções dos serviços, destacando-se as secções de atividades imobiliárias, de atividades artísticas, de espetáculo, desportivas e recreativas e de atividades de informação e de comunicação", detalha o gabinete de estatística.
Mas é o setor da indústria que espera uma recuperação da atividade mais forte nos próximos três meses, o que poderá estar relacionado com o fim do confinamento e a reabertura total da economia, não só a nacional, como no resto da Europa onde se situam os principais clientes das exportações portuguesas. "As opiniões relativas à procura interna, considerando as empresas com produção orientada para o mercado interno, recuperaram expressivamente em abril, após terem recuperado ligeiramente em março", indica o INE e o mesmo aconteceu para o caso das empresas exportadoras que "recuperaram nos últimos dois meses, de forma mais intensa em abril, prolongando o perfil positivo iniciado em junho."
No setor da construção, que tem estado relativamente imune à contração da economia, mantém-se a boa perspetiva, com o INE a referir que "o saldo das opiniões sobre a apreciação da atividade aumentou significativamente em março e abril, atingindo o máximo desde março de 2020".
paulo.pinto@dinheirovivo.pt