Indústria de Setúbal quer mais apoios para investir na descarbonização e no digital

Empresários revelam que a indústria da região sofre de carência de investimento, que foi muito reduzido nos últimos dez anos. Com um rico património natural, o turismo tem grande potencial de crescimento.
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Fortemente industrializada e sendo uma das maiores exportadoras do país, a região de Setúbal enfrenta vários desafios pela frente na recuperação económica pós-pandemia, entre eles a descarbonização e a transformação digital da indústria. Quem o afirma são os representantes dos empresários, reunidos na conferência Portugal que Faz, que aconteceu ontem, quinta-feira, em Setúbal. Este roadshow nacional, levado a cabo pelo Novo Banco, pretende dar voz aos empresários , ouvir os seus problemas e tentar encontrar soluções conjuntas para enfrentar as várias assimetrias levantadas pela crise pandémica.

Esta edição contou com a intervenção de António Ramalho, CEO do Novo Banco, que procedeu à abertura do evento, sendo seguido pela já habitual análise regional do economista-chefe da instituição financeira, Carlos Andrade. No painel do debate, moderado por Joana Petiz, diretora do Dinheiro Vivo, participaram ainda Nuno Maia, presidente da Associação Industrial da Península de Setúbal (AISET), Isaú da Maia, presidente da Associação do Comércio Indústria e Serviços do Distrito de Setúbal (ACISTDS), Jaime Quendera, gerente e enólogo da Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões e José Ferreira Machado, vice-reitor da universidade Nova de Lisboa.

Nuno Maia começou por afirmar que toda a indústria está perante grandes desafios, independentes da pandemia, mas que esta acabou por acelerar como a descarbonização e a digitalização. "Muitas empresas da região precisam de descarbonizar, e muitas outras precisam de digitalizar a sua atividade, e isto requer grande capacidade de investimento. Precisamos investir em equipamentos com grande incorporação tecnológica", afirma. Esta associação propôs recentemente ao governo que os industriais investiriam 2,5 mil milhões de euros em cinco anos na Península de Setúbal se as empresas recebessem 1,2 mil milhões de euros de apoios do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Afirmando que ainda não houve qualquer resposta ao repto, Nuno Maia revela que a indústria do distrito investiu, em 2009, cerca de 490 milhões de euros em formação bruta de capital fixo, mas que nos últimos dez anos este montante tem vindo a cair. Com o apoio do PRR seria relativamente exequível para as empresas investirem os 2,5 mil milhões de euros num período alargado de seis ou sete anos, explica.

Relativamente à discussão que ainda gira em torno do PRR, António Ramalho diz a propósito que a discussão tem de encerrar e começar a ação, pois o maior desafio vai ser executar. "A execução do plano é fundamental e aí temos de ser perfeitos", diz.

Carlos Andrade explica que Setúbal tem um peso da indústria superior à média nacional e também tem um peso importante nas exportações nacionais - com a Autoeuropa e a Navigator a pesarem na balança - mas que ainda sofre de desigualdades na distribuição dos rendimentos. O turismo tem grande potencial de crescimento nesta região, sobretudo com boa evolução da procura externa. Isaú da Maia, como representante do comércio e serviços, refere a propósito que a península de Setúbal tem um enorme potencial do seu património natural, mas muito está ainda por fazer. "Tem havido pouco investimento na linha que vai da Costa da Caparica a Setúbal. É preciso pensar rápido e executar rápido."

O património natural é também um dos atrativos para instalar talento nesta região, onde, apesar de tudo não há perda de população e esta é mais rejuvenescida do que no interior. José Ferreira Machado apresentou um plano de investimento da Universidade Nova, em parceria com uma pool de investidores privados e com o apoio da Câmara Municipal de Almada, para a criação do Innovation District nos 65 hectares da universidade, situada no Monte da Caparica, a que se juntaram outros terrenos, perfazendo os 140 hectares. Trata-se de um ambicioso projeto junto ao campus universitário, um investimento de 800 milhões de euros que criará 17 mil postos de trabalho, e onde será "instalada uma pequena cidade com todas as valências, desde empresas, residências para todas as bolsas, comerciais, de lazer e desportivas", explica este responsável. A proximidade com a praia e natureza ajuda a fixar e a atrair talento a este ambiente de inovação, nomeadamente internacional. "A competição internacional vai ser feita entre cidades e não tanto entre países, em áreas metropolitanas", afirma o vice-reitor da Nova.

Outro produto forte da região é o vinho. Os empresários vitivinícolas da região perderam parte do seu volume de negócios sobretudo devido ao fecho do canal horeca (hotéis, restaures e cafés), que representa 30% do escoamento do seu produto, e também pela falta de turistas. "O consumo passou a ser guiado pelo retalho que não tem capacidade de comprar vinho a todos os pequenos produtores, mesmo que quisessem ajudar", explica Jaime Quendera. Afirma que vai ter de haver consolidação no setor, pois este "é o menos agrupado de todo o agroalimentar - há cerca de dois ou três mil produtores - e esta pandemia acelerou o movimento de consolidação".

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