Gasolina sobe dois cêntimos e gasóleo 2,5
Trata-se do nono aumento do preço dos combustíveis desde o início do ano, com um agravamento acumulado entre 14 e 17 cêntimos por litro.
O preço dos combustíveis vai já nesta segunda-feira refletir os efeitos da instabilidade nos mercados causada pela invasão da Ucrânia, com uma subida de 2,5 cêntimos no gasóleo e de dois cêntimos na gasolina. É a nona subida desde o início do ano, que deverá elevar para 1,681 euros o preço médio do gasóleo simples em Portugal e para 1,833 euros o litro da gasolina simples 95.
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O preço dos combustíveis em Portugal reflete a média da cotação do petróleo e dos produtos refinados na semana imediatamente anterior, com as subidas a ocorrerem à segunda-feira. Assim, e desde 3 de janeiro, a gasolina simples 95 acumula já um agravamento de 14 cêntimos, passando de 1,693 euros para 1,833 euros o litro, um aumento de 8,27%. No caso do gasóleo, o preço subiu quase 17 cêntimos (de 1,513 para 1,681 euros/litro), mais 11,1%.
Significa isto que, para abastecer um depósito de 50 litros, nesta semana, vai ter de pagar cerca de 91,65 euros, no caso da gasolina simples 95, mais sete euros do que no início do ano. Num carro a gasóleo, o agravamento, face ao arranque de 2022, é de 8,4 euros.
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Nas últimas semanas, com a crescente instabilidade da Ucrânia, as cotações do Brent, o petróleo do mar do Norte que serve de referência na Europa, reforçaram a tendência de subida que vinham registando já desde finais de 2020, com os primeiros sinais de recuperação das principais economias mundiais. Na quinta-feira, com a invasão da Ucrânia, o Brent atingiu máximos desde 2014, com o barril para entrega em abril a chegar quase aos 106 dólares (em abril de 2020, com os confinamentos, o crude chegou a valores negativos), enquanto o de entrega em maio chegou aos 102,20. Desceram, mas mantêm-se muito próximos da barreira dos 100 dólares.
E porque estão os combustíveis em Portugal tão caros - há já bombas onde o preço da gasolina 98 está já acima dos dois euros o litro -, se as cotações do petróleo estão ainda abaixo dos valores históricos acima dos 115 dólares o barril de junho de 2014, ou os mais de 126 dólares de março de 2012? Segundo a Direção-Geral da Energia e Geologia (DGEG), o preço médio anual da gasolina especial 98 foi de 1,822 euros, em 2012, e de 1,711 euros, em 2014. Já o gasóleo especial custou, em média, 1,563 euros e 1,386, respetivamente. A explicação está no efeito cambial e na componente fiscal.
"Antes de mais, há que ter em conta que, neste momento, o euro está mais fraco do que nessa altura, o que significa que, para os mesmos dólares temos que pagar mais euros", lembra o secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO). Por outro lado, de lá para cá houve um "aumento significativo" dos impostos, quer ao nível do ISP quer do IVA. Por outro, o aumento "muito significativo" na incorporação de biocombustíveis, que "são mais caros do que os combustíveis fósseis", ajudam também a explicar a situação, admite António Comprido.
"As condições de mercado hoje não são as mesmas de há 10 anos e isso tem que ser refletido. Aliás, se for comparar o preço de qualquer bem de consumo hoje, de certeza que há um incremento, quanto mais não seja por efeitos da inflação", refere o dirigente.
Mas há também os custos da descarbonização a ter em conta. Em 2014, a taxa de carbono, incorporada no valor do ISP, nem sequer existia. Em 2015, e de acordo com a DGEG, a taxa de carbono custava 11,563 euros por mil litros de gasolina e, em 2021, custou quase cinco vezes mais: 54,340 euros por cada mil litros. No gasóleo, evoluiu de 12,597 euros para 59,201 euros. Há ainda a ter em conta as licenças de emissão das refinarias.
"Somos a favor da descarbonização e estamos empenhados nela, mas é importante que se saiba que isso custa mais. Às vezes, há uma certa tendência da classe política de nos vender a ideia de que a descarbonização se faz sem custos e com vantagens, e se calhar, a médio longo prazo assim será, mas no curto prazo tem custos", sublinha António Comprido.
Em cima de tudo isto, há a ter conta o efeito do 23% da taxa de IVA. "Há que multiplicar todos estes efeitos por 1,23, o que significa que, quando chegam ao consumidor, todos estes custos estão incrementados pelo valor do IVA, que não é despiciendo", defende António Comprido. Os impostos pesam 54% do preço final da gasolina e a incorporação de biocombustível vale mais 5%. A cotação de petróleo pesa 34% no preço final. No gasóleo, a componente fiscal é de 49% e os biocombustíveis valem 7%. A matéria-prima pesa 37%.
ilidia.pinto@dinheirovivo.pt
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