Espanha, Inglaterra e EUA são a 'pedra no sapato' do calçado português
As exportações cresceram, pelo oitavo ano consecutivo, batendo um novo máximo histórico de 1965 milhões de euros em 2017, mais 2,8%. São quase 84 milhões de pares de sapatos vendidos no estrangeiro. Mas há algumas "pedras no sapato" da indústria mais sexy da Europa - as vendas para França, o maior comprador de calçado português, caíram 1,5%, Espanha comprou menos 6,5% e o Reino Unido sofreu uma retração de 6%. Para não falar da quebra de quase 6% nos Estados Unidos, eleito como o grande alvo da indústria em 2018.
"Este foi um ano difícil, com vários países da Europa em abrandamento e com a desvalorização do dólar a limitar as nossas vendas nos mercados fora da UE. Mesmo assim, atingimos um novo recorde, o que nos deixa muito satisfeitos", considera Luís Onofre, presidente da associação do calçado (APICCAPS. As vendas para fora da Europa crescem quase 8%; e, na última década, as exportações para os EUA passaram de oito para 72 milhões de euros. "São números que só nos motivam ainda mais para as diversas ações que vamos desenvolver neste ano no eixo Nova Iorque, Las Vegas e Washington."
"Os mercados estão estranhos. As pessoas mudaram, compram menos e viajam mais. A moda é tão volátil e tão diversa que os próprios retalhistas têm receio de escolher mal e ficar com a mercadoria dentro de portas. Sente-se que estamos na iminência de algo, mas não se sabe bem o quê", reconhece a diretora executiva de operações da Maximo Internacional, que detém a marca Nobrand. 2017 foi um ano "desafiante. Os mercados europeus estão, quase todos, a cair. Há um crescimento dos mercados mais alternativos, mas a indústria de calçado vive é da Europa. Ninguém se engane", assume Manuela Mendonça. Mas está otimista. "As crises existem para nos fortalecer e nos fazer crescer e toda esta mudança tem o seu lado positivo porque nos obriga a pensar em soluções. Os tempos são de desafio, mas estamos confiantes no futuro."
Mas difícil é perceber o que fazer no Reino Unido. As exportações para terras de Sua Majestade estão a cair há dois anos consecutivos, recuando para 125 milhões de euros, menos 8,5 milhões do que m 2015. "O Reino Unido vai ter de merecer, seguramente, uma abordagem diferente, mas ainda não nos debruçámos sobre ela", diz a APICCAPS que garante que não se trata, exclusivamente, de um problema de desvalorização da libra pós-brexit. "Estamos a cair no mercado há vários anos. A questão é que não temos preço para o Reino Unido, porque 90% das compras inglesas são de produtos asiáticos." A Alemanha, o segundo maior importador de calçado português, reforçou a dois dígitos e chegou aos 376,5 milhões de euros.
Foi um ano de "calmaria", com "alguns ajustamentos", diz Fortunato Frederico, presidente da Kyaia, o maior grupo português de calçado, que já teve no Reino Unido o principal mercado. "Tivemos de ajustar preços [por causa da desvalorização da libra. Não estamos assustados, porque sabemos as causas, mas estamos desapontados." O empresário espera que neste ano seja já possível inverter a situação e beneficiar do crescimento de alguns mercados europeus. Como o português.
Para já, é tempo de apresentar ao mundo as novas coleções, neste caso a de primavera-verão 2019. Hoje arranca, em Milão, a maior feira de calçado do mundo. Portugal marca presença na Micam, que decorre até dia 14, com 94 empresas, responsáveis por mais de oito mil empregos e 500 milhões de euros de exportações. É a segunda maior delegação estrangeira.
E este é o palco perfeito para os empresários chegarem a novos mercados. Os sapatos portugueses já chegam hoje a mais de 150 países e há mercados de elevado potencial, como o russo, que cresceu mais de 63% no ano passado, e vale já 32,5 milhões de euros. Angola (18,2 milhões), China (13,4 milhões) e Japão (11,7 milhões) são outros mercados em expansão.
E como nem só de sapatos vive a indústria, a APICCAPS leva também a Milão a nova campanha de imagem que criou, exclusivamente, para os artigos de pele, como as malas e carteiras, cujas exportações triplicaram entre 2011 e 2016, valendo já 178 milhões de euros.