Ronaldinho. Futebol, dívidas, crimes ambientais e detenção no Paraguai

Ex-jogador brasileiro coleciona polémicas. Na semana passada foi detido por uso de documentos falsos. Primeiro delito aconteceu aos 21 anos.
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Com a bola nos pés, Ronaldinho Gaúcho fazia o que queria dos adversários. Uma filosofia que seguiu na vida e após deixar nos relvados. Dono de uma capacidade técnica incrível, o ex-jogador do Barcelona coleciona polémicas e afrontas à justiça brasileira. Na semana passada foi detido no Paraguai, juntamente com o irmão Roberto Assis, que jogou no Sporting (1995-96 e 1997-98) e é o seu empresário, por uso de documentos falsos. Antes já tinha tido problemas com a justiça brasileira. Casou-se com duas mulheres ao mesmo tempo e foi acusado de crimes ambientais e esquemas financeiros em pirâmide.

Formado no Grêmio, rapidamente se percebeu que os dribles iam levá-lo longe. Com 17 anos despertou o interesse do PSG e assinou um pré-acordo às escondidas do clube brasileiro. O imbróglio levou a uma batalha jurídica e o jovem génio ficou sem jogar durante mais de meio ano. A mudança para Paris aconteceu apenas em 2001, ano em que começou o historial de uso de documentos falsos. Nesse ano, então com 21 anos, Ronaldinho foi apanhado a conduzir um carro sem seguro e com uma carta de condução que se provou ser falsa - tinha sido comprada com 400 reais (76,4 euros).

O caso foi apenas um entre muitos outros no Brasil e não beliscou o talento ascendente daquele que viria a ser o melhor jogador do mundo. Em Paris, o então treinador Luis Fernández reclamava das noitadas do jogador, que acabaria por mudar-se para Barcelona. A mudança para a Catalunha acalmou o génio libertino do jogador conhecido pelas noitadas e pelas polirrelações amorosas. Em Camp Nou deu show e chegou ao topo do mundo, apesar de chegar bêbedo a alguns treinos. O talento era demasiado e ajudou a disfarçar os problemas. Pelo Barça ganhou o título da liga espanhola e a Champions, sendo considerado o melhor jogador do mundo em 2004 e 2005.

Depois ainda jogou dois anos no AC Milan antes de regressar a casa. O Brasil ficou louco com o regresso do génio do drible. Ele aproveitou-se disso, jogou em vários tabuleiros e negociou com quatro clubes ao mesmo tempo. Cada um deles estava convencido da contratação, mas ele optou pelo Flamengo. E as polémicas voltaram. Em 2012 levou uma mulher para a concentração de pré-época nomengãoe acabou por deixar o clube. Ronaldinho exigiu as verbas do contrato para sair, mas o Fla pediu o mesmo valor por danos morais e quebra de normas internas.

Livre para assinar por outro clube, mudou-se para Minas Gerais para jogar no At. Mineiro e os problemas foram com ele. Além das queixas dos vizinhos com as festas constantes até de madrugada, o extremo foi obrigado a depor na comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Câmara de Vereadores, onde se concluiu que "houve um erro na prestação de contas" no convénio, que a sua fundação assinou com a prefeitura da capital gaúcha. Em campo as coisas correram bem e liderou o At. Mineiro a um inédito título da Libertadores (2013).

Crime ambiental e cinco euros na conta bancária

Em 2015, ele e o irmão foram acusados e condenados de um crime ambiental pelo Ministério Público Estadual, por construírem ilegalmente um ancoradouro e uma plataforma de pesca numa área protegida no rio Guaíba. Foi obrigado a desfazer as obras e a pagar uma multa milionária de 1,8 milhões de euros... que nunca chegou a liquidar. O caso levou a justiça brasileira a apreender os passaportes de ambos. Durante a investigação, o brasileiro alegou que não tinha dinheiro para pagar e foi pedida a quebra do sigilo bancário do atleta. Foi então que se ficou a saber que, apesar de fazer uma vida de luxo e de ter sido o mais bem pago do mundo do futebol em 2006, ano em que amealhou 23 milhões de euros, Ronaldinho só tinha 24 reais na conta (cerca de cinco euros).

Nesse ano tinha previsto discursar na Web Summit em Lisboa, mas não pôde viajar por não ter passaporte e falhou o evento.

Apesar de ter feito o seu último jogo oficial em 2015, com a camisola do Fluminense, só em 2018 o genial jogador abandonou os relvados e piscou o olho à música e à política. Em março de 2018, filiou-se no PRB - rebatizado de Republicanos em 2019 - com a ideia de se candidatar a senador ou deputado federal nesse ano, mas nunca chegou a avançar. Já no ano passado tornou-se embaixador do turismo a pedido do presidente Jair Bolsonaro, a quem tinha apoiado nas presenciais de 2018. Fez um acordo de seis milhões de reais (1,2 milhões de euros) com o governo federal para, dessa forma, pagar a multa e reaver o passaporte.

Ainda em 2019, um novo escândalo financeiro e um novo acordo, desta vez com a Prefeitura de Porto Alegre para parcelar uma dívida de 7,5 milhões de reais (1,4 milhões de euros) relativa a impostos prediais e taxas urbanas. Ronaldinho tinha 57 imóveis registados e quatro deles chegaram a ser penhorados pelo Tribunal de Justiça de Rio Grande do Sul.

Neste ano começou com o ex-Barcelona a ser alvo de uma ação civil de 300 milhões de reais (57,3 milhões de euros) contra a sua empresa (18kRonaldinho), por suspeita de atuar num esquema de pirâmide financeira. E já na semana passada foi detido no Paraguai por uso de documentos de identificação falsos.

Detido no Paraguai com o irmão

Ronaldinho foi convidado a inaugurar um casino no Paraguai, numa espécie de presença paga, que envolvia algumas cortesias, uma delas a cidadania paraguaia. O campeão do mundo pelo Brasil em 2002 e o irmão foram detidos, na quinta-feira, horas depois de chegarem a Assunção. Ficaram retidos no hotel até se averiguar o caso. Foram ouvidos durante oito horas e libertados depois de admitirem o "erro" e afirmarem que foram "enganados na sua boa-fé", colaborando com a justiça paraguaia e entregando o nome das pessoas que providenciaram os documentos. Só que na sexta-feira (madrugada de sábado em Portugal) Ronaldinho e o irmão voltaram a ser detidos.

Como ainda não eram claros os motivos que levaram os ex-jogadores a aceitar um passaporte de um país que não o seu, o caso voltou a ser analisado pelo Tribunal Penal de Garantias do Paraguai, que numa primeira decisão decretou a liberdade de ambos e depois voltou atrás e deu-lhes ordem de prisão.

Aquele que, para muitos amantes do futebol, podia ter sido o melhor jogador de sempre, não fosse a sua conturbada vida fora de campo, fica agora a aguardar o desenrolar deste processo numa prisão de Assunção.

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