Bruxelas tem plano de 300 mil milhões para cortar na energia russa

A Comissão Europeia aprovou ontem o REPowerEU, um pacote de medidas que inclui a compra conjunta de gás natural.

A Comissão Europeia apresentou ontem um plano para acelerar a independência energética europeia face à Rússia. Bruxelas propõe redirecionar "cerca de 300 mil milhões de euros" de verbas comunitárias. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen fala em medidas "ambiciosas, mas realistas", para antecipar o objetivo para 2027, e afirma que já é possível quantificar o resultado das primeiras iniciativas.

"No ano passado 40% do gás para a União Europeia foi importado da Rússia. Este ano, já em abril, reduzimos para 26%", destacou, defendendo que é preciso fazer mais, por exemplo, com "poupança de energia".

"A poupança de energia é o método mais rápido e mais barato para abordar a atual crise energética", referiu a presidente da Comissão, fixando um novo "objetivo de eficiência para 2030, de 9% para 15%".

"Sei que é ambicioso, mas é realista e podemos fazê-lo", afirmou a chefe do Executivo comunitário, apontando também para outra parte do plano, que passa por complementar a ideia da "aquisição conjunta de gás natural líquido e de hidrogénio", aprovada pelos 27, e complementá-la.

"Propomos agora um passo adiante com o mecanismo de compra conjunta e o abastecimento conjunto de países, assegurando as importações de que precisamos sem a concorrência entre estados-membros", disse.

"Tudo isto exigirá, é claro, investimentos maciços e reformas", salientou a presidente da Comissão, dizendo que "serão mobilizados cerca de 300 mil milhões de euros", para concretizar o plano. "Aproximadamente 72 mil milhões de euros correspondem a subvenções e 225 mil milhões de euros a empréstimos", que vão incluir "algum financiamento", até dez mil milhões de euros, para as ligações para hidrogénio e gás natural liquefeito, "para que nenhum estado-membro seja deixado para trás".

"Até dois mil milhões de euros" serão destinados a infraestruturas petrolíferas, a contar que vão deixar de receber petróleo russo. Todo o restante financiamento será destinado à aceleração e ampliação da transição para a energia limpa", vincou a responsável.

Plano de Bruxelas propõe a colocação obrigatória de painéis solares nos telhados de edifícios públicos e empresas a partir de 2025 e nas casas partir de 2029.

"Estamos a aumentar o nosso objetivo de 2030, de 40% de energias renováveis para 45%, e com o plano REPowerEU, apresentamos um conjunto de ações para reforçar e acelerar a nossa transição para energias limpas", afirmou.

Como exemplos, Von der Leyen disse que Bruxelas "está a propor que seja obrigatória a colocação de painéis solares nos telhados das empresas e dos edifícios públicos, a partir de 2025". A medida será depois alargada "aos novos edifícios residenciais a partir de 2029".

Os estados-membros deverão "beneficiar" de maior "flexibilidade para a transferência de recursos atribuídos" no âmbito do desenvolvimento social e regional, da Política Agrícola Comum ou da coesão, para "transição justa".

Bruxelas calcula que conseguirá uma poupança anual próxima dos "100 mil milhões de euros", sendo "perto de 80 mil milhões de euros" correspondentes aos gastos com a importação de gás, "12 mil milhões de euros em despesas de importação de petróleo e 1,7 mil milhões de euros pela importação de carvão".

"A guerra de Putin está a perturbar o mercado mundial da energia e expõe a nossa dependência da importação de combustíveis fósseis e a nossa vulnerabilidade por dependermos da Rússia", lamentou Von der Leyen numa breve declaração, no final da reunião do colégio de comissários, que ontem aprovaram o plano.

"Para 85 % dos europeus, a UE deve reduzir a dependência do gás e do petróleo russos o mais rapidamente possível para apoiar a Ucrânia", refere o documento, destacando o outro objetivo que é "fazer face à crise climática".

Bruxelas apresentou no início deste mês o sexto pacote de sanções contra a Rússia, que inclui o "embargo ao petróleo" importado para países da União Europeia. O plano da Comissão Europeia é aplicar a medida "por fases", até ao final do ano. Primeiro o petróleo bruto e depois os produtos refinados.

Porém, ainda não está garantido o consenso entre os Estados-membros, no Conselho Europeu, pela dificuldade de alguns países em encontrar alternativas ao petróleo proveniente da Rússia. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban disse, desde o início, que não aprovaria sanções sobre a energia.

O ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, acredita que "num par de semanas", a tempo da cimeira extraordinária dedicada ao tema da energia, que está agendada para os dias 30 e 31 de Maio, será alcançado um acordo, que permita desbloquear o impasse.

A presidente da Comissão quer "uma proibição total de importação de todo o petróleo russo, marítimo e por oleoduto, bruto e refinado", admitindo que a "eliminação terá de ser gradual (...) de forma ordenada, para permitir que nós e nossos parceiros garantam rotas alternativas de abastecimento e minimizem o impacto nos mercados globais".

Mostrando compreensão pela "situação de alguns países", o chefe da diplomacia europeia, que esta semana tentou desatar o nó, reconheceu que "alguns Estados-membros enfrentam mais dificuldades porque estão mais dependentes, já que estão cercados e sem litoral, não têm a possibilidade de receber navios petroleiros diretamente, e apenas recebem petróleo através de oleodutos provenientes da Rússia".

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