China acusa Trump de querer destruir a ordem mundial
A tensão comercial entre os Estados Unidos e a China aumenta a cada dia e faz crescer o clima de incerteza na economia mundial.
Depois de uma segunda-feira de tensão nos mercados (com Wall Street a viver a pior sessão do ano), por Pequim ter desvalorizado a sua moeda para um mínimo de11 anos e Washington ter ripostado com a inclusão da China na lista de países considerados como manipuladores cambiais, o gigante asiático acusa a administração Trump de "deliberadamente destruir a ordem internacional" com as suas medidas de "unilateralismo e protecionismo".
O banco central chinês reagiu com "lamento profundo" à decisão dos EUA em colocar a China na lista de países que promovem a manipulação cambial e disse que esse comportamento "prejudica seriamente as regras internacionais" e a economia global, noticia o Guardian, que dá eco também de um editorial redigido no Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, a acusar os EUA de "deliberadamente destruir a ordem internacional" e manter os seus próprios cidadãos como reféns.
"Os americanos precisam acordar! A responsabilidade dos países grandes é proporcionar ao mundo estabilidade e certeza, criando condições e oportunidades para o desenvolvimento comum de todos os países", refere o editorial do jornal chinês. "Mas algumas pessoas nos Estados Unidos fazem exatamente o oposto", acrescenta, sem mencionar o nome de Donald Trump.
Na segunda-feira, a autoridade monetária chinesa tinha decidido descer a taxa de câmbio do yuan (moeda da China) para 6,9 yuans por dólar, o que representou o valor mais baixo em mais de dez anos. A decisão de Pequim surgiu em resposta à decisão de Donald Trump de aplicar novas taxas aduaneiras sobre bens importados da China, no valor de 300 mil milhões de dólares, e que vão entrar em vigor a 1 de setembro.
A decisão de Pequim fez com os EUA tenham classificado a China de manipulador cambial, algo que aconteceu pela primeira vez desde 1994, adianta a publicação Market Watch, e abre a porta a uma nova vaga de sanções, o que poderá elevar as tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo. Os efeitos da decisão de Pequim contudo não se ficaram por aqui. Atirou as bolsas mundiais para as perdas e levou os investidores a procurar ativos considerados de refúgio como o ouro.
Nos Estados Unidos, a sessão de segunda-feira terminou com fortes perdas. O Dow Jones fechou a sessão a cair recuou 2,9%, o S&P500 caiu 2,98% e o Nasdaq desvalorizou 3,47% e fez com que 500 figuras mais ricas do mundo perdessem num só dia o equivalente a 117 mil milhões de dólares (cerca de 104 mil milhões de euros).
Entretanto, esta terça feira as bolsas europeias abriram a negociar em terreno positivo depois do Banco Central da China ter decidido vender títulos de dívida para travar a queda do yuan, mitigando os efeitos da descida de segunda-feira.
Na Ásia, as bolsas ainda fecharam no vermelho. No Japão, o Nikkei desvalorizou 0,65% e o Topix desceu 0,44%. Em Hong Kong, o Hang Seng perdeu 0,67% e na China, em Xangai, o Shanghai Shenzhen CSI 300 Index terminou o dia a cair 1,07%, de acordo com os dados da Bloomberg.
Andrew Sullivan, diretor da Pearl Bridge Partners, disse em declarações à Bloomberg TV, que "o mercado não tem uma posição firme sobre o quão longe a [guerra de] moeda pode ir".
Stephen Innes, da VM Market em Singapura, defendeu por sua vez ao Market Watch, que esta taxa de câmbio mais amiga do mercado "é o primeiro sinal de que o [Banco Popular da China] está a reconsiderar" usar o yuan com arma.
A China decidiu entretanto suspender a compra de produtos agrícolas americanos em resposta ao recente anúncio de Washington de que aumentará as taxas alfandegárias, de acordo com a Lusa. "Foi acordado que a Comissão de Taxas Alfandegárias do Conselho de Estado não descarta taxar a importação sobre os produtos agrícolas norte-americanos adquiridos depois de 3 de agosto, e as empresas chinesas relacionadas suspenderam a compra de produtos agrícolas dos EUA", indica o documento do ministério do Comércio da China.
Mas a tensão entre os dois gigantes não se fica pelos campos comercial e cambial. A nível militar, o diretor do Departamento de Controlo de Armas do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Fu Cong, afirmou esta terça-feira que a China está particularmente preocupada com os planos anunciados pelos EUA para desenvolver e testar um míssil terrestre de alcance intermédio na região da Ásia-Pacífico "mais cedo ou mais tarde", citando as palavras do secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper.