Componentes para carros valem nove mil milhões

Mais de oito em cada dez euros de receita são gerados pelas exportações para a Europa. Indústria de componentes representa 5% do PIB português e emprega 46 500 pessoas.
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Da Coindu saem estofos que equipam os carros do grupo Volkswagen; da ERT Têxteis, há espumas e tecidos para carros de luxo da Rolls-Royce e da Maserati; a partir de Cacia, em Aveiro, saem as caixas de velocidades que equipam os veículos da Renault. Estes são apenas três exemplos das cerca de 200 empresas que contribuíram para um novo recorde na indústria dos componentes para automóveis. Em Portugal, este setor gerou vendas de nove mil milhões de euros no ano passado, mais 7% face a 2015, segundo os dados da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA). Este volume de negócios correspondeu a cerca de 5% do produto interno bruto (PIB) nacional.

"O aumento continuado e sustentado do volume de negócios e das exportações deve-se à competitividade e ao dinamismo das empresas da indústria de componentes automóveis, que estão constantemente a investir para melhor responderem aos desafios de uma indústria altamente concorrencial", assinala Tomás Moreira, presidente da AFIA, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo.

O novo recorde surgiu no mesmo ano em que a produção automóvel em Portugal registou o número mais baixo desde 2009. A AFIA lembra que a indústria dos componentes "é altamente exportadora, não dependendo exclusivamente da produção automóvel instalada em Portugal, ainda que seja um cliente estratégico". Tomás Moreira refere-se aos dados que confirmam que grande parte das receitas desta indústria foram obtidas através das exportações, que representaram 7,6 mil milhões de euros do volume de negócios e que também bateram um novo recorde em 2016. Isto corresponde a 13% das exportações de bens transacionáveis. Espanha, Alemanha, França e Reino Unidos foram os principais destinos dos produtos saídos das fábricas nacionais.

Aliás, a recuperação do mercado automóvel na Europa tem sido o "motor" da indústria de componentes no nosso país. Desde 2012, o valor das exportações de componentes passou de 5,7 para 7,6 mil milhões de euros. Ao mesmo tempo, o mercado interno ficou pelos 1,4 mil milhões de euros (15% da produção). Mas a AFIA lembra que "grande parte desta percentagem é por sua vez exportada, via integradores de componentes ou construtores de automóveis".

A maior fatia das receitas (34%) é gerada pelas empresas com trabalho mais "pesado", como o caso da metalurgia e da metalomecânica. Segue-se o setor elétrico e da eletrónica (27%), dos plásticos, borracha e outros materiais compósitos (19%) e dos têxteis e outros revestimentos (11%). A montagem de sistemas representa 7% da faturação.

Tomás Moreira aponta ainda mais duas razões para o novo recorde da indústria de componentes para carros: "A captação de investimento direto estrangeiro", com a instalação de novas multinacionais em território nacional, e a "redução gradual do diferencial de custos entre Portugal e os países do Leste Europeu". Há tantas empresas com capital maioritariamente português como com capital estrangeiro, graças ao aumento do investimento estrangeiro no nosso país.

Não é apenas o volume de negócios que está a bater recordes. Esta indústria também tem, em média, cada vez mais trabalhadores. Desde 2012 registou-se um aumento de 14,5%, dos 40 600 para 46 500 operários, que correspondem a 7% do emprego na indústria transformadora. A maior parte destes funcionários trabalha na região norte, que tem mais de 50% das empresas e é responsável por 56% do volume total de negócios. Aveiro, Porto, Braga e Viana do Castelo são os distritos com mais empresas.

Embora esta indústria registe novos máximos pelo segundo ano consecutivo, a AFIA exige ao governo a "contenção dos custos laborais, fiscais, logísticos e de energia", e conta com o trabalho do cluster para a indústria automóvel (MOBINOV) para ajudar a "desenvolver estratégias globais de fornecimento".

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