Investimento público em Portugal foi o mais baixo da zona euro em 2020
Peso dos juros no PIB é o terceiro mais elevado dos países da moeda única. Despesa subiu quase seis pontos percentuais face a 2019, devido aos gastos com medidas anticovid.
O investimento público realizado no ano passado teve um aumento expressivo de 16,3% face a 2019, mas não foi suficiente para retirar Portugal da cauda da zona euro, quando medido pelo peso no produto interno bruto (PIB), indicou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE) na nota sobre a despesa pública. "Quanto ao peso do investimento no PIB, em 2020, Portugal apresentou o menor valor entre todos os países da área do euro", lê-se no destaque do INE sobre a despesa do Estado, uma nova publicação do gabinete de estatística. Mas é também um valor abaixo da média dos países da moeda única, em que o peso do investimento público foi de 3,1%.
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"O investimento representou 2,2% do PIB em 2020, atingindo 4,5 mil milhões de euros", refere o INE, acrescentando que "no período de 1999 a 2020 a taxa de variação média anual foi -1,3%", indica. O gabinete de estatística faz uma análise histórica da despesa pública desde o início do século, salientando que "o pico registado em 2010 está em grande medida associado à aquisição dos submarinos e ao registo dos ativos subjacentes a alguns contratos de parcerias público-privadas rodoviárias", que foram integrados no perímetro orçamental.
Já durante a fase de ajustamento da troika, de 2011 a 2014, "registaram-se variações negativas desta componente em todos os anos, tendo-se atingido em 2011 a taxa de variação mais negativa (-36,4%)". De lá para cá, "a evolução tem sido relativamente irregular, tendo-se registado em 2016 o nível mais baixo em percentagem do PIB", assinala o INE.
No pódio dos países com o rácio de investimento mais baixo, Portugal está acompanhado pela Espanha e pela Alemanha. Claro que também a contração da atividade económica foi a mais cavada da era democrática, com uma queda de 7,6%. Espanha registou um trambolhão de 10,8% e a Alemanha 4,8%.
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Do lado oposto, está a Estónia, com o investimento a atingir 5,7% do produto interno bruto, que registou uma contração de 2,8%. A Letónia e o Luxemburgo seguem-se como os países com uma maior proporção de investimento no PIB, com 5,7% e 5%, respetivamente.
Despesa em alta
A resposta aos efeitos da pandemia fez disparar a despesa pública, indica o INE, com uma subida de 5,9 pontos percentuais, para mais de 98 mil milhões de euros. Um aumento de 7,8% face a 2019, mais sete mil milhões de euros. O peso no PIB cresceu para os 48,4% e assim, "interrompeu-se a redução do peso da despesa pública no PIB, iniciada em 2018 e que em 2019 tinha aproximado este peso do nível em 1999 (42,6%), ano de introdução do euro, sublinha o Instituto Nacional de Estatística.
A explicar este aumento estão as medidas de apoio à economia, como o lay-off simplificado, ou os subsídios por isolamento. Em consequência das medidas de política económica tomadas em 2020 para minorar o impacto da pandemia de covid-19, as despesas com subsídios, transferências correntes e de capital aumentaram 4,7 mil milhões de euros face ao ano anterior (variação de +58,9%)", adianta o INE.
As prestações sociais foram a categoria com maior relevância, representando 19,8% do PIB e as remunerações e o consumo intermédio pesaram 11,7% e 5,6%, respetivamente.
O peso dos juros
A fatura dos juros com a dívida pública continua a pesar bastante na despesa do Estado, sendo a terceira mais alta da zona euro. Em 2020, "Portugal registou um dos valores mais altos no peso dos juros pagos no PIB (2,9%), sendo apenas ultrapassado pela Grécia (3%) e pela Itália (3,5%), países que apresentaram também um nível de dívida pública, em percentagem do PIB, superior ao nosso país", sublinha o INE.
No ano passado, o país "pagou cerca de 5,8 mil milhões de euros em juros relativos à sua dívida, quase o dobro dos 3,5 mil milhões de euros que pagou em 1999 - introdução do euro - mas bem abaixo do máximo de 2014, 8,4 mil milhões de euros", refere o gabinete de estatística.
O INE assinala ainda que desde 2014, "o peso dos juros pagos no PIB tem vindo a descer, porém sempre significativamente maior que o registado para o conjunto da área do euro."

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