Os cinco casos investigados que envolvem o Benfica
Foi o primeiro caso de alegada corrupção em que o Benfica se viu envolvido. Em outubro de 2015, Bruno de Carvalho, na altura presidente do Sporting, denunciou em direto numa entrevista a um programa da TVI24 ofertas feitas pelo clube da Luz aos árbitros (e também a delegados e observadores) que apitavam os jogos do clube em casa (Luz e Seixal), o famoso kit Eusébio, que consistia na oferta de uma camisola e quatro jantares no restaurante Museu da Cerveja. "Só em jantares, por ano, deve rondar 140 mil euros. Em prendas, deve rondar um quarto de milhão de euros", acusou na altura Bruno de Carvalho. O clube da Luz confirmou as ofertas, mas defendeu que as refeições eram uma simples cortesia e que tinham um plafond limitado de 35 euros.
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) enviou o caso para a Procuradoria-Geral da República e a Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga abriu um processo, ouvindo várias testemunhas (Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira incluídos), decidindo arquivar o caso, que mais tarde teria o mesmo desfecho no Tribunal Arbitral de Desporto e no Conselho de Disciplina da FPF. O caso, contudo, prossegue na justiça civil - em 2016, a Unidade de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária fez buscas no Estádio da Luz e em janeiro, o DIAP decidiu juntar o caso dos vouchers e dos emails no mesmo processo.
A 11 de abril de 2017, Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, começou a revelar no Porto Canal o conteúdo de alegados emails do Benfica. Tudo começou com uma troca de correspondência entre o chefe de segurança do clube e o administrador Domingos Soares Oliveira, a respeito das claques. Mas a bronca rebentou a 6 de junho 2017, quando J. Marques denunciou um alegado esquema de corrupção do Benfica para favorecer árbitros, mostrando em direto alegada correspondência entre Paulo Gonçalves e Nuno Cabral (ex-árbitro e na altura delegado da Liga de Clubes).
O caso chegou ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e foi enviado para o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP). Nesse mesmo mês de junho de 2017, a PJ fez buscas ao estádio da Luz e ainda às casas de Luís Filipe Vieira, Paulo Gonçalves, Nuno Cabral, Pedro Guerra, Ferreira Nunes (ex-responsável pela classificação dos árbitros) e Adão Mendes (ex-árbitro). Paulo Gonçalves foi constituído arguido.
Semanalmente, o diretor de comunicação do FC Porto continuou a revelar alegados emails do Benfica, até que em fevereiro deste ano, o Tribunal da Relação do Porto impediu J. Marques de continuar a fazê-lo. O caso continua a ser investigado e foi anexado ao processo dos vouchers.
Este processo tem como principal arguido o juiz desembargador Rui Rangel, que está a ser investigado por crimes de tráfico de influência. Luís Filipe Vieira é implicado no caso porque alegadamente teria pedido ao juiz que intercedesse num processo fiscal relacionado com uma das suas empresas. Como contrapartida, Rangel teria a promessa de um cargo na futura Universidade do Benfica. Tanto o juiz como presidente do Benfica foram constituídos arguidos no processo, assim como Fernando Tavares, vice-presidente do Benfica.
"Nunca ofereci qualquer cargo no clube a troco de qualquer situação da minha vida pessoal e profissional. Quando sair do Benfica vou mais pobre, não vou mais rico. Não vai aparecer ninguém que defenda mais o Benfica do que eu", afirmou na altura Vieira. Neste caso foram realizadas 33 buscas, das quais 20 domiciliárias, nomeadamente ao Sport Lisboa e Benfica, à casa do presidente Luís Filipe Vieira, às habitações dos dois juízes e a três escritórios de advogados.
É o primeiro caso para já com consequências judiciais. Na última terça-feira, o Ministério Público (MP) acusou dois funcionários judiciais, a SAD do Benfica e um seu colaborador (o assessor jurídico Paulo Gonçalves) de vários crimes, incluindo corrupção, favorecimento pessoal, peculato e falsidade informática.
"Ficou suficientemente indiciado que os arguidos com a qualidade de funcionários de justiça, pelo menos desde março de 2017, acederam a processos-crime pendentes no DIAP [Departamento de Investigação e Ação Penal] de Lisboa e do Porto e em outros tribunais, transmitindo as informações relevantes ao arguido colaborador da SAD [Paulo Gonçalves], fazendo-o de acordo com a solicitação do mesmo e em benefício da mesma sociedade", lia-se na nota do Ministério Público.
O caso e-toupeira veio a público em março deste ano, quando Paulo Gonçalves foi detido, tal como um técnico informático do Instituto de Gestão Financeira de Equipamentos e da Justiça (IGFEJ) - este ficou em prisão preventiva, estando indiciado de 16 crimes: um crime de corrupção passiva, um de favorecimento pessoal, quatro de violação de segredo de Justiça, um crime de falsidade informática e nove crimes de acesso ilegítimo e burla informática. Já o assessor jurídico do Benfica saiu em liberdade, ficando proibido de contactar os outros arguidos neste caso.
De acordo com a Lusa, a SAD do Benfica está acusada de 30 crimes no processo e-toupeira e o assessor jurídico Paulo Gonçalves de 79, segundo a acusação do Ministério Público. O MP acusou a SAD do Benfica de um crime de corrupção ativa, de um crime de oferta ou recebimento indevido de vantagem e de 29 crimes de falsidade informática. O dirigente foi acusado de 79 crimes: um de corrupção ativa, um de oferta ou recebimento indevido de vantagem, seis de violação de segredo de justiça e de 21 crimes de violação de segredo por funcionário, em coautoria com os arguidos Júlio Loureiro e José Silva (ambos funcionários judiciais).
No dia 25 de junho deste ano, a Polícia Judiciária e o Ministério Público do Porto fizeram 24 buscas a quatro clubes: V. Setúbal. Paços de Ferreira, Desportivo das Aves e... ao Benfica. As buscas relacionavam-se com alegada corrupção desportiva, com o Benfica suspeito de ter subornado atletas de outros clubes para vencerem o FC Porto.
Logo no próprio dia, Luís Filipe Vieira deslocou-se à sala de imprensa do clube para se defender. "Estas buscas resultam de mais uma denúncia anónima com origem do Porto e a ser investigada pelo DIAP do Porto. São factos falsos que investigam contratos do Benfica a jogadores. A mim não me incomoda nada que a PJ venha cá", disse o líder benfiquista. O caso continua a ser investigado.