China. Como um vírus pode atirar ao chão uma economia

Em poucas semanas, a segunda maior economia do mundo, medida pelo PIB, entrou em quarentena. Quatro gráficos mostram a paralisação de todo um país.
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São coisas pequenas e simples, como uma ida ao cinema, a circulação rodoviária, os passes para os transportes públicos, a venda de casas ou as deslocações dentro do país. Indicadores que medem de forma muito rápida a saúde de uma economia e, neste caso, permitem um instantâneo do que aconteceu na China entre o início de janeiro e esta semana.

A segunda maior economia do mundo, a seguir aos Estados Unidos, afundou como um fósforo, mas, aparentemente, está a recuperar com a mesma rapidez.

O colapso na atividade produtiva afetou todos os setores. Nada escapou à devastação. As vendas no retalho caíram 20,5% entre janeiro e fevereiro, face a 2019, a produção industrial registou uma quebra de 13,5% e o investimento desceu cerca de 25%, de acordo com o gabinete de estatística da China. Outro indicador é a produção e consumo de energia, que desceu mais de 8% no mesmo período. E os dados para o mês de março ainda poderão ser piores.

De acordo com um estudo da Euler Hermes (EH), uma empresa de seguros de crédito, a evolução do comércio externo da China, nos primeiro dois meses do ano, foi a mais baixa desde 2016, mas ainda longe das quedas registadas na crise financeira de 2009, quando as exportações e as importações caíram 26,5% e 43,1% em apenas um mês, respetivamente. Em janeiro e fevereiro deste ano, as exportações caíram 17,2% e as importações 4 por cento.

O estudo da EH aponta para uma quebra do produto interno bruto (PIB) perto de três pontos percentuais, devido à quarentena obrigatória, sobretudo na província de Hubei (que representa 4,5% do PIB chinês). Já um outro estudo, do banco japonês de investimento Nomura, aponta para uma contração próxima de 4% no primeiro trimestre deste ano.

A boa notícia é que tudo indica que a recuperação será rápida. De acordo com a EH, a atividade económica já estará a cerca de 75% do habitual. Os dados da congestão rodoviária e do consumo de carvão sugerem que a economia ainda está a cerca de 25% abaixo do nível habitual passadas seis semanas do novo ano lunar (25 janeiro de 2020), mas dá sinais de recuperação.

O Nomura indica também que cerca de 62% das empresas mais atingidas já retomaram a atividade e que 74,1% em todo o país já estão a funcionar em pleno.

A economia chinesa deverá recuperar totalmente apenas no final de abril, sendo o mais difícil "reconquistar a confiança dos consumidores para que reponham os gastos aos níveis habituais", refere o estudo da EH. Por exemplo, as transações imobiliárias ainda estão 75% abaixo dos valores para esta altura do ano (seis semanas após o ano novo).

O preço do vírus

As medidas de isolamento, em alguns casos obrigatório, tiveram um custo direto na economia, com a paragem da produção e a quebra do consumo. E há lições a tirar da abordagem "musculada" da China, aponta o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Num artigo publicado ontem, o FMI refere que "mitigar o impacto de um choque severo exige apoio aos mais vulneráveis", tanto famílias como empresas, através de medidas como o adiamento dos pagamentos à Segurança Social, faturas de eletricidade, gás e água ou canalizando o crédito através de fintech.

O FMI sublinha ainda a política monetária de Pequim, com intervenções no mercado interbancário e liquidez às empresas mais afetadas pela crise sanitária.

Claro que nem todos os países poderão tomar as medidas discricionárias da China, mas, na opinião do Fundo, estas podem servir de guia para os países que agora atravessam o pico da doença.

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