O diretor do jornal mensal Portugal Post, dedicado à comunidade Portuguesa na Alemanha, diz que a chanceler alemã Angela Merkel, que cumpre no domingo 10 anos no poder, "vai ficar na História por se ter imposto no domínio dos homens"..Merkel "vai ficar na História não apenas por ser a primeira mulher chanceler da Alemanha mas também por se ter imposto no domínio dos homens", diz Mário dos Santos, residente na Alemanha desde 1979 e diretor do Portugal Post, publicado em Dortmund, há 23 anos..O jornalista destaca e comenta dez momentos-chave da carreira política de Angela Merkel, 61 anos, a mulher com o mandato mais longo na Europa:.1990: Angela Merkel impõe-se no mundo da política nas primeiras eleições desde a reunificação alemã..Para Mário dos Santos "quando (Merkel) se candidata pela primeira vez às eleições é tratada de forma paternalista e sexista. Ela impõe-se no partido, por entre homens de grande calibre"..2000: Merkel conquista a liderança da União Democrata-Cristã (CDU).."Em 2000 a CDU viveu uma crise que abalou profundamente o partido e que tinha a ver com um escândalo de corrupção, com financiamentos obscuros do partido. Dizia-se que Helmut Kohl estava implicado. É aí que Angela Merkel agarra o partido e se afirma como líder", diz o diretor do 'Portugal Post'..2005: Angela Merkel é eleita chanceler.."A primeira grande vitória (de Angela Merkel) foi quando enfrentou Gerhard Schroeder nas eleições de 2005 e conseguiu ser eleita chanceler. São duas vitórias: o facto de ter enfrentado Schroeder, um político muito popular e o facto de ter se ter imposto no interior do seu partido"..2008: A revista norte-americana "Forbes" indica Angela Merkel como a mulher mais poderosa do mundo.."Antes víamos Merkel como uma rapariga franzina, que não fazia mal a uma mosca. Foi surpreendente ver a sua evolução e firmeza perante situações difíceis. Essa firmeza faz de Merkel, ainda hoje, a líder com mais poder na Europa e no mundo", afirma Mário dos Santos..2009: Debate sobre a candidatura da Turquia à União Europeia.."Mesmo sabendo da importância da posição geoestratégica da Turquia no contexto da defesa da Europa, Merkel nunca aceitou considerar a candidatura da Turquia à entrada na UE. A Alemanha tem uma comunidade turca fortíssima, mas há uma pressão da sociedade alemã, que não vê com bons olhos a Turquia na Europa"..2009: Crise Financeira na UE."Merkel tem uma posição que põe os países do sul contra ela por aquilo que a que chama 'rigor das contas públicas' mas a postura perante a crise grega e portuguesa resulta da pressão da sociedade alemã. Merkel viu-se sem alternativa, para não perder o seu eleitorado"..2011: Conflito com o antigo chanceler alemão Helmut Kohl."Angela Merkel foi sempre considerada a protegida de Helmut Kohl, mas houve uma clivagem e confronto entre os dois no que diz respeito às políticas europeias. Kohl não viu com bons olhos o facto de Merkel enveredar por uma política de 'falta de solidariedade' para com os outros países da UE e de querer uma linha ultraliberal no que diz respeito às políticas económicas e financeiras. Kohl disse que ela podia ser a coveira da ideia de Europa"..2011: O desastre nuclear de Fukushima e a mudança da política energética da Alemanha.."A Alemanha é um país modelo no que diz respeito à defesa do ambiente e ao movimento antinuclear devido a partidos como Os Verdes, que têm votações fortes. Com o acidente nuclear de Fukushima em março de 2011, o debate do encerramento das centrais nucleares na Alemanha ganhou ainda mais força e Merkel aproveitou a oportunidade e avançou, para surpresa de muitos, com a mudança radical de política energética, recusando a energia nuclear"..2014: Conflito na Ucrânia."As clivagens com o Presidente russo (Vladimir) Putin tornam-se ainda mais claras e Merkel tem uma posição que não é muito bem vista por alguns setores da sociedade alemã. O facto de ter incentivado a revolução ucraniana em Kiev acabou por colocar a Europa numa situação difícil"..2015 Crise dos refugiados."Ninguém esperava a posição de abertura que Merkel adotou e isso pode custar-lhe a popularidade que tinha na Alemanha. Foi humanista mas os partidos mais à direita estão a aproveitar o descontentamento de muitos setores da sociedade alemã. Estes movimentos estão a ganhar espaço político na sociedade alemã como por exemplo o populista AfD (Alternativa para a Alemanha). A questão dos refugiados fez o AfD subir para 8% nas intenções de voto..A CDU de Merkel pode perder a sua influência nos setores conservadores da sociedade, que têm muita relutância em aceitar o Islão.