Guerra na Ucrânia faz cair para metade as exportações portuguesas para a Rússia
Portugal continua a vender os seus produtos para a Rússia, embora em quantidade substancialmente inferior ao que era habitual. O mercado russo, que chegou a valer, em 2013, mais de 263 milhões de euros para as empresas portuguesas, gerou, nos primeiros cinco meses de 2022, apenas 36,7 milhões de euros, contra os 67,7 milhões de igual período em 2021. São sobretudo bens alimentares que o país continua a enviar para a região.
O efeito da guerra na Ucrânia é notório nas transações comerciais entre os dois países: nos primeiros dois meses do ano - recorde-se que a invasão ocorreu a 24 de fevereiro -, as exportações portuguesas para a Federação da Rússia estavam a crescer 5,25% para 24,7 milhões de euros. Agora, três meses passados, a quebra acumulada desde o início do ano é de 45,8%.
Entre os produtos exportados, destaque para os bens alimentares, designadamente produtos à base de cereais - flocos de milho ou outros cereais em grãos, sob a forma de flocos ou em farinha e sêmola, pré-cozidos ou preparados de outro modo -, tomate preparado ou em conserva e produtos hortícolas igualmente preparados ou conservados. No caso dos preparados de cereais, as compras totalizaram quase 381 mil euros, contra os quase 399 mil euros dos primeiros cinco meses de 2021, mas no caso dos preparados de produtos hortícolas e de frutas, as exportações nacionais até cresceram este ano: desde o início do ano que Portugal vendeu mais de 3,3 milhões de euros destes produtos à Rússia, um aumento de 10%.
Além disso, há ainda quem continue a exportar vinho, matérias têxteis e de vestuário, calçado e madeiras ou artigos de madeira. A União Europeia tem vindo a impor restrições às importações e exportações da Rússia, numa lista "concebida de modo a maximizar o impacto negativo das sanções na economia russa, mas limitando, simultaneamente, as suas consequências para as empresas e os cidadãos".
Destas restrições estão excluídos os produtos destinados ao consumo e relacionados com a saúde, como os artigos farmacêuticos, a alimentação e os produtos agrícolas, "a fim de não prejudicar a população russa".
Também as exportações para a Ucrânia foram afetadas com a situação, sendo que o seu peso era bastante menor. Portugal vendeu para a Ucrânia bens no valor de 35,7 milhões em 2021, quase 5 milhões mais do que no ano anterior (+16,3%). Foi o valor mais alto no atual milénio. Já nos primeiros dois meses deste ano, Portugal destinou à Ucrânia bens no valor de 5,6 milhões, mais 15,8% do que no período homólogo. Agora, no acumulado de janeiro a maio, a quebra total é de 33,6% para 8,971 milhões. A compra de preparações à base de cereais, farinhas, etc., cresceu 147% para 921 mil euros.
Estes são dados do Instituto Nacional de Estatística, que ontem divulgou a performance externa da economia portuguesa nos primeiros cinco meses do ano: as vendas ao exterior cresceram 22,3% para 31 835 milhões de euros, mais 5813 milhões do que no período homólogo.
Quanto ao desempenho no mês de maio, o INE destaca o efeito da inflação, sublinhando que as exportações nacionais dispararam 40,6% naquele mês, em termos nominais, mas que metade desta variação resulta de crescimentos de preços: mais 17,2% em termos homólogos. Nas importações, a situação é ainda mais notória, com um crescimento nominal de 46,4% e um aumento de preços de 24,3%.
O défice da balança comercial de bens agravou-se em 976 milhões de euros, face a maio de 2021, atingindo 2421 milhões. Espanha mantém-se como o principal parceiro comercial, com as exportações a aumentar 32,3% e as importações a crescerem 39%. O INE salienta ainda o acréscimo de 180% nas exportações para os EUA, com especial destaque para os produtos farmacêuticos.