Dinheiro
20 outubro 2021 às 22h14

Ministro anuncia baixa de preços na luz e mais incentivos para compra de veículos elétricos em 2022

Segredo do contraciclo português é que a maioria da produção elétrica nacional é renovável, vem da água e do vento. Matos Fernandes acredita no crescimento dos biocombustíveis e do hidrogénio. Já a presidente da EDP Comercial considera que temos de acelerar o passo pois a rede de carregamento ainda é 50% inferior à média da UE.

Carla Aguiar e Zulay Costa

Em plena crise energética, com uma escalada sem precedentes do custo da eletricidade e dos combustíveis, o ministro do Ambiente e da Ação Climática surpreendeu ao garantir, esta quarta-feira, que o preço da eletricidade vai baixar mais de 3% em 2022. Não graças a uma súbita mudança de agulhas do Governo, mas sim à produção de energia a partir de fontes renováveis. O próprio admitiu que o anúncio possa causar "estranheza", face às recentes notícias sobre a "escalada de preços da eletricidade nos mercados grossistas europeus", mas desvendeu o segredo: "a maioria da produção elétrica nacional é renovável".

João Matos Fernandes falava na sessão de abertura do Portugal Mobi Summit, em Cascais, considerando que a produção de energia a partir de fontes renováveis é hoje "o melhor seguro contra a alta dos preços na Europa". E explicitou: "É porque temos muita energia produzida a partir da água e do vento e cada vez mais - mesmo que ainda seja pouca - a partir do solo, que conseguimos baixar o seu preço no próximo ano", disse. "Em janeiro, os consumidores do mercado regulado terão uma significativa descida de preço. Segundo a ERSE, entidade reguladora do setor, será de 3,4%", precisou o ministro.

Estas questões assumem uma relevância cada vez mais importante à medida que sabemos que "o futuro da mobilidade é elétrico". Este ano, a venda de veículos parcial ou totalmente movidos a energia elétrica aumentou, até agosto passado, 63% em comparação com o ano anterior. Em setembro, a quota de carros elétricos vendidos em Portugal foi de 25%, revelou.

E o ministro afiança que comprar um carro elétrico "pode ser mais caro para um consumidor, mas compensa porque a fonte de energia é mais barata - e também é mais limpa - e a manutenção é mais barata do que a de um carro a combustão". E justifica com alguns números: em 2021 foram já realizados mais de um milhão de carregamentos de veículos elétricos, que redundaram num consumo de mais de 13 mil megawatts de eletricidade nos mais de 2 mil pontos de carregamentos públicos existentes no país. Isto corresponde a uma "redução da pegada ecológica dos transportes terrestres na ordem das 9,5 mil toneladas de dióxido de carbono".

Portugal tem a ambição de estar na vanguarda da transição energética com metas ambiciosas para 2030, como reduzir reduzir em 40% as emissões de gases com efeito de estufa no setor dos transportes, alcançar uma quota de 47% de energias provenientes de renováveis e conseguir uma integração da energia renovável no setor dos transportes de 20% até 2030 (em 2020 rondou os 10%). É nessa linha que, à margem da cimeira, o ministro acabou também por admitir que o Governo quer aumentar os incentivos à compra de veículos elétricos.

O ministro acredita que, para além da eletrificação da mobilidade a aposta até 2030 passa também pela utilização dos biocombustíveis e pelo hidrogénio, nomeadamente nos transportes de carga. E garantiu que o Fundo Ambiental continuará a apoiar medidas que contribuam para a transição energética no setor.

Mais de 700 autocarros de elevada performance ambiental foram adquiridos através do programa POSEUR. Agora foi "aberto novo aviso de 40 milhões de euros nos fundos que ainda encontramos para territórios não metropolitanos", que permitirão a aquisição de mais 135 autocarros elétricos ou a hidrogénio, disse Matos Fernandes, salientando que Portugal produz este tipo de veículos.
O Plano de Recuperação e Resiliência tem mil milhões de euros que permitirão investimentos na mobilidade, nomeadamente na renovação de linhas do metro em Lisboa e Porto, e em Gaia há propostas de uma nova ponte sobre o rio Douro para metro, bicicletas e uso pedonal.

Ao longo da cimeira de ontem foram variados os exemplos de evolução quer no domínio das tecnologias, como nos hábitos das pessoas e funcionamento das cidades em plena crise climática e pandémica. Num debate dedicado ao hidrogénio na Casa das Histórias - apontado como a tecnologia mais limpa de todas - ficou a saber-se que lá fora, nas ruas de Cascais, circulam já autocarros movidos a hidrogénio que integram o sistema de transportes municipal.

Também a presidente executiva da EDP Comercial fez uma apresentação que espelha a velocidade na mudança de paradigma na mobilidade, usando como exemplos a Tesla e a Uber. "Há dez anos a Tesla surgiu com uma tecnologia disruptiva que ameaçava destronar a indústria automóvel clássica. Hoje é o fabricante mais valioso do mundo", observou Vera Pinto Pereira. Outro caso a que ninguém pode ficar indiferente é o da UBER que, "sem deter um único veículo está hoje avaliada em 100 mil milhões de dólares".

Ao contrário do passado em que o carro era a solução óbvia, hoje há um enorme leque de soluções combinadas de moblidade, desde as bicicletas elétricas às trotinetes e ao carsharing.

Vera Pinto Pereira alertou, contudo, que ainda há um longo caminho a percorrer para atingirmos a descarbonização a que estamos comprometidos, a nível europeu e mundial, tendo em conta que por cada 16 km percorridos os europeus ainda fazem 11 Km em veículo próprio, indicou.

A presidente da EDP Comercial identificou o pacote da União Europeia "Fit for 55", como uma oportunidade ao nível da regulação. Este prevê que se reduzam as emissões em 55% até 2030 e que a Europa se torne o promeiro continente neutro em carbono em 2050.

E embora Portugal seja um dos melhores casos de sucesso na adesão aos veículos elétricos, Vera Pinto Pereira diz que não devemos ficar satisfeitos, mas antes olhar para o exemplo da Noruega, que atingiu em 2020 uma quota de 65% na mobilidade elétrica e espera chegar aos 90% muito em breve.

Ao nível da tecnologia para suportar a rede de mobilidade elétrica, lembrou, no âmbito das novas regras, que os Estados deverão ter nos próximos 4 anos, pelo menos, um ponto de carregamento a cada 60 km, o que significa 3,5 milhões de pontos até 2030 e mais de 16 milhões até 2050.

Nesta matéria, e apesar da grande evolução nos últimos anos, "nós vamos ter de acelerar o passo", disse. Em Portugal temos uma média de 22 veículos por ponto de carregamento, quando a média da União Europeia é é de apenas 11 veículos.

Falando pela EDP, a gestora referiu que a empresa investiu mais de 20 mil milhões de euros em energias renováveis e até 2025 superará os 25 mil milhões de investimento, prevendo duplicar a capacidade de energia solar e eólica até 2025. E ser 100% verde no fim da década.