Milhares de alunos regressam às aulas remotamente a partir de hoje, mas a maior parte vai ter de usar os computadores pessoais e a internet de casa. As famílias terão de esperar ainda mais uns meses pela tarifa social de internet, pelo menos até ao segundo semestre. E menos de metade dos 1,2 milhões de computadores que o governo pretende comprar no âmbito da Escola Digital só começam a chegar já as aulas estão a decorrer. O executivo aprovou a compra de mais 15 mil computadores diretamente no mercado e as operadoras de telecomunicações asseguram ter a rede preparada para garantir o tráfego com aulas remotas..A intenção do governo de avançar com uma tarifa social de internet, garantindo acessibilidade às famílias mais desfavorecidas, foi anunciada em abril, mas até ao momento ainda não foi concretizada. "Estamos a trabalhar no modelo para que possa estar a medida em vigor no segundo semestre", adianta fonte oficial da Secretaria de Estado das Comunicações ao Dinheiro Vivo. Ou seja, só depois de junho e já no terceiro período escolar..O Bloco de Esquerda já apresentou um projeto no Parlamento para a criação de um "desconto temporário nas faturas das telecomunicações para todos os agregados familiares com estudantes do ensino básico e secundário até ao escalão 3 do abono de família enquanto não for implementada uma tarifa social de internet com a mesma abrangência". E para os professores, que fosse "criado com urgência um programa de reembolso de despesas dos docentes do ensino básico e secundário da escola pública com a aquisição de material informático destinado a assegurar aulas em regime não presencial e misto"..O atraso na implementação da tarifa social da internet ganha dimensão num momento em que a pandemia transformou cada lar nacional numa sala de aula, sem que o grosso dos cerca de 1,2 milhões de computadores com acesso à internet previstos no programa Escola Digital, prometidos pelo executivo em julho, tenham ainda chegado a alunos e docentes. Destes, cem mil kits (PC e net) chegaram no primeiro período, com o governo a fechar em dezembro contrato para mais 260 mil - com um custo de 62,5 milhões - e agora, a 4 de fevereiro, um contrato adicional para 75 930 equipamentos, com um custo de 19,36 milhões de euros para a Inforlândia (que soma assim mais um contrato, depois de 17,2 milhões euros, pela aquisição de 67 731 equipamentos)..E, a escassos dias do início das aulas, aprovou no Conselho de Ministros de quinta-feira a compra imediata de 15 mil computadores adicionais: "Considerando a urgência impreterível destas aquisições", pode ler-se no Diário da República, a compra, que irá implicar um gasto de até 4,7 milhões de euros, será por ajuste direto. O procedimento de compra "está já a ser desencadeado pela Secretaria-Geral da Educação e Ciência". Foram ainda abertas quatro linhas de financiamento do PT2020, no valor de 14 milhões de euros, para os municípios adquirirem equipamentos informáticos, "complementando o trabalho de dotação de equipamentos e conectividade no âmbito da Escola Digital.".Desde março que as operadoras têm vindo a reforçar a sua rede para responder ao aumento de tráfego da internet, que explodiu quando a pandemia fechou os portugueses em casa. E voltou a subir agora com o novo regresso a casa. Na Meo, quando comparado "com o final do primeiro trimestre 2020, o tráfego médio aumentou cerca de 20%", adianta fonte oficial. "Para a manutenção plena das melhores condições para o teletrabalho e para o ensino à distância, cujos aumentos de tráfego antecipamos ser, no imediato, da ordem de grandeza de um dígito percentual a partir de segunda-feira, a Altice Portugal está a canalizar todos os esforços para garantir o funcionamento sem falhas das suas redes." A Meo estima que o início da escola remota leve a um aumento de até 9% no tráfego de dados..Desde novembro que na Vodafone se deteta um crescimento de utilização da internet fixa, quando comparado com o primeiro confinamento. "Este crescimento intensificou-se há duas semanas, a partir do dia 22 de janeiro, situando-se agora acima dos 20%", diz a operadora. "Como tem acontecido até aqui, é expectável que a resiliência que as redes Vodafone têm demonstrado desde março de 2020 se mantenha, mesmo com o regresso às aulas online a partir de segunda-feira", acrescenta. Com as aulas remotas, a operadora não antecipa necessariamente "um aumento absoluto de volume de tráfego, mas sim uma alteração de perfil de utilização em termos de faixas horárias"..E o mesmo diz a NOS: "Não se antecipam aumentos significativos com o regresso às aulas, apenas uma ligeira acentuação desta tendência com uma distribuição horária distinta", adianta a operadora. "Desde março de 2020 que a NOS tem vindo a investir no reforço e na expansão das suas redes fixas e móveis, de forma a responder ao aumento de tráfego provocado pelo estado de emergência.".Ana Marcela é jornalista do Dinheiro Vivo