Governo à espera da "bazuca" para sair da crise
Primeiras verbas devem começar a chegar ainda este mês, e é com elas que o primeiro-ministro conta para começar a recuperação da economia, depois do travão do segundo confinamento e da quarta vaga.
As famílias estão mais otimistas, as empresas também, mas uma inesperada quarta vaga e um confinamento mais prolongado no arranque do ano atrasaram a recuperação alguns meses. O Governo mantém, no entanto, as previsões de crescimento para o ano. Pelo menos para já.
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PIB
O arranque do ano foi o segundo pior da série do Instituto Nacional de Estatística que remonta a 1996. O produto interno bruto (PIB) contraiu 5,4% nos primeiros três meses do ano, por culpa de um segundo confinamento mais prolongado do que na primavera do ano passado. Foi a pior marca da Europa. Para o segundo trimestre as previsões das universidades portuguesas apontam para uma recuperação robusta, com intervalos de crescimento que começam nos 13%, podendo ultrapassar os 15%, em termos homólogos, mas reconhecem que a incerteza ainda é grande, tendo em conta a quarta vaga com um impacto que ainda não é possível antever.
O ministro das Finanças mantém uma previsão de crescimento de 4%, o valor que foi apresentado no programa de estabilidade em abril e que ainda não mexeu, apesar de João Leão já ter admitido em maio uma revisão em alta que poderia chegar a um ponto percentual. Uma expectativa que terá sido demasiado otimista tendo em conta uma nova vaga da pandemia.
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"Bazuca"
É nos fundos comunitários que reside uma boa parte da expectativa para alavancar a recuperação da economia portuguesa, também arrastada pelos efeitos dos restantes países da União Europeia. António Costa ainda não foi ao banco, mas espera conseguir as primeiras verbas já este mês. A promessa que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen deixou em Lisboa parece ter condições para se cumprir depois de o plano de recuperação e resiliência de Portugal ter sido aprovado pelos ministros das Finanças da UE (Ecofin) na semana passada. Ao todo, o País vai ter direito a 16,6 mil milhões de euros entre verbas a fundo perdido e empréstimos a juros muito baixos. De acordo com as previsões do governo, até ao final deste ano, devem chegar 3329 milhões de euros, correspondendo a 20% do total que ficou reservado no instrumento europeu de apoio à recuperação.
O estranho caso do desemprego
A taxa de desemprego manteve-se em níveis muito baixos para uma recessão tão profunda como a registada no último ano. É consensual que o lay-off simplificado e outros instrumentos para retenção dos empregos permitiram estancar uma previsível maré de despedimentos devido ao encerramento das atividades com dois confinamentos gerais e restrições à circulação. Em abril, de acordo com dados do portal Pordata, o lay-off tradicional abrangeu 107 295 trabalhadores e mais de 20 mil empresas. Os dados divulgados ontem pela Segurança Social davam conta de um aumento do número de trabalhadores no lay-off tradicional em junho, face ao mês anterior, mas longe do recorde de abril, quando superou os 15 mil trabalhadores.
A taxa de desemprego medida pelo INE fixou-se nos 7,1% no primeiro trimestre deste ano, longe dos valores atingidos na última crise financeira quando ultrapassou os 16%.
Já se olharmos para os dados do desemprego registado nos centros de emprego, os dados divulgados ontem pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) dão conta de uma redução de 6% em junho face ao mês de maio, recuando para os níveis mais baixos desde março do ano passado.
Despedimentos coletivos abrandam
Depois de ter atingido o número mais alto dos últimos oito anos, os despedimentos coletivos comunicados pelas empresas abrandaram na primeira metade deste ano. De acordo com os mais recentes dados da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho, até ao final de junho, tinham sido comunicados 202 despedimentos coletivos, quando no mesmo período do ano passado chegava aos 367. Em termos de trabalhadores abrangidos, também há uma redução. Até junho, as empresas pretendiam despedir 2342 pessoas, quando no mesmo mês do ano passado, superava as 3500. Trata-se de um recuo de 33% em termos homólogos.
Salários sobem
É também um caso que pode parecer estranho: o dos salários. Em ano de pandemia, a remuneração-base média por trabalhador registou um aumento de 3,2%, atingindo os 1014 euros mensais. Os dados do INE, que comparam os salários brutos nos 12 meses imediatamente anteriores ao período pandémico (de março de 2019 a fevereiro de 2020) com a evolução das remunerações após o início da pandemia da covid-19 (de março 2020 a fevereiro de 2021), mostram um acréscimo que escondem outra realidade. A evolução das remunerações durante a crise pandémica foi influenciada pela destruição de emprego em setores com salários mais baixos, fazendo subir a média.
Menos insolvências
Os dados referentes ao último trimestre do ano passado, divulgados em abril deste ano indicam uma diminuição de 15,7% no número de insolvências e falências decretadas, face a igual período de 2019.
Mais receita de IRS
O imposto sobre os rendimentos registou em 2020 um crescimento de 3% face a 2019, atingindo um valor recorde superior a 13,5 mil milhões de euros. Tal como o Dinheiro Vivo já noticiou esta evolução ficou a dever-se a três fatores: um nível de emprego acima do esperado, o aumento dos rendimentos e um efeito de arrastamento ainda do IRS de 2019. Já nos restantes impostos e taxas registou-se uma redução, mais acentuada no IRC e no IVA.
Exportações longe da pré-pandemia
Foi já considerado o porta-aviões da recuperação economia portuguesa (classificação de Paulo Portas, quando vice-primeiro-ministro), mas acabou por afundar com a crise sanitária. As exportações, sobretudo serviços devido ao turismo, estão longe dos dados pré-pandemia, de 2019.
Ontem o Banco de Portugal indicou que "em maio, as exportações de bens e serviços apresentaram uma variação homóloga de 54,7%, decorrente principalmente da evolução nos bens (56,6%) e, em menor medida, nos serviços (49,3%). Ainda assim, as exportações de bens não superaram as do mesmo mês em 2019".